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Dastur (FDHP) – unheimlich
quinta-feira 12 de junho de 2025, por
FDHP
No terceiro percurso, Heidegger propõe-se ir além do que é imediatamente dito nesse coro [de Antígona], e portanto usar ele mesmo de violência para fazer aparecer o que aí é dito fora das próprias palavras e que nada mais é do que o que indica o verso de Ésquilo citado no Discurso de reitoria, a saber, que no confronto entre tekhnè e dikè, a violência do agir humano deve necessariamente se quebrar contra o poder subjugador da phusis. Ora, essa necessidade vem precisamente do fato de que a phusis precisa, para aparecer, da tekhnè. É portanto a partir dessa necessidade que é a do próprio ser que o modo como o ser-homem se desdobra pode então se abrir para nós. Chega-se assim a uma definição totalmente outra do homem que aquela que nos entrega a tradição: "O ser-aí do homem histórico significa: estar exposto enquanto a brecha no seio da qual o poder subjugador do ser irrompe ao aparecer, para que essa própria brecha se quebre sobre o ser" (GA40 :172; 176-177).
Pode-se compreender então por que o homem pode ser dito o mais "unheimlich": é porque ele só preserva a quietude do lar para dele se evadir e permitir assim a irrupção do poder subjugador da phusis. Ele é lançado pelo próprio ser nesse caminho onde se vê forçado a manter o ser aberto. O criador, aquele que usa da violência, vê assim em seu próprio declínio o consentimento mais profundo ao poder subjugador da phusis. Pois o verdadeiro criador sabe que sua obra, como diz Heráclito , não é senão uma desarmonia (Unfug) e um "monte de esterco" (sarma) e que só ao se quebrar ela pode deixar à phusis seu ajustamento (172; 177). O fragmento 124 de Heráclito , "o mundo mais belo é semelhante a um monte de esterco espalhado ao acaso", foi citado um pouco antes (142; 146), e Heidegger vê nele uma atestação e não uma negação da experiência grega do ser para a qual precisamente a phusis enquanto logos não é imediatamente acessível e permanece oculta, como essa harmoniè aphanès, essa uníssona que não se mostra, da qual o fragmento 34 diz que é "mais poderosa que aquela que está sempre manifesta". Enquanto tal brecha para a declausura do ser assim posto em obra no ente, o ser do homem não é senão um incidente, ein Zwischen-fall, um evento que se intercala na phusis e no qual subitamente os poderes desencadeados desta se desdobram e fazem sua entrada na obra enquanto história.
Foi isso que compreenderam os gregos, que longe de eludir a aflição (Not) na qual se encontravam, só a aumentaram. Pois para Heidegger, os gregos não foram tanto, como o classicismo quer nos fazer crer, os educadores da humanidade, mas aqueles que tiveram o "profundo pressentimento" do que requer o histórico, a saber, a súbita violência pela qual se abre, de modo único, esse lugar do ser que é também o do homem. Heidegger retoma assim uma concepção do "grande começo de todo o ser-aí grego" que já foi a de Nietzsche , e que só foi superada por Hölderlin (135; 139). Em seu curso de 1942, Heidegger será ainda mais explícito a esse respeito, afirmando que a helenidade tem para Hölderlin outra determinação histórica que o mundo grego para o jovem Nietzsche , que aliás posteriormente preferiu a romanidade, e que sua relação com a Grécia não é nem clássica, nem romântica, nem metafísica, o que lhe permitirá manter com ela uma relação autêntica, que supõe o reconhecimento do que a opõe essencialmente à germanidade.
Não se trata portanto de emitir um juízo moral sobre o orgulho e a arrogância que o homem assim demonstra em sua revolta contra os poderes da natureza. É por isso que não se deve interpretar de modo negativo as últimas linhas do coro onde parece que o poeta recusa implicitamente tal modo de ser homem, proclamando que "de meu lar não se torne íntimo (…) o homem que realiza isso". Costuma-se de fato considerar que Sófocles , fiel nisso ao espírito grego como o compreende o classicismo, condena assim a húbris, a desmedida do homem, e recomenda ao contrário a moderação, a sophrosyne. Mas para Heidegger, a sentença final do coro não contradiz o que declarou antes sobre o ser do homem. O coro não se levanta portanto contra o Unheimlich, contra a ausência de quietude e de lar que o caracteriza, mas se limita a reconhecer que tal modo de ser não é o da cotidianidade. Essa distinção que o coro assim faz entre uma cotidianidade que se deve compreender como familiaridade com o mundo circundante e o ser verdadeiro do homem como estranho a este retoma a que Heidegger estabeleceu em Ser e tempo entre cotidianidade "média" e ser em próprio do Dasein.
Em seu curso de 1942, Heidegger retoma longamente a questão da interpretação a dar à fala final do coro, na qual não se pode simplesmente ver uma condenação do homem enquanto deinotaton, pois a heroína, Antígona, tem ela mesma uma relação com o deinon. Antígona é de fato aquela que assume o deinon, que corre seu risco e o suporta, como diz à sua irmã Ismene, o que faz dela o ser humano mais unheimlich, o mais desprovido de lugar próprio, de lar. Assumindo assim o não estar em casa, ela está "propriamente" sem lar, o que significa precisamente estar em busca do lar. Ora, o que a fala final do coro repudia é o não estar em casa impróprio do aventureiro, que persiste no não estar em casa, não o de Antígona, que "tenta o impossível", como lhe reprova sua irmã (verso 92), reivindicando leis não escritas (verso 454), ou seja, explica Heidegger, aquilo que só dá ao respeito devido aos mortos e à primazia dos laços de sangue seu fundamento e sua necessidade, a saber, o próprio ser, o lar verdadeiro, ao qual, por sua morte, ela retorna.
A interpretação que Heidegger tenta da Antígona de Sófocles culmina de fato na afirmação de que estia, "lar", no sentido de lugar onde arde a chama, é a palavra grega para "ser", esse "nada" que concede a tudo seu poder-ser e que só pode ser dito no poema ou pensado no pensamento. Antígona é no seio do ente die Unheimlichste, aquela que nele é a mais estranha, a mais desprovida de lar, precisamente porque se reivindica unicamente desse lar que é o ser. Vista nessa luz, a Antígona de Sófocles não é portanto senão "o poema do chegar ao lar no não estar em casa".