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Caron (PEOS:808-809) – mundo - si - eu
sexta-feira 13 de junho de 2025, por
Somos no mundo, logo habitamos em uma região que nos torna manifesto o mundo junto ao qual podemos ser. Há duas significações do conceito de mundo em Heidegger: por um lado o mundo que mundaniza, e por outro lado o mundo que é mundanizado por esta mundanização. É porque estamos em ligação fundamental com o se-produzir do mundo no primeiro sentido, é porque nós nos mantemos neste se-produzir e participamos de seu desdobramento, que os produtos, o mundo no segundo sentido, podem aparecer ou ser confeccionados pela atividade técnica do Dasein — a técnica, como já o evocamos, sendo um modo do desvelamento. Logo há o mundo e o mundo ambiente. Esta diferença recobre aquela do si mesmo e do mim mesmo: o si mesmo está aberto ao fenômeno do mundo, ele se mantém nesta mundanização, e este manter-se em in-stância na manifestação pura lhe permite ver se manifestar o que a manifestação manifesta — o ente, e ele mesmo como ente, seja em sua face ôntica, quer dizer como eu — assim como a manifestação ela mesma — o ser —, a manifestação manifestando seu ato mesmo de manifestação. Logo o si mesmo estando aberto ao fenômeno do mundo, isso permite então a um mundo de aparecer e como a manifestação se manifesta, ao aparecer ele mesmo do aparecer (é a manifestação ao Dasein da mundanização como tal), em seguida ao si mesmo de se compreender no modelo do ente que apareceu, quer dizer como (um) ente tomado nele, como eu-sujeito. Neste último caso, o si mesmo desconhece que ele não é um ente intramundano, mas certamente ser-em-o-mundo. (…)
O si mesmo acaba por se confundir com o mundo contingente que abriu, sem se lembrar que ele precisamente o abriu por seu próprio pertencimento ao mundo como mundanização. Uma significação mais fundamental da expressão In-der-Welt-sein ainda é possível. O "in" significa certamente junto de um mundo, e não "contido em" este mundo ao qual o si mesmo aberto ao ser há de entrar em presença; este "junto de" não é todavia ele mesmo possível senão porque o "in" possui uma significação de inclusão, mas a um nível onde o par continente/conteúdo é superado, a um nível ontológico mais profundo: é preciso ser em ou em instância em o produzir-se da mundanização, para que junto-de possa ser possível, em seguida para que esta relação se torne confusão daquele que é relação a… no junto-de… e disto que é aberto pela relação. Assim, o in (em-o) ontológico permite um in (junto-de) ôntico-ontológico, que torna possível um in (em-meio-de) ôntico.
Logo temos três níveis: 1) um nível ontológico: o homem se mantém na mundanização, 2) um nível ôntico-onto-lógico: ele é em o mundo, ele estabelece uma relação com o mundo que lhe aparece enquanto tal, enquanto mundanizado (primeiro nível) e a mundanização do mundanizado (segundo nível), em seguida não mais evolui senão em um ambiente (Umwelt) de entes. Em outros termos: 1) o homem se mantém no ser, 2) ele é em relação ao ente enquanto tal, quer dizer o ente em seu ser e considerado sobre o fundo do ser, 3) ele é ente entre os entes. O eu, em relação com o in ôntico, não é possível senão como versão empobrecida de um in ontológico, depositário da instancialidade (Inständigkeit) no ser.