O fato de o caminhante não deixar rastros também tem um significado temporal. Ele não insiste nem persiste. Antes, ele existe na atualidade. Uma vez que caminha “sem direção”, ele não segue o tempo linear ou um tempo histórico que se estende ao passado e ao futuro. A ocupação, que Heidegger eleva a traço fundamental da existência humana, está ligada precisamente a esse tempo estendido, isto é, histórico. O caminhante não existe historicamente. Assim, “ele não se ocupa” (bu si lu, 不 思盧) e (…)
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Byung-Chul Han
BYUNG-CHUL HAN (1959)
OBRA NA INTERNET: LIBRARY GENESIS
Matérias
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Byung-Chul Han (2024) – O sábio existe situacionalmente
8 de março, por Cardoso de Castro -
Byung-Chul Han (2024) – combate e essência
8 de março, por Cardoso de CastroApesar de seu esforço para deixar para trás o pensamento metafísico, apesar de estar sempre buscando se aproximar do pensamento do Extremo Oriente, Heidegger também permaneceu um filósofo da essência, da casa e da habitação. É verdade que ele deu adeus a alguns padrões de pensamento metafísicos. Mas a figura da essência continua dominando seu pensamento. Heidegger emprega quase excessivamente a palavra “essência”. Os traços fundamentais da essência, como posição, estabilidade, ipseidade ou (…)
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Byung-Chul Han (2024) – a figura do “caminho”
8 de março, por Cardoso de CastroHeidegger sempre foi tocado pelo pensamento do Extremo Oriente. Mas, em muitos aspectos, permaneceu um pensador ocidental, um filósofo da essência. Até o seu silêncio é eloquente. Ele está a caminho do “velado”, da “origem” que foge à palavra. Assim, a verdade deve ser “silenciada”. Uma frase famosa de Heidegger em A caminho da linguagem diz: “um ‘é’ se dá, onde se interrompe a palavra. Interromper significa devolver o elemento sonoro da palavra para o não sonoro, para onde ela antes se (…)
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Byung-Chul Han (2023) – si-mesmo
8 de março, por Cardoso de CastroSer e tempo é dominado inteiramente pela ênfase no si-mesmo e na ação. Também a morte é compreendida a partir do poder-ser-si-mesmo. Em vista da morte como “possibilidade extrema” de “renunciar a si mesmo”, desperta um enfático eu-sou. A morte, como minha morte, caminha conjuntamente com a ênfase no si-mesmo. Ela leva a uma contração do si-mesmo. Permanece fechada a Heidegger aquela experiência da morte que me leva a afrouxar as amarras do si-mesmo . Esse tipo de morte diz o seguinte: em (…)
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Byung-Chul Han (2023) – serventia (Dienlichkait)
8 de março, por Cardoso de CastroToda teoria da imagem reflete a sociedade na qual ela está inserida. No tempo de Lacan, o mundo ainda é vivenciado como passível de olhar. Também em Heidegger encontramos formulações que são desconcertantes para nós, hoje. Em Origem da obra de arte, ele escreve: “utensílio: jarro, machado ou sapatos. A serventia é aquele traço fundamental a partir do qual este ente nos olha, quer dizer, nos ‘pisca o olho’ e, com isso, vem à presença e, desta forma, é este ente”"name": (…)
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Byung-Chul Han (2024) – o pensamento “ama” o abismo
8 de março, por Cardoso de CastroPara Heidegger, Kant seria um pensador “genuíno” na medida em que olha para as profundezas e para os abismos do ser. Segundo Heidegger, o pensamento “ama” o abismo. Ele se deve à “clara coragem para a angústia essencial” (GA9). O início do pensamento não é a confiança no mundo, mas a angústia. Assim, o pensamento bravamente se expõe à “voz silenciosa que nos dispõe para o espanto do abismo” (GA9). A metáfora do mar abissal ao qual o pensamento deve corajosamente se expor também se encontra (…)
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Byung-Chul Han (2023) – uma ética da inatividade
8 de março, por Cardoso de CastroEm Heidegger, há rastros de pensamento que se condensam em uma ética da inatividade. Ela vale tanto para as relações entre humanos como também para a relação com a natureza. Pouco antes de sua morte, Heidegger escreveu um pequeno escrito com o título Recordação de Marcelle Mathieu. O tema do escrito é a hospitalidade de sua anfitriã já falecida em Provença. Heidegger evoca, primeiramente, a grandiosa paisagem de sua pátria, como se sua hospitalidade surgisse imediatamente de sua relação (…)
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Byung-Chul Han (2023) – a reflexão inativa
