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Marion (RD) – Ego e Dasein
domingo 18 de maio de 2025, por
MarionRD
Do ponto de vista — dominante — de sua "falha", o ego cartesiano vê-se absolutamente impedido de manifestar o sentido do ser, propriedade que caracteriza apenas o Dasein. O antagonismo ôntico-ontológico entre o ego cogito e o Dasein apareceu suficientemente claro (§5), para que, sem insistir nele nem enfraquecê-lo, possamos contudo equilibrá-lo com a observação de outra relação entre esses mesmos antagonistas.
Certamente, o ego cogito se apresenta ao Dasein como seu adversário mais rigoroso; e, no entanto, o Dasein não teria um dever tão urgente de destruí-lo se não reconhecesse nele, como num esboço desviado, alguns de seus traços mais próprios: o Dasein, de fato, não pode deixar de se reconhecer em pelo menos quatro características do ego cogito, numa rivalidade tanto mais perturbadora quanto as semelhanças só a avivam.
(a) O Dasein "… não tem um fim (Ende) onde simplesmente cessa, mas existe de maneira finita (existiert endlich)"; a finitude não se acrescenta como algo exterior à existência, que assim simplesmente não teria uma duração indefinida (endlose); ela determina essencialmente o Dasein, que só é para um termo, sua própria morte, segundo uma temporalidade do porvir; a finitude, marcando o ser-para-a-morte, abre para o Dasein o acesso à sua temporalidade extática própria, privilegiando o futuro, em oposição à temporalidade da Vorhandenheit, que privilegia o presente como permanência.
Ora, o ego cogito também se caracteriza pela finitude: "… cum sim finitus…" [46]; essa finitude não tem apenas uma função antropológica (o ego deve morrer, carece de várias perfeições etc.), mas quase ontológica; de fato, a finitude é a única que provoca a dúvida, desencadeando assim a cogitatio, que por sua vez institui os entes do mundo como tantos cogitata a serem constituídos; a finitude do ego determina assim diretamente o sentido de ser dos entes que não são o ego.
A pertinência dessa aproximação permanece certamente oculta para e por Heidegger, já que ele só considera a finitude do ego no horizonte da "antropologia antigo-cristã" [47] e reduz a relação entre substância finita e substância infinita a uma produção eficiente, de modo a negar à finitude cartesiana qualquer validade originária. No entanto, o fato permanece: o ego só pode estabelecer a si mesmo como cogito e, indissociavelmente, os entes do mundo como cogitata porque é segundo uma finitude essencial; além disso, a meditação posterior de Heidegger sobre a cogitatio (representação, Vorstellung) não cessará de desenvolver essa implicação.
— Portanto, o Dasein confirma o ego segundo a finitude.
Há mais: (b) O Dasein só é o ente no ser do qual se trata desse próprio ser sob a condição expressa de que esse ser seja o seu, em pessoa: "…sua essência consiste precisamente em que ele tem sempre que ser seu ser como sendo o seu (… es je sein Sein als seiniges zu sein hat)"; ou ainda: "O ser que está em jogo para este ente é sempre o meu. (…) A invocação do Dasein, conforme o caráter de ser-sempre-meu (Jemeinigkeit) deste ente, deve portanto sempre incluir o pronome pessoal: ’eu sou’, ’tu és’." [48] O Dasein só pode ser ele mesmo, a saber, aquele que tem como propriedade colocar-se em jogo como ente tendo o ser como aposta, em caráter pessoal; ninguém pode desempenhar o papel do Dasein no lugar de outrem; a função de Dasein não admite nenhuma ausência; mesmo que seja "tu és" o Dasein, este tu também deverá dizer "eu sou"; o Dasein, mesmo e sobretudo desempenhado por outro que não eu mesmo, se desempenha em primeira pessoa, porque deve ser vivido em pessoa. Assim, mesmo que o Dasein não diga inicialmente ego cogito, ele só pode dizer – sein [ser] ao dizer "ich bin" [eu sou], portanto "ego sum". O Dasein fala assim inevitavelmente, ao menos uma vez, como o ego cogito: "…ego sum…", "…eu sou…". Este encontro parece absolutamente decisivo.
Com efeito, Descartes não apenas inaugurou a ligação entre a cogitatio e a existência em um "sujeito"; ele as ligou em um "sujeito" ele mesmo sempre interpretado (no sentido teatral do termo) em primeira pessoa, ou melhor, em um personagem (persona, também teatral) que é preciso, em pessoa, performar (teatralmente sempre) assumindo a função de um "eu" – dizendo "eu", "hoc pronuntiatum, Ego" [49]. Os sucessores de Descartes tenderão, ao contrário, a eliminar este engajamento do e para o ego; seja substituindo a primeira fórmula por outra, que ninguém mais precisa performar em própria pessoa: "Homo cogitat" (Espinosa ); seja mesmo abolindo-a, por subtração (Malebranche) ou por generalização (Leibniz ). Descartes se distingue portanto não apenas pela ligação necessária de duas naturezas simples (cogitatio e existentia), mas sobretudo pela performance de seu vínculo necessário pelo ego insubstituível.
A existência só advém ao homem na medida em que ele pensa, mas sobretudo na medida em que pensa na postura do ego. Assim Descartes se aproxima consideravelmente do insubstituível que caracteriza o Dasein. – Portanto, o Dasein confirma o ego segundo o a-cada-vez-meu (Jemeinigkeit) [50].
© A finitude e o insubstituível do Dasein lhe advêm enquanto o ente no ser do qual se trata de seu ser; este modo de ser lhe cabe em virtude de seu ser-para-a-morte, pois a morte é a possibilidade mais própria, mais absoluta e menos superável; de fato "a morte [é] a possibilidade da pura e simples impossibilidade do Dasein" [51]. Para sua morte, o Dasein se descobre exposto à sua própria e última impossibilidade, tanto porque a morte nos permanece inconcebível onticamente (inimaginável), quanto porque a morte põe um termo à possibilidade que é o Dasein (mais ainda que à sua possibilidade de "fazer" tal ou qual coisa).
Ora, o ego cogito conhece um paradoxo semelhante, não certamente a respeito de sua morte, mas a respeito de sua liberdade; pois a possibilidade se revela, em termos cartesianos, com o livre-arbítrio, único infinito formalmente na res cogitans finita. Este livre-arbítrio revela sua impossibilidade quando se confronta com a onisciência e a onipotência divinas, que aniquilam a própria noção de possível; em tal encontro, o ego cogito não apenas enfrenta a impossibilidade da possibilidade (livre), tal como segundo a teoria ela se impõe; ele encontra também a possibilidade da impossibilidade, já que decide, na ordem prática, agir como se pudesse agir livremente, embora não compreenda como o pode. Em cada ação, o ego cogito se comporta como se fosse livre e como se o impossível (um evento não predeterminado necessariamente por Deus) se tornasse novamente aberto ao possível. A possibilidade do impossível pode portanto ser entendida tanto da liberdade quanto do ser-para-a-morte. – Assim o Dasein confirma mais uma vez o ego segundo a possibilidade da impossibilidade.