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Dastur (FDHP) – o ser do homem
FDHP FDHP DASTUR, Françoise. Heidegger et la pensée à venir. Paris: J. Vrin, 2011.
Portanto, para tentar delimitar o ser do homem, recorrer à poesia se mostrava necessário. É significativo que seja novamente para determinar quem é o homem que Heidegger recorra, na Introdução à Metafísica, ao primeiro coro da Antígona de Sófocles
Sophokles
Sófocles
Sophocles
. Um pouco antes, uma primeira referência a Sófocles
Sophokles
Sófocles
Sophocles
concernia não Antígona, mas Édipo-Rei, que Heidegger considera apresentar a mais pura unidade e antagonismo entre ser e aparência, devendo Édipo ser compreendido como a própria figura do Dasein grego, enquanto aquele que se aventura mais longe naquilo que constitui sua paixão fundamental: a paixão pelo combate pelo próprio ser (GA40
GA40
GA40PT
GA40EN
GA40FR
GA40ES
Einführung in die Metaphysik (Sommersemester 1935), ed. Petra Jaeger, 1983.
:114; 118). Heidegger menciona aqui o nome de Karl Reinhardt, já citado em Ser e Tempo
GA2
Sein und Zeit
SZ
SuZ
S.u.Z.
Être et temps
Ser e Tempo
Being and Time
Ser y Tiempo
EtreTemps
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STFC
BTMR
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ETJA
ETEM
Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
a propósito de sua interpretação do poema de Parmênides
Parmenides
Parménide
Parmênides
H questiona em direção a Parmênides: como ouvir com uma orelha grega este verbo "ser"? (LDMH)
, a quem se deve ainda uma interpretação de Édipo-Rei como "tragédia da aparência" que Heidegger qualifica aqui de "grandiosa" (115; 119). Mas é sobretudo a Hölderlin
Hölderlin
FRIEDRICH HÖLDERLIN (1770-1843). La poesía de Holderlin está sustentada por el destino y la determinación poética de poetizar propiamente la esencia de la poesía. Para nosotros, Holderlin es en sentido eminente el poeta del poeta. (GA39 p. 32)
que ele remete aqui, àquele poema tardio que diz "O rei Édipo tem talvez um olho a mais", Hölderlin
Hölderlin
FRIEDRICH HÖLDERLIN (1770-1843). La poesía de Holderlin está sustentada por el destino y la determinación poética de poetizar propiamente la esencia de la poesía. Para nosotros, Holderlin es en sentido eminente el poeta del poeta. (GA39 p. 32)
cujas traduções de Sófocles
Sophokles
Sófocles
Sophocles
e as Observações que as acompanham Heidegger sem dúvida leu com atenção, embora só lhes faça alusão explícita no terceiro curso que dedica a outro hino de Hölderlin
Hölderlin
FRIEDRICH HÖLDERLIN (1770-1843). La poesía de Holderlin está sustentada por el destino y la determinación poética de poetizar propiamente la esencia de la poesía. Para nosotros, Holderlin es en sentido eminente el poeta del poeta. (GA39 p. 32)
, "Der Ister", em 1942.
Já naquilo que chama "o poder do dizer poético" (115; 119) — o de Píndaro
Pindar
Píndaro
no que concerne "a força nominadora" da palavra phusis (108; 112), o do último coro de Édipo-Rei quanto à da doxa (115-116; 119-120) — Heidegger buscava esclarecer a distinção entre ser e aparência. É igualmente no primeiro coro da Antígona de Sófocles
Sophokles
Sófocles
Sophocles
que ele encontra "um esboço poético do ser do homem" suscetível de nos ajudar a compreender a determinação pensante deste que é obra de Parmênides
Parmenides
Parménide
Parmênides
H questiona em direção a Parmênides: como ouvir com uma orelha grega este verbo "ser"? (LDMH)
(155; 160).
De modo ainda mais claro que em Ser e Tempo
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Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
, aparece aqui que não é possível dar do ser do homem uma "definição erudita", pois o que é o homem, precisa Heidegger, só aprendemos através da explicitação e do combate com o ente no qual ele entra e da fundação poética que dá do ser do ente (153; 158). Com efeito, não se pode definir o homem de modo científico, segundo seu gênero e diferença específica, mas unicamente de modo filosófico, a partir da relação que mantém com o ser do ente. Ora, é precisamente o que fazem os pré-socráticos, cujo pensamento ainda é poético. É particularmente no Poema de Parmênides
Parmenides
Parménide
Parmênides
H questiona em direção a Parmênides: como ouvir com uma orelha grega este verbo "ser"? (LDMH)
, onde ressoa a famosa afirmação de que "ser e pensar são o mesmo", ou seja, co-pertecem, que Heidegger descobre uma determinação do ser do homem a partir de sua pertença ao ser. O que aparece claramente aqui, pelo fato de o pensar não ser uma posse do homem mas antes aquilo que o possui, é o que Heidegger, do começo ao fim de sua obra, não cessou de afirmar: que a questão "quem é o homem?" só pode ser posta através da questão do ser (152).
Trata-se portanto de interrogar essa forma de poesia pensante na qual o Dasein dos gregos verdadeiramente se instaurou: a tragédia (153; 158). É o que conduz Heidegger a engajar-se numa interpretação detalhada do primeiro coro (versos 332-374) da Antígona de Sófocles
Sophokles
Sófocles
Sophocles
, que se pode dizer estar inteiramente centrada na palavra deinon, que Heidegger traduz desde o início por "unheimlich", palavra que aparecia várias vezes em Ser e Tempo
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Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
sob a forma do substantivo "Unheimlichkeit" e que os tradutores traduziram por "desenraizamento" (Boehm e Waehlens), "estranheza" (Vezin
Vezin
François Vezin
VEZIN, François (1937)
), ou mesmo "estranh(eidad)e" (Martineau
Martineau
Emmanuel Martineau
EMMANUEL MARTINEAU (1946)
). Ora, a palavra deinos tem em grego o duplo sentido daquilo que inspira temor, sendo por consequência maléfico ou funesto, e daquilo que impressiona a imaginação e provoca espanto, sendo por consequência extraordinário. Isso explica que outros tradutores de Sófocles
Sophokles
Sófocles
Sophocles
tenham podido traduzir esse termo por "maravilhoso", como é o caso de Robert Pignarre que traduz assim os dois primeiros versos: "Entre tantas maravilhas do mundo, a grande maravilha, é o homem". Hans Jonas
Hans Jonas
JONAS, Hans
, que também se apoia nesse coro em O Princípio Responsabilidade, o traduz por Ungeheuer, termo que tem igualmente o duplo sentido de monstruoso e prodigioso e ao qual Heidegger recorrerá na Carta sobre o Humanismo para traduzir o fragmento de Heráclito
Heraklit
Héraclite
Heráclito
Heraclitus
ethos anthropô daimôn, onde o compreende no sentido do não familiar, do extraordinário. É também a tradução que propõe Hölderlin
Hölderlin
FRIEDRICH HÖLDERLIN (1770-1843). La poesía de Holderlin está sustentada por el destino y la determinación poética de poetizar propiamente la esencia de la poesía. Para nosotros, Holderlin es en sentido eminente el poeta del poeta. (GA39 p. 32)
, como lembrará Heidegger em seu curso de 1942.
Não há dúvida de que seja a ideia de temor (em grego deos) que o termo deinos exprime fundamentalmente, enquanto em sua tradução para o alemão por Unheimlich ou Ungeheuer, é antes a de estranheza que é posta em evidência. O radical de Unheimlich é de fato a palavra Heim, que tem o sentido de "lar", "casa", da qual deriva o intraduzível Heimat, que designa o país natal, o lugar de onde se é originário e que se habita. Ora, Heidegger, previamente a seu curso de 1935, pôs essencialmente em relação, em Ser e Tempo
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Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
, essa experiência da Unheimlichkeit que é a angústia e o ser próprio do homem, sendo portanto dessa análise da angústia que devemos primeiramente recordar os grandes traços.
O que Heidegger de fato destaca em Ser e Tempo
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Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
é que é a disposição, a Befindlichkeit — o que os primeiros tradutores da obra haviam nomeado tão justamente o "sentimento da situação" — que constitui "o modo existencial fundamental no qual o Dasein, o ser-aí, é seu ’aí’". A disposição, longe de constituir apenas o acompanhamento "afetivo" de um ver ou de um fazer, é ao contrário aquilo por que descobrimos primariamente o mundo. E a angústia é essa disposição singular onde aquilo por que se angustia, a saber, o ser no mundo como tal, é também aquilo diante do que se angustia. A angústia, contrariamente ao medo, aparece como indeterminada, sem objeto atribuível, pois "o que angustia na angústia é o mundo como tal". O que o ser-aí rompe na angústia é com a familiaridade que caracteriza o ser-no-mundo cotidiano. É esse vínculo com o mundo que sofre uma modificação: o ser-em, que na cotidianidade tem o sentido de um habitar, adquire a modalidade existencial do não-em-casa (Un-zuhause), o que implica que a experiência do não estar em casa, da "estranheza" (Unheimlichkeit), é ainda uma maneira de ter uma relação essencial com o mundo. Esse modo de ser-no-mundo sob a modalidade da estranheza é contudo, do ponto de vista existencial e ontológico, "o fenômeno mais originário" a partir do qual pode haver algo como um ser-no-mundo sob a modalidade da familiaridade. A fuga que caracteriza o que Heidegger nomeia a Verfallenheit, o ser-decadente, é portanto fuga para a familiaridade diante da estranheza do ser-aí enquanto precisamente é lançado como aí no mundo.
Observemos portanto que, já em 1927, Heidegger vê na familiaridade um modo da estranheza (da Unheimlichkeit) fundamental e originária do Dasein, do ser-aí, o que implica que este último nunca encontra sua verdadeira Heimat, seu verdadeiro "lugar natal", senão no não-estar em casa. Ora, é a mesma temática, a da Unheimlichkeit, da estranheza e do não estar em casa do ser-aí no que tem de próprio, que Heidegger desenvolve não apenas em sua aula inaugural de 1929, sob o título de Que é Metafísica?, onde a análise da angústia é aprofundada, mas também na Introdução à Metafísica de 1935, no momento mesmo em que Heidegger começa a ver na Heimatlosigkeit, a ausência de lugar natal, como escreverá em 1946 a Jean Beaufret
Beaufret
Jean Beaufret
JEAN BEAUFRET (1907-1982)
, um "destino mundial", o de uma modernidade que atingiu no mais profundo o "esquecimento do ser".
É de fato nessa perspectiva — a da questão crucial de saber se o ser é apenas uma palavra e seu significado um vapor, como pretende Nietzsche
Nietzsche
Friedrich Nietzsche
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
em O Crepúsculo dos Ídolos (39; 44), ou ao contrário "o destino espiritual do Ocidente" (40; 46) — que se deve situar a interpretação, articulada em três percursos diferentes, que Heidegger empreende do primeiro coro da Antígona de Sófocles
Sophokles
Sófocles
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