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Benoist (JBBS) – Problema da percepção
JBBS JBBS Jocelyn Benoist. Le Bruit du sensible. Paris: Éditions du Cerf, 2013
Um problema ocupa um lugar central na filosofia da mente contemporânea: o problema da percepção.
Sem dúvida, certa filosofia nos acostumou tanto a ele que já nem o notamos, mas há aí, em si mesmo, algo de insólito. Pois por que a percepção constituiria um problema tão grande? Em certo sentido, nada parece menos problemático que a percepção. Basta abrir os olhos e percebo. E se os fecho, continuo a perceber – não mais a mesma coisa, mas ainda se trata de percepção.
A filosofia, no entanto, em geral, só tem os problemas que ela mesma cria. Que problema terá ela criado sob o título de "problema da percepção"?
Parece que este se apresenta como um caso particular daquele, geral, colocado pela epistemologia moderna: o do "acesso" da mente ao mundo. Pergunta-se como a mente poderia entrar em relação com coisas de modo que elas tenham um lugar identificável na ordem de um mundo, de modo que sejam "objetos". Kant Kant Emmanuel Kant (Immanuel en allemand), 1724-1804, é um dos autores de predileção de H., um daqueles do qual mais falou. deu sua forma clássica a essa questão, segundo a qual seria a da relação da "quilo que em nós se chama representação com um objeto". Nesse contexto teórico, a percepção é abordada como uma forma de acesso, e a questão que lhe é colocada é saber como ela pode fornecer esse acesso.
O ponto importante é então precisamente que o acesso em questão é acesso a objetos como tais. Seguindo o exemplo de Frege, é o morango que percebo à beira do caminho se estou passeando no campo, e não, por exemplo, simples sensações indeterminadas no sentido de que não se saberia do que elas são sensações. A percepção é, como se diz, percepção "do próprio objeto".
Certa filosofia quer considerar esse fato como muito enigmático. O que permite à percepção qualificar o percebido dessa maneira, fazer com que ele apareça como um objeto, pergunta ela? A única resposta que pode encontrar, kantiana em seu espírito, se não em sua letra, é que o pensamento deve intervir aqui. O que determina o objeto da percepção – e lhe permite, portanto, ser um objeto – é, necessariamente, um pensamento. Se vejo o morango – e não uma vaga sensação daquilo que não identificaria exatamente como tal – é porque penso que é um morango. É basicamente o que diz Frege.
Tal ideia desperta um certo tipo de resistência imediata: ela choca o sentimento que temos da originalidade e da originariedade da percepção em relação a qualquer forma de pensamento. Originalidade: é muito difícil negar a especificidade daquilo que chamamos "percepção", em relação ao pensamento. Ver um morango e pensar que há um morango, certamente não é o mesmo tipo de experiência. Originariedade: realmente não parece que seja necessário pensar que há um morango para ver um, e que algum pensamento desse tipo esteja envolvido, inclusive de forma subjacente, na experiência que consiste em ver o morango. A percepção, salvo casos especiais (e há alguns, certamente), não parece, como se diz, "depender do pensamento".
Mas então, como é possível que ela seja, que ela permaneça percepção de objetos? Tal é o problema, pós-fregeano, no qual se engajou toda uma vertente da filosofia da mente contemporânea, e o problema que essa filosofia chama de "problema da percepção".
Antes de nos debruçarmos sobre a resposta proposta a essa questão por certa tradição filosófica – a fenomenologia –, é importante destacar mais uma vez seu caráter, por assim dizer, fabricado. Há, no fim das contas, algo muito estranho em perguntar como a percepção pode ter acesso a seu objeto, como se houvesse aí um problema que ela devesse resolver – e tal que, se não o resolve pela via dos conceitos, a solução é decididamente enigmática –, pois a percepção não é justamente aquilo para o qual esse problema está sempre já resolvido, ou seja, também aquilo para o qual não faz sentido colocá-lo?
Na realidade, pode-se antes perguntar se a questão do acesso, tal como percorre a filosofia moderna (isto é, aquela que separou a mente do mundo), não supõe sempre a percepção já dada como forma inquestionável de acesso. Uma forma de acesso tão evidente que nem faz mais sentido chamá-la de "acesso", pois não há nenhum passo a ser dado. Segundo tal inversão de perspectiva, seria então porque já estamos, e de qualquer forma, no meio das coisas – aquilo que se chama "percepção" – que o problema do acesso (para os pensamentos, não para as percepções) poderia se colocar, e não o contrário.
Desse ponto de vista, ver-se-á que há uma verdadeira ambiguidade na lição da fenomenologia sobre a percepção: ela consistiria em uma certa solução, original, daquilo que chamamos de "problema", ou em sua dissolução pura e simples, em uma tomada de consciência mais originária do que é perceber?
À primeira vista, a fenomenologia parece trazer uma certa resposta ao "problema da percepção", uma resposta cuja simplicidade só é igualada por sua radicalidade. Essa resposta consiste, de certo modo, em cortar o nó górdio, reconhecendo à própria percepção, como uma propriedade que lhe seria intrínseca, o poder de fazer aquilo de que certa filosofia se espanta que ela faça e busca explicar que ela possa fazer.
Isso é verdade em vários níveis, na medida exata em que o "problema da percepção" tal como entendido pela filosofia pode se dividir em vários subproblemas. A cada um desses subproblemas, a fenomenologia responde de forma análoga.