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Byung-Chul Han (2023) – a reflexão inativa
Alguns anos antes do Vita activa ou sobre a vida ativa de Arendt
Arendt
Hannah Arendt
Johanna "Hannah" Cohn Arendt (1906-1975)
Condição Humana e Vida do Espírito, índice de excertos
, Heidegger proferiu uma palestra com o título Ciência e reflexão (Besinnung). Em oposição à ação que impulsiona adiante, a reflexão nos traz de volta para onde sempre já estamos. Ela nos abre um ser-aí (Da-Sein) que precede todo fazer, todo agir, e que se demora. Uma dimensão da inatividade é inerente à reflexão. Esta se entrega àquilo que é:
Entrar por um caminho que uma coisa tomou por si mesma significa, em nossa língua, sinnan, refletir (sinnen). […] Ela [a reflexão] é a serenidade em relação ao digno de questionamento. Por meio da reflexão assim compreendida, chegamos verdadeiramente ali onde, sem já o saber e enxergar, estamos há muito tempo. Na reflexão, vamos a um lugar unicamente a partir do qual se abre o espaço que mede nosso fazer e deixar de fazer (GA7 GA7
GA 7
GA VII
GA7PT
GA7FR
GA7ES Vorträge und Aufsätze (1936–1953), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 2000. — Ensaios e conferências :64).
A reflexão é uma capacidade que não age. Ela implica o deter-se como interrupção, como inatividade. Nos Cadernos negros, Heidegger escreve: “O que aconteceria se o pressentimento do poder silencioso da reflexão inativa desvanecesse?” (GA94
GA94
GA 94
GA XCIV
GA94RR
GA94 - Überlegungen II-VI
:447) O pressentimento não é um saber deficiente. Antes, ele nos abre o ser, o aí, que se furta ao saber proposicional. Só por meio do pressentimento temos acesso àquele lugar no qual o ser humano já sempre se encontra: “O pressentimento […] não se dirige apenas ao futuro e ao que se aproxima, tal como o pressentimento pensado usualmente de modo calculista; ele mede e avalia toda a temporalidade: O espaço-jogo-temporal do Aí” (GA65
GA65
GA 65
GA LXV
GA65EM
GA65AM
GA65DPC
GA65DP
GA65DVP
GA65PT
GA65FR
GA65IT
BEITRAGE ZUR PHILOSOPHIE - Contribuições à Filosofia
:22). O pressentimento não é um “degrau preliminar na escada do saber”. Antes, ele torna acessível aquele “pórtico” (GA8
GA8
WhD
GA 8
GA VIII
GA8GG
GA8BG
GA8RB
GA8PRS
Was heisst Denken? (1951-1952) [2002] — O que se chama pensar?
:173) no qual tudo que se pode saber tem sua sede, ou seja, tem lugar. O pensamento de Heidegger gira incansavelmente em torno daquele Aí primordial que não se deixa capturar por nenhum saber proposicional.
Para a “reflexão inativa” é válida a magia do Aí que se furta ao agir. Seus passos “não levam adiante, mas de volta para lá onde já estamos” (GA12
GA12
GA 12
GA XII
UzS
GA12YZ
GA12BBF
GA12PH
GA12MS
CaminhoLinguagem
Unterwegs zur Sprache (1950-1959) [1985] — Caminho da Linguagem
:208). Ela nos deixa “no [já] chegado”, “em cujo âmbito nós já estamos” (GA12
GA12
GA 12
GA XII
UzS
GA12YZ
GA12BBF
GA12PH
GA12MS
CaminhoLinguagem
Unterwegs zur Sprache (1950-1959) [1985] — Caminho da Linguagem
:199). Em sua imanência radical, esse Aí nos é próximo demais, de modo que, frequentemente, o ignoramos. Ele é o “pertíssimo” que está mais perto do que o objeto mais próximo. Quem é apenas ativo inevitavelmente o pula. Ele se abre apenas ao demorar-se inativo, contemplativo. Heidegger introduz todo um vocabulário da inatividade a fim de trazer à fala esse Aí pré-proposicional. Também a figura da espera é usada por ele: “A espera é uma capacidade que supera toda força ativa. Quem se encontra no poder esperar ultrapassa todo desempenho e seus resultados” (GA77
GA77
GA 77
GA LXXVII
Feldweg-Gespräche. (1944-1945) [1995]
:227). Só na espera sem intenção, no demorar-se na espera, o ser humano se torna consciente daquele espaço no qual ele já se encontra desde sempre: “Na espera, o ser humano é reunido na atenção àquilo a que ele pertence” (GA77
GA77
GA 77
GA LXXVII
Feldweg-Gespräche. (1944-1945) [1995]
:226). A “reflexão inativa” percebe o brilho do inaparente, do irrealizável, do indisponível, que se furta a todo uso, a todo fim: “A pobreza da reflexão é, porém, a promessa de uma riqueza cujo tesouro reluz no brilho daquele inútil que nunca se deixa calcular” (GA7
GA7
GA 7
GA VII
GA7PT
GA7FR
GA7ES
Vorträge und Aufsätze (1936–1953), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 2000. — Ensaios e conferências
:66). (ByungVC
ByungVC
Vita contemplativa : ou sobre a inatividade / Byung-Chul Han ; tradução de Lucas Machado. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2023.
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