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Apel (2000) – Kehre

Heidegger, no entanto, não estabeleceu qualquer relação entre a “pré-estrututra” do Compreender (que ele mesmo havia descoberto) e uma subjetividade pré-consciente. Na verdade, do factum apriorístico do “estar-aberto do ser-aí”, Heidegger depreendeu uma “virada” [Kehre]: parte-se de uma análise ainda semi-transcendental-filosófica do ser-aí, e vai-se em direção a um pensamento que provém, ele mesmo, do fato de pertencer à história do ser, e que, além disso, se mostra insubmisso a qualquer ligação normativo-metodológica. É possível interpretar o “estar-aberto do ser-aí” em Ser e tempo GA2
Sein und Zeit
SZ
SuZ
S.u.Z.
Être et temps
Ser e Tempo
Being and Time
Ser y Tiempo
EtreTemps
STMS
STFC
BTMR
STJR
BTJS
ETFV
STJG
ETJA
ETEM
Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
como um acontecimento anônimo da “clareação”; e tal acontecimento poderia não ter qualquer relação com um “ser-que-se-antecipa”, passível de reflexão face a sua validação conceitual, e pertinente à “intelecção pré-ontológica do ser”; e nesse caso pode-se entender a “virada” (Kehre) como o desdobramento consequente de uma abordagem transcendental-filosófica de sentido não-kantiano, assumida desde o início. Tal “virada”, entretanto, conquista ainda mais sua plausibilidade fenomenológica quando Heidegger passa a tomar como ponto de referência para sua orientação os fenômenos de descerramento de sentido (Sinn-Eröffnung) na “obra de arte”; isso começa a estar em primeiro plano logo após o surgimento de Ser e tempo GA2
Sein und Zeit
SZ
SuZ
S.u.Z.
Être et temps
Ser e Tempo
Being and Time
Ser y Tiempo
EtreTemps
STMS
STFC
BTMR
STJR
BTJS
ETFV
STJG
ETJA
ETEM
Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
. Quanto a esses fenômenos, pode-se dizer com certa razão que representam a parcela da “pré-estrutura” do ser-aí eximida de disponibilidade subjetiva, ou seja, o fenômeno da “clareação” como tal. Com isso, de certa forma, Heidegger teria desenvolvido, em concatenação com a “virada”, apenas a problemática da constituição do sentido do mundo (Welt-Sinn-Konstitution) mantida na “pré-estrutura” do Compreender; de outra parte, porém, teria legado a problemática da validação do sentido (Sinn-Geltung) como tal, pela qual temos que responder, a uma filosofia transcendental subjetiva, concernente à “metafísica” (que ainda estaria por ser suplantada). De fato, isso correspondería à situação excepcional de Hölderlin Hölderlin FRIEDRICH HÖLDERLIN (1770-1843). La poesía de Holderlin está sustentada por el destino y la determinación poética de poetizar propiamente la esencia de la poesía. Para nosotros, Holderlin es en sentido eminente el poeta del poeta. (GA39 p. 32) na história do ser, esboçada por Heidegger. A distinção conferida à constituição de sentido (Sinn-Konstitution) teria seu correlato na distinção conferida por Hölderlin Hölderlin FRIEDRICH HÖLDERLIN (1770-1843). La poesía de Holderlin está sustentada por el destino y la determinación poética de poetizar propiamente la esencia de la poesía. Para nosotros, Holderlin es en sentido eminente el poeta del poeta. (GA39 p. 32) ao poético, segundo o verso a seguir — uma reação ao moralismo da liberdade de Fichte Fichte
Johann Gottlieb Fichte
JOHANN GOTTLIEB FICHTE (1762-1814)
: “Meritória e também poeticamente, habita o ser humano sobre essa terra”. A meu ver, ainda que pretendamos perceber a unilateralidade e gravidade de uma filosofia que, em última instância, pretende deduzir sua legitimação do kairos ligado à sina do ser, que se vai manifestando naquele mesmo momento, não é preciso de modo algum negar ou subestimar a relevância fenomenológica do acentuamento da “ocorrência de sentido”, que é a um só tempo indisponível e ainda assim co-fundadora da história do mundo, em todos os processos caracterizados como “criadores” (e na ciência moderna como “criativos”). E se essa filosofia (tal como a ontologia do “estar-presente”, fundamentada anteriormente por Aristóteles Aristoteles
Aristote
Aristóteles
Aristotle
Para Heidegger, Aristóteles é com efeito toda a filosofia, por esta razão passou sua vida a situar, demarcar, mensurar, em resumo questionar em sua dimensão mesma de lugar, este lugar comum a toda humanidade.
) pensa ser capaz de superar ou “suplantar” a metafísica da Era Moderna, fundamentada sobre a autonomia do sujeito que pensa, quer e age, então se deve pelo menos suspeitar de que aqui “auto-nomia” — que o ser humano conquistou por meio do “Esclarecimento” [Aufklärung], sob o signo da autonomia da razão — pode vir a ser dissipada sob a forma de uma nova credulidade no destino, em benefício de uma nova “alienação” (tal como disse J. P. Sartre Sartre
Jean-Paul Sartre
JEAN-PAUL SARTRE (1905-1980)
Excertos, por termos relevantes, de sua obra original em francês
sobre o Heidegger da fase tardia).