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Tugendhat (1970) – a verdade e o conhecimento da verdade

sexta-feira 21 de março de 2025, por Cardoso de Castro

(Ernst Tugendhat  , Der Wahrheitsbegriff bei Husserl   und Heidegger, 2 ed. inalterada. Berlim: Walter de Gruyter & Co., 1970, p. 1.)

Em contraste com as reconstruções idealizadoras e teorizadoras exageradas a que se entregou a tradição metafísica, agora são a “práxis”, a “existência” e o “interesse” que aparecem como a característica fundamental da vida humana. Enquanto o ceticismo da Antiguidade e do início dos tempos modernos contentava-se em formular dúvidas sobre a questão de saber se existe a verdade, e, caso exista, se ela é cognoscível, já agora, desde Marx   e Nietzsche  , o sentido da verdade e da orientação sobre a verdade e o próprio comportamento teórico é que são questionados, enquanto condicionados por outras necessidades de natureza prática. O que a verdade e o conhecimento da verdade querem dizer pode ser compreensível, quando se trata de enunciados factuais elementares e de suas combinações conforme as regras da lógica das proposições. Mas os contextos mais englobantes em que os integramos afiguram-se determinados por interesses histórico-práticos, e não está claro o que quereria dizer a formulação de perguntas sobre a verdade desses próprios interesses. Por conseguinte, também não é claro o que ainda significaria situar a vida humana, tomada em sua globalidade, na perspectiva da verdade. E, mesmo que isso fosse uma coisa clara, podemos agora duvidar, com Nietzsche  , de que tal subordinação de todos os outros interesses ao interesse pela verdade seja desejável. Entretanto, mesmo que também não duvidemos disso, ainda assim aprendemos, desde Marx   e Freud  , a ver a que ponto nosso interesse pela não-verdade foi originário, tão originário que dá a impressão de anexar, igualmente, a própria pretensa vontade de verdade. No entanto, se a filosofia não consegue dar a si mesma uma nova concepção da possibilidade de uma orientação do conjunto da vida humana em função da verdade, levando em conta essas novas pressuposições, então, patentemente, ela suprime a si mesma.