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Noema e noese (Patocka)
sábado 26 de abril de 2025, por
Patocka , 1946
À luz desse método, fica claro que o discurso habitual que fala da intencionalidade da consciência como "consciência-de", consciência de um objeto, é (segundo a expressão de Eugen Fink ) uma "operação de simplificação" [1]. Ao refletirmos sobre a "atitude natural", somos sempre levados a estabelecer um paralelo entre grandes unidades de coisas e grandes unidades de vivido, ignorando sua composição interna e sua riqueza para falar de "atos de representação", "atos de julgamento", "atos de amor e ódio". Em certo sentido, esses atos realmente existem, mas não como átomos intencionais simples, e sim como simplificações perspectivais (para o "olhar" da reflexão) de um rico processo intencional operativo. Essa simplificação (também uma forma de operação intencional) repousa sobre o fato de que nosso interesse recai apenas sobre o objeto em si enquanto unidade, e não sobre o modo concreto como ele se apresenta, seu modo de ser dado, de aparecer, pois tudo isso nos parece, na prática, demasiado óbvio, bem conhecido e estereotipado, enquanto o comportamento das grandes unidades objetivas em nosso entorno nos interessa na prática. Somente ao não examinar as unidades objetivas sob a perspectiva que nos interessa do ponto de vista prático (ou sob perspectivas teóricas alheias à fenomenologia), ao não nos interessarmos por elas enquanto componentes da história do mundo em que estamos inseridos e ao qual estamos ligados, para, em vez disso, interrogar o modo pleno de sua presença (ou ausência), é que aprendemos a perceber o vínculo unificador da intencionalidade. Para isso, é preciso partir do objeto na plenitude de suas determinações (o noema) para, a partir daí, encontrar o fio interno próprio da intencionalidade funcionante (a noese).
[1] Cf. E. Fink, « Le Problème de la phénoménologie d’Edmund Husserl » (1939), in : De la phénoménologie, Paris, Minuit, 1974, p. 238.