Byung-Chul Han (2024) – “enquanto Deus toca, faz-se o mundo”

Heidegger não é um filósofo do caminho. Ele gira em torno do ser. Assim, ele o associa à calma, ao silêncio e à duração. O processo e a mudança, que constituem o dao, não são traços fundamentais do ser: “demorar significa: perdurar, ficar quