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Byung-Chul Han (2023) – a renúncia

sábado 8 de março de 2025, por Cardoso de Castro

Também a “renúncia” faz parte do vocabulário da inatividade de Heidegger. Ela significa tudo, menos desistir ou deixar passar. Como outras figuras da inatividade, ela estimula uma relação construtiva com aquela esfera do ser que permanece fechada à atividade conduzida pela vontade. A renúncia é uma paixão pelo indisponível. Na renúncia, tornamo-nos receptíveis para a dádiva: “A renúncia não retira. A renúncia doa”. O ser, como o indisponível, doa a si mesmo na renúncia. Assim, a renúncia se converte em um “agradecimento” (GA13  :233).

Heidegger insere uma dimensão da inatividade no fato de ser capaz – fato que usualmente vinculamos com a atividade e o desempenho. Ele a pensa a partir da perspectiva do gostar e do amar:

Aceitar uma “coisa” ou uma “pessoa” em sua essência significa: amá-la: gostar dela. Esse gostar significa, pensado originariamente: presentear a essência. Tal gostar é a verdadeira essência da capacidade que não apenas faz isso ou aquilo, mas que faz com que algo “se apresente” mostrando sua origem; ou seja, que deixa com que algo seja (GA9  :148).

Ao gostar, a capacidade libera uma coisa ou uma pessoa em sua essência. Em oposição ao agir humano absolutamente posto, a capacidade que não age cria a partir do possível. No alemão, a palavra possível, möglich, tem sua origem no gostar, “mögen”. O possível (Mögliche) é o que é digno de se gostar (Mögenswerte). A capacidade como gostar deixa o possível, o digno de se gostar, em sua essência, em vez de entregá-lo ao impossível (Unmöglichen). A salvação da Terra depende dessa ética da inatividade: “Os mortais habitam, à medida que salvam a Terra – a palavra tomada no sentido antigo, que Lessing ainda conhecia. A salvação não livra apenas de um perigo; salvar significa, na verdade: deixar algo livre em sua própria essência” (GA7  :144).