8 de março, por Cardoso de CastroAlguns anos antes do Vita activa ou sobre a vida ativa de Arendt, Heidegger proferiu uma palestra com o título Ciência e reflexão (Besinnung). Em oposição à ação que impulsiona adiante, a reflexão nos traz de volta para onde sempre já estamos. Ela nos abre um ser-aí (Da-Sein) que precede todo fazer, todo agir, e que se demora. Uma dimensão da inatividade é inerente à reflexão. Esta se entrega àquilo que é: Entrar por um caminho que uma coisa tomou por si mesma significa, em nossa língua, (…)
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Byung-Chul Han (2023) – a serenidade (Gelassenheit)
8 de março, por Cardoso de CastroTambém Heidegger se aproxima da filosofia da inatividade de Zhuang Zhou. A “serenidade” [Gelassenheit] de Heidegger contém uma dimensão da não ação. Os seres humanos destroem a Terra ao arrancá-la de sua “modesta lei do possível” e submetê-la a uma total disponibilização: “Primeiro a vontade que se orienta inteiramente pela técnica distende a Terra na degeneração e exploração e transformação do artificial. Ela arrasta a Terra para além do círculo maduro do seu possível, em algo que não é (…)
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Byung-Chul Han (2023) – a atrofia do tempo
8 de março, por Cardoso de CastroUma atrofia muscular aflige a vida na modernidade. Ela é ameaçada pela desintegração do tempo. Com sua Recherche, Proust tenta combater a atrofia temporal, a perda do tempo que se dá na forma de uma atrofia muscular. O reencontro do tempo aparece em 1927. Neste ano, Heidegger publica Ser e tempo. Heidegger, todavia, também escreve resolutamente contra a atrofia temporal da modernidade, que desestabiliza e fragmenta a vida. A fragmentação e a atrofia da vida na modernidade são contrapostas à (…)
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Byung-Chul Han (2023) – a experiência
8 de março, por Cardoso de CastroA experiência, em sentido enfático, não é um resultado do trabalho e do desempenho. Ela não se deixa produzir pela atividade. Antes, ela pressupõe uma forma particular de passividade e de inatividade: “fazer uma experiência com algo, seja com uma coisa, com um ser humano, com um deus, significa que esse algo nos atropela, nos vem ao encontro, chega até nós, nos avassala e transforma” [1]. A experiência se baseia no dom e na recepção. O seu medium é a escuta. O atual ruído da comunicação e da (…)
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Byung-Chul Han (2023) – a passagem da ação para o ser
8 de março, por Cardoso de CastroAlguns anos depois de Ser e tempo, Heidegger realiza a passagem da ação para o ser. O pathos da ação dá lugar ao espanto sobre o ser: […] o festejar, enquanto interrupção do trabalho, é já um conter-se, é prestar atenção, é perguntar, é reflexão, é espera, é a passagem para um pressentimento mais desperto do milagre, do milagre de que em geral um mundo munda ao nosso redor, de que haja o ente e não antes o nada, de que haja coisas e nós mesmos em meio a elas (GA52:64). A ênfase no si-mesmo e (…)
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Byung-Chul Han (2023) – a angústia
8 de março, por Cardoso de CastroA angústia representa, em Ser e tempo, a “disposição fundamental”, pois ela confronta o “ser-aí” (a designação ontológica para o ser humano) com o ser-no-mundo. Em oposição ao medo, que meramente se relaciona com algo no mundo, o “de que” da angústia é o mundo como tal: “Aquilo de que a angústia se angustia é o próprio ser-no-mundo. O ente dentro do mundo […] afunda na angústia. O ‘mundo’ não consegue fornecer mais nada, tampouco o ser-aí-com outros”. Esse mundo que escapa ao ser-aí na (…)
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Byung-Chul Han (2024) – ser-no-mundo se tornando ser-mundo
8 de março, por Cardoso de CastroQuem não está ligado a nenhuma coisa e a nenhum lugar determinados, quem caminha e não habita em parte alguma está acima de qualquer perda. Quem não possui nada de determinado também não perde nada:
Se um barco está escondido no lodo, se uma montanha está escondida no fundo do mar, pensa-se que estão seguros; mas à meia-noite vem alguém forte, carrega-os às costas e parte, enquanto o [proprietário] dorme e não percebe nada disso. Um grande espaço é adequado para esconder uma coisa pequena, (…) -
Byung-Chul Han (2023) – A contemplação é oposta à produção
8 de março, por Cardoso de CastroA contemplação é oposta à produção. Ela se relaciona com o indisponível como algo já dado. O pensar está sempre recepcionando. A dimensão da dádiva no pensar (Denken) faz dele um agradecer (Danken). No pensar como agradecer, a vontade se resigna (abdanken) inteiramente: “O espírito nobre paciente seria um puro repousar-em-si de toda vontade que, recusando o querer, entregou-se àquilo que não é uma vontade. O espírito nobre seria a essência do pensar e, assim, do agradecer” (GA13:68).
A (…) -
Byung-Chul Han (2023) – o tédio
8 de março, por Cardoso de CastroTambém o tédio não é, para Heidegger, nenhum pássaro onírico que choca o ovo da experiência. Ele é interpretado, igualmente, como um apelo à ação. No tédio, assim como na angústia, o mundo escapa ao ser-aí; isto é, escapa-lhe o ente no todo. O ser-aí recai em um vazio paralisante. Todas as “possibilidades da ação e inação” são recusadas. Heidegger escuta nessa recusa (Versagen), porém, um dizer (Sagen): “O que indica neste recusar-se o ente que no todo se recusa? […] Justamente as (…)
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Byung-Chul Han (2024) – “enquanto Deus toca, faz-se o mundo”
8 de março, por Cardoso de CastroHeidegger não é um filósofo do caminho. Ele gira em torno do ser. Assim, ele o associa à calma, ao silêncio e à duração. O processo e a mudança, que constituem o dao, não são traços fundamentais do ser: “demorar significa: perdurar, ficar quieto, parar e deter-se, ou seja, na calma. Goethe diz em um belo verso: ‘o violino para, o dançarino demora’. De fato, demorar, perdurar, perdurar perpetuamente, é o antigo sentido da palavra ‘ser’” (GA10:186). Além disso, o ser de Heidegger, que recua (…)
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Byung-Chul Han (2023) – Não podemos dispor da disposição (Stimmung)
8 de março, por Cardoso de CastroNão é fácil marcar o Aí (das Da) linguisticamente, pois ele se furta ao proposicional. Ele não se encontra disponível nem no pensamento nem na intuição. Os arrepios lhe estão mais próximos do que a retina. Ele se abre pré-reflexivamente. O Ser-Aí (Da-Sein) se exprime, primeiramente, como Ser-Disposto (Gestimmt-Sein) que também precede o Ser-Consciente (Bewusst-Sein). A disposição (Stimmung) não é um estado subjetivo que colore o mundo objetivo. Ela é o mundo. Ela é mais objetiva do que o (…)
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Byung-Chul Han (2023) – a renúncia
8 de março, por Cardoso de CastroTambém a “renúncia” faz parte do vocabulário da inatividade de Heidegger. Ela significa tudo, menos desistir ou deixar passar. Como outras figuras da inatividade, ela estimula uma relação construtiva com aquela esfera do ser que permanece fechada à atividade conduzida pela vontade. A renúncia é uma paixão pelo indisponível. Na renúncia, tornamo-nos receptíveis para a dádiva: “A renúncia não retira. A renúncia doa”. O ser, como o indisponível, doa a si mesmo na renúncia. Assim, a renúncia se (…)
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Byung-Chul Han (2024) – o cumprimento
8 de março, por Cardoso de CastroO cumprimento dissolve dialogicamente aquela tensão interpessoal que leva à luta e à submissão. A dialética que atenua o desafiador gruozen, transformando-o em um cumprimento, é um processo de mediação dialógica. O diálogo é uma relação binária entre pessoas. A tensão antagônica não é superada por meio de uma negação da alteridade. Afinal, o cumprimento se baseia em uma alteridade. A mediação dialógica, que leva à reconciliação e ao reconhecimento, retira da alteridade sua agudeza (…)