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A reflexão fenomenológica (Patocka)

sábado 26 de abril de 2025, por Cardoso de Castro

Patocka  , 1946

Vê-se (e Eugen Fink   enfatizou isso bem), que a reflexão fenomenológica não leva à constatação de algo já conhecido, "já dado" e que se entenderia por si só. A intencionalidade e seu ser são algo completamente diferente da objetividade maciçamente dada das coisas. Longe de ser apenas um assunto de reflexão psicológica, a intencionalidade torna-se o lugar onde pode ser elucidada, por meio de uma apreensão reflexiva, a própria dinâmica do sentido das "coisas" de toda espécie. Diferente de outros domínios do ser, é por meio dela que adquirimos um meio que corresponde à verdade universal, ou seja, à revelação universal de tudo o que é; e isso não ocorre por uma mera adição extrínseca, que deixaria sem resposta a questão do significado e, com ela, a da verdade, mas sim por força da natureza interna do próprio "ser" intencional.

A filosofia de Husserl   pode ser entendida como uma luta cada vez mais aprofundada contra o psicologismo, em prol da crescente universalidade da filosofia do significado e do sentido. Husserl   percebe com clareza que a psicologia pode, no máximo, identificar as condições funcionais do processo psíquico, mas que todos os seus "mecanismos" e os da fisiologia são incapazes de explicar seu funcionamento. Em vez de ajudar a revelar o sentido interno dos vividos, essas estruturas e modelos grosseiros acabam por encobri-lo. Assim, por exemplo, o fato de que as coisas e os processos naturais, fisiológicos e também psíquicos existem no tempo não pode, em última instância, explicar minha experiência da consciência íntima do tempo. A geometria projetiva pode "esclarecer" alguns traços gerais da percepção visual, assim como a integridade da dinâmica nervosa fisiológica "explica" a constância das formas, cores etc., em condições variáveis; mas quem não percebe que essas "explicações" são feitas a posteriori e não esclarecem a essência da percepção e seu funcionamento vivo, no qual a perspectiva, a constância, a estrutura da figura e do fundo, a zonalidade etc., são apenas elementos singulares dentro da função viva integral, que só pode ser compreendida por meio da análise do vivido? Somente essa análise nos revelará o que é a visão, enquanto a explicação psicológica, com seus mecanismos, apenas conseguirá inserir funcionalmente certos traços típicos nos sistemas causais da natureza objetiva.