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The Glance of an Eye
McNeill (1999) – Introdução: De um antigo desejo
Heidegger, Aristotle, and the Ends of Theory
Introdução: Do desejo antigo e da primazia da visão
- A célebre abertura da Metafisica de Aristoteles
Aristoteles
Aristote
Aristóteles
Aristotle Para Heidegger, Aristóteles é com efeito toda a filosofia, por esta razão passou sua vida a situar, demarcar, mensurar, em resumo questionar em sua dimensão mesma de lugar, este lugar comum a toda humanidade. estabelece que todos os seres humanos, por natureza, desejam saber, uma proposição que Martin Heidegger, em Ser e Tempo GA2
Sein und Zeit
SZ
SuZ
S.u.Z.
Être et temps
Ser e Tempo
Being and Time
Ser y Tiempo
EtreTemps
STMS
STFC
BTMR
STJR
BTJS
ETFV
STJG
ETJA
ETEM Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972 , traduz de maneira não ortodoxa como o cuidado com o ver sendo essencial ao ser do homem; tal tradução, embora peculiar, alinha-se etimologicamente ao vincular o termo grego para saber, eidenai, à sua raiz visual associada a eidos, a forma visível de algo. - Aristoteles
Aristoteles
Aristote
Aristóteles
Aristotle Para Heidegger, Aristóteles é com efeito toda a filosofia, por esta razão passou sua vida a situar, demarcar, mensurar, em resumo questionar em sua dimensão mesma de lugar, este lugar comum a toda humanidade. prossegue identificando a tendência humana de preferir a visão, horan, sobre todos os outros sentidos, independentemente da utilidade prática para a ação ou prattein, pois a visão é o sentido que melhor propicia o conhecimento e revela as distinções entre as coisas; todavia, este ver não se refere à mera percepção sensorial ou aisthesis, mas aponta para um desejo de saber em um sentido superior que, nestes parágrafos iniciais, ainda não se encontra diferenciado nas formas de virtude intelectual como techne, episteme, phronesis, sophia e nous. - Ao interpretar o termo grego oregontai — derivado de orexis e usualmente traduzido como desejo — através do conceito de Sorge ou cuidado, Heidegger enfatiza que o Dasein não está apenas junto às coisas do mundo, mas é essencialmente futuridade, estendendo-se para além de si mesmo; neste contexto, o ver do Dasein constitui fundamentalmente um prever, antecipando em seu próprio ser aquilo que ainda está por vir, em consonância com o significado literal de orexis como um estender-se em direção a algo.
- A definição heideggeriana de que saber significa ter visto, ou Wissen heisst: gesehen haben, parece à primeira vista concordar com o modelo tradicional platônico-aristotélico de conhecimento como uma visão prévia, mas a inserção dessa discussão na análise da curiosidade, ou Neugier, sugere uma crítica à tradição filosófica ocidental que, desde os gregos até Hegel
Hegel
Georg Wilhelm Friedrich Hegel Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) , privilegiou a visão; Heidegger nota que tal primazia já fora reconhecida por Agostinho Augustin
Agostinho
Augustine AURÉLIO AGOSTINHO DE HIPONA (354-430). Em Agostinho, H. encontra um respondente a suas preocupações relativas à existência, ou melhor, à ancoragem da reflexão filosófica na dimensão da existência como do mundo concreto no seio do qual o ser humano é levado a desdobrar seu ser, a viver. (LDMH) ao discutir a concupiscentia oculorum, ou o desejo dos olhos. - Existe uma tensão inerente na relação entre a filosofia e o espanto, ou thaumazein, pois, se Aristoteles
Aristoteles
Aristote
Aristóteles
Aristotle Para Heidegger, Aristóteles é com efeito toda a filosofia, por esta razão passou sua vida a situar, demarcar, mensurar, em resumo questionar em sua dimensão mesma de lugar, este lugar comum a toda humanidade. afirma que os homens começaram a filosofar devido ao espanto para escapar da ignorância, ou agnoein, questiona-se se a superação da ignorância pela filosofia não acarretaria necessariamente o desaparecimento do thaumazein originário, sugerindo que talvez exista uma contemplação pré-filosófica dos entes mais fundamental do que a theoria desenvolvida pelos filósofos.
As três concepções do desejo de ver
- Pode-se distinguir uma estrutura tripartite no conceito de desejo de ver, começando pela curiosidade cotidiana, que se manifesta como um desejo de ver não restrito aos olhos físicos, mas como uma orientação geral para o domínio sensível em busca do novo; esta curiosidade, implicada no termo alemão Neugier, não busca o conhecimento para compreender a verdade, mas procura apenas ter visto, caracterizando-se por uma fuga diante do próprio ter-sido do Dasein e de sua mortalidade, evitando o momento de visão ou Augenblick.
- A segunda concepção refere-se ao desejo filosófico de ver, tal como representado na história da ontologia, que, embora busque ver de maneira não sensorial para alcançar a verdade e permanecer na presença do objeto, pode ser interpretada como uma repetição ou reflexo da tendência cotidiana; com o surgimento deste entendimento, a sede do conhecimento é localizada no olho da alma, ou omma tes psyches, conforme referido por Platão
Platon
Plato
Platão
Platón O pensamento de Heidegger é um diálogo a todo instante com aquele de Platão. Presente em todos os escritos de Heidegger desde Ser e Tempo, Platão é o pivô a partir do qual o pensamento de Heidegger se engaja prospectivamente a entrar em correspondência com outros Matinais. (LDMH) e Aristoteles Aristoteles
Aristote
Aristóteles
Aristotle Para Heidegger, Aristóteles é com efeito toda a filosofia, por esta razão passou sua vida a situar, demarcar, mensurar, em resumo questionar em sua dimensão mesma de lugar, este lugar comum a toda humanidade. . - Heidegger esboça a gênese do conhecimento filosófico observando que, quando o envolvimento cotidiano e a circunspeção, ou Umsicht, são interrompidos, a visão torna-se livre para se deter junto às coisas, encontrando-as meramente em sua aparência exterior ou Aussehen; contudo, essa libertação inicial da visão não constitui ainda a curiosidade plena, que é caracterizada por um não se deter e pela dispersão ou Zerstreuung, nem o desejo filosófico desenvolvido, mas serve como ponto de partida onde a aparência exterior excita o desejo.
- O conhecimento cognitivo ou teórico surge, segundo a interpretação de Heidegger e Aristoteles
Aristoteles
Aristote
Aristóteles
Aristotle Para Heidegger, Aristóteles é com efeito toda a filosofia, por esta razão passou sua vida a situar, demarcar, mensurar, em resumo questionar em sua dimensão mesma de lugar, este lugar comum a toda humanidade. , de uma deficiência no envolvimento prático com as coisas, onde o abster-se da produção e da manipulação permite um mero deter-se junto aos entes, captando-os em sua pura aparência exterior ou eidos; esse olhar explícito, ou Hinsehen, assume de antemão um aspecto ou Gesichtspunkt do ente, estabelecendo-se como um modo autônomo de estar junto às coisas que pode evoluir para a ciência.
A tecnologia, a techne e a metafísica da presença
- A transformação do conhecimento filosófico em ciência e, subsequentemente, em tecnologia, domina a existência contemporânea, impondo um entendimento restritivo do ser como uma configuração de presença; Heidegger argumenta que isso decorre de uma interpretação redutora de techne desde o início da filosofia, visualizada primariamente em termos de atividade produtiva ou artesanato, uma ascensão impulsionada por necessidades políticas, como documentado na Republica de Platão
Platon
Plato
Platão
Platón O pensamento de Heidegger é um diálogo a todo instante com aquele de Platão. Presente em todos os escritos de Heidegger desde Ser e Tempo, Platão é o pivô a partir do qual o pensamento de Heidegger se engaja prospectivamente a entrar em correspondência com outros Matinais. (LDMH) . - O modelo de conhecimento filosófico fundado por Platão
Platon
Plato
Platão
Platón O pensamento de Heidegger é um diálogo a todo instante com aquele de Platão. Presente em todos os escritos de Heidegger desde Ser e Tempo, Platão é o pivô a partir do qual o pensamento de Heidegger se engaja prospectivamente a entrar em correspondência com outros Matinais. (LDMH) e Aristoteles Aristoteles
Aristote
Aristóteles
Aristotle Para Heidegger, Aristóteles é com efeito toda a filosofia, por esta razão passou sua vida a situar, demarcar, mensurar, em resumo questionar em sua dimensão mesma de lugar, este lugar comum a toda humanidade. baseia-se na visão do eidos não sensível, exemplificado pela forma que o artesão vislumbra antecipadamente antes de produzir um objeto; este eidos é comum, universal, katholou, constante e a causa, aition, do produto, constituindo a essência ou ousia que determina o que a coisa era antes de sua atualidade, o to ti en einai. - A visão tornou-se o modo privilegiado de acesso às coisas porque, segundo Heidegger, somente a visão garante a simultaneidade do que está presente e do que foi, permitindo apreender uma constância relativa de presença, ou parousia, em meio ao fluxo das coisas; diferentemente dos outros sentidos que operam sequencialmente, o ato de ver, horasis, é intrinsecamente completo e perfeito, teleia, em qualquer momento de sua duração, tornando-se o modelo exemplar para o conhecimento como apreensão de entes na sua não-ocultação.
- Para que a visão constitua um conhecimento genuíno ou episteme, ela deve permanecer na presença do que vê, diferindo da curiosidade que deseja apenas ter visto para passar adiante; o desejo filosófico é, portanto, um desejo de ter visto, eidenai, mas que se detém na presença de sua visão não sensível, cumprindo a determinação grega da vida teorética, ou bios theoretikos.
O saber como ter visto e a poiesis
- A terceira concepção de visão refere-se à definição de conhecimento apresentada por Heidegger em A Origem da Obra de Arte, onde saber significa ter visto, não no sentido de percepção sensorial ou de visão de ideias não sensíveis, mas vinculado a uma compreensão mais ampla de techne; aqui, techne é entendida não como a atividade de fazer ou manufaturar de um sujeito, mas como um trazer à tona, Hervorbringen, que traz o presente para fora da ocultação e para a não-ocultação de sua aparência.
- Neste contexto, o artista não é um technites por ser um artesão, mas porque o seu produzir é um trazer à frente que responde a um deixar vir, permitindo que os entes venham à presença em sua aparência; esse saber como ter visto envolve uma preservação da obra e uma abertura para o ser como não-ocultação, assumindo uma postura dentro do extraordinário, ou das Ungeheure, abrindo-se para uma alteridade imprevista na tradição filosófica.
Conclusão: O destino da filosofia e o thaumazein
- Retornando à relação entre thaumazein e curiosidade, Heidegger adverte em seus cursos de 1937/1938 que derivar a filosofia da curiosidade é uma determinação fraca, pois o thaumazein envolve um espanto fundamental diante do prevalecer dos entes; no entanto, esse espanto corre o risco de autodestruição quando se transforma em uma avidez, Gier, por conhecimento calculativo, subordinando a filosofia a fins práticos ou políticos, como na paideia platônica.
- À medida que a apreensão dos entes se desdobra em techne e as ideias se tornam a medida das coisas, o conhecimento torna-se uma familiaridade com essas ideias exigindo conformidade constante; esse processo culmina na história da metafísica, da ciência e da tecnologia ocidentais, onde a filosofia, tendo cumprido seu destino e sido substituída por suas descendentes, torna-se ela própria uma curiosidade, uma Kuriositat, marginalizada e destituída de poder.
- O sucesso da ciência e da tecnologia representa o fim legítimo e a conclusão da filosofia, um processo que ocorre simultaneamente à perda ou oclusão da essência originária da verdade como aletheia ou não-ocultação; Heidegger propõe rastrear as mutações desse desejo de ver, passando pela resposta filosófica da theoria, sua transformação na ciência moderna, a intimação do fim no pensamento de Nietzsche
Nietzsche
Friedrich Nietzsche FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900) sobre o eterno retorno, e finalmente, um retorno ao início grego para compreender o estabelecimento da theoria.
Ver online : William McNeill
MCNEILL, William. The Glance of the Eye. Heidegger, Aristotle, and the Ends of Theory. New York: SUNY, 1999.