Bimbenet, 2004
A possibilidade de uma antropologia propriamente filosófica se mede, sem dúvida, pela força de interrogação que tal discurso pretende preservar, tanto diante dos enunciados positivos acumulados pelas ciências do humano, quanto diante do estoque de certezas sem perguntas que o humanismo tão frequentemente nos fornece. Uma antropologia se definiria como filosófica quando aceitasse fundamentar todas as suas assertivas no solo — inquietante para todo saber — de um questionamento (…)
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Fenomenologia
Alguns filósofos modernos da Fenomenologia, anteriores e posteriores a Heidegger, referenciados ou não por Heidegger, ou que dialogam com ele.
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Merleau-Ponty, antropologia filosófica? (Bimbenet)
26 de abril, por Cardoso de Castro -
Sabemos o que é o homem? (Patocka)
26 de abril, por Cardoso de CastroPatocka, 1946
Mas será que realmente sabemos o que é o homem? A tese que apresenta o ser como pressuposto da abordagem humana do ente só pode aparecer como um idealismo subjetivo na medida em que se compreende o ser do homem como um conjunto de estados de consciência ou de modo análogo, ou seja, em última instância, como uma coisa — mesmo que esta não seja uma res extensa; a res cogitans ou os atoma cogitationis também são res. Dito isso, se quisermos de fato mostrar como colocar (…) -
A questão do ser (Patocka)
26 de abril, por Cardoso de CastroPatocka, 1946
Heidegger se esforça, nesse sentido, para recolocar a questão do ser. Ele parte da diferença entre ser e ente; o ente é aquilo a que atribuímos o ser; daí decorre que sempre já devemos compreender o ser de alguma maneira sempre que falamos de algo que é. Nesse sentido, o ser é aquilo que está mais próximo de nós, mas essa proximidade justamente nos impede de formular a questão sobre ele. À primeira vista, o ser parece ser o mais evidente: as únicas questões claras e concretas (…) -
Sujeito absoluto? (Patocka)
26 de abril, por Cardoso de CastroPatocka, 1946
Vemos que as consequências da filosofia da intencionalidade (filosofia da relação com um objeto) são decepcionantes. Sem dúvida, a objeção comum de que tal filosofia estaria condenada ao solipsismo é inadequada; em princípio, é possível acessar um "outro eu" dotado de todos os atributos e funções coordenadas do nosso próprio ser, mesmo que nunca possamos ter a intuição original desse outro nem transformar sua antecipação constante em certeza absoluta (como acontece com o (…) -
Ser e sentido (Patocka)
26 de abril, por Cardoso de CastroPatocka, 1946
Vemos, então, que a questão filosófica da relação entre sujeito e objeto assume, em Husserl, uma forma particularmente marcada, e ambos são reconduzidos ao plano fundamental da significação. O que interessa a Husserl é a significação, o sentido, e o ser — qualquer que seja — apenas no plano da significação, como um componente desse nível. Sua filosofia oferece diferentes respostas à questão da relação entre ser e significação em suas diversas fases, mas sempre confrontando (…) -
A reflexão fenomenológica (Patocka)
26 de abril, por Cardoso de CastroPatocka, 1946
Vê-se (e Eugen Fink enfatizou isso bem), que a reflexão fenomenológica não leva à constatação de algo já conhecido, "já dado" e que se entenderia por si só. A intencionalidade e seu ser são algo completamente diferente da objetividade maciçamente dada das coisas. Longe de ser apenas um assunto de reflexão psicológica, a intencionalidade torna-se o lugar onde pode ser elucidada, por meio de uma apreensão reflexiva, a própria dinâmica do sentido das "coisas" de toda espécie. (…) -
Noema e noese (Patocka)
26 de abril, por Cardoso de CastroPatocka, 1946
À luz desse método, fica claro que o discurso habitual que fala da intencionalidade da consciência como "consciência-de", consciência de um objeto, é (segundo a expressão de Eugen Fink) uma "operação de simplificação". Ao refletirmos sobre a "atitude natural", somos sempre levados a estabelecer um paralelo entre grandes unidades de coisas e grandes unidades de vivido, ignorando sua composição interna e sua riqueza para falar de "atos de representação", "atos de julgamento", (…) -
Intencionalidade (Patocka)
26 de abril, por Cardoso de CastroPatocka, 1946
Husserl encontrou, para a análise reflexiva, novos meios: em primeiro lugar, o método da explicação intencional com a ajuda de guias objetivos. Ele adapta especialmente para os fins da filosofia reflexiva o conceito de intencionalidade, reintroduzido na psicologia moderna por Brentano. Em Brentano, a "relação intencional" é um atributo particular de atos psíquicos singulares que, em si mesmos, permanecem como realidades autônomas e não são examinados também como estruturas de (…) -
Redução fenomenológica (Patocka)
26 de abril, por Cardoso de CastroPatocka, 1946
Essa abordagem, pela qual a filosofia se torna uma reflexão radical que submete cada tese, singular ou geral, à sua investigação, examinando assim todos os pressupostos, tanto implícitos quanto explícitos, de todo o nosso conhecimento, é chamada por Husserl de redução fenomenológica. No final de seu percurso, ela se concentrará, em sua visão, em todo o problema filosófico. Em certo sentido, ela apenas leva até o fim o programa da filosofia como análise dos significados.
A (…) -
A questão socrática: o que é o bem? (Patocka)
26 de abril, por Cardoso de CastroPatocka, 1946
[…] Se Sócrates está na origem da questão do bem, ele não inventou essa questão como se faz com a maioria das questões teóricas: buscando algo que ninguém teria percebido até então, algo cuja pergunta não tem outro sentido senão preparar uma resposta, de modo que quanto mais rápido ela der lugar a essa resposta, melhor. Quando um cientista moderno pergunta por que exatamente não se pode observar o movimento absoluto, qual é a penetração de uma radiação cósmica ou a causa (…)