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Nas Proximidades da Antropologia [PA]

Ernildo Stein (2003:36-37) – transcendência do ser do Dasein

Dois teoremas da finitude como base para uma antropologia filosófica

segunda-feira 13 de novembro de 2023, por Cardoso de Castro

Sem entrarmos em mais detalhes podemos dizer que esse “ser do Dasein” já remete ao cuidado (Sorge) com sua tríplice estrutura e à temporalidade (Zeitlichkeit) como sentido do ser do cuidado.

É a partir do ser-em que se estabelece a receptividade e a espontaneidade da experiência que, no desenvolvimento da analítica existencial, são apresentadas como sentimento de situação (afecção — Befindlichkeit) e compreensão (entendimento — Verstehen). É assim que o ser-em do ser-no-mundo torna-se o momento indepassável, o transcendente à consciência que funda o conhecimento. Mas esse fundar não é mais fundamento como na metafísica, que dissocia o fundante do fundado e dá ao primeiro um caráter a priori, de primeiro, de originário, de presença constante.

Assim, tanto o objetivismo como o idealismo transcendental da tradição metafísica podem ser criticados e superados. Mas isso somente pode ser realizado a partir do conceito de cuidado (Sorge) que é o ser do ser-aí (Dasein) e da temporalidade (Zeitlichkeit) que é o sentido do ser do ser-aí. A tríplice estrutura do cuidado: ser-adiante-de-si-mesmo já-ser-em, junto-das-coisas tem como determinantes os êxtases — futuro-passado-presente — que são o modo como o ser-aí se compreende, tem seu sentido.

O ser-aí se compreende desde o futuro, o ser-adiante-de-si-mesmo, que é já no presente o que traz o limite do poder-ser, a possibilidade do ser-para-a-morte. Essa possibilidade não é mais o que se opõe [37] simplesmente à categoria da objetividade. Ela é o existencial que nos permite pensar a partir da compreensão, o modo de “fundamentação” pela circularidade. A possibilidade existencial vem substituir a constante presença do “eu penso” de Kant   ou do “ser” da tradição.

Temos, assim, uma nova condição de possibilidade, desconhecida do modo de fundar da tradição. É por isso que Heidegger afirma, nas páginas ainda introdutórias de Ser e tempo  : “Acima da efetividade está a possibilidade“. Mas esta possibilidade não é mais uma modalidade, ela é um existencial. Se como diz Heidegger “Ser é o transcendens como tal”, ele mesmo conclui que “cada explicitação do ser como transcendens é conhecimento transcendental” (1949b, p. 38).

Esse transcendental, no entanto, não é nem o transcendental do realismo objetivista, nem do idealismo transcendental, mas se liga à “transcendência do ser do Dasein que é muito particular”.

Sem entrarmos em mais detalhes podemos dizer que esse “ser do Dasein” já remete ao cuidado (Sorge) com sua tríplice estrutura e à temporalidade (Zeitlichkeit) como sentido do ser do cuidado. Trata-se, portanto, de uma transcendentalidade de caráter existencial. Esse conhecimento existencial é o da compreensão do ser que já sempre é operado em qualquer conhecimento do ente.


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STEIN, E. Nas proximidades da antropologia. Ensaios e conferências filosóficas. Ijuí: UNIJUÍ, 2003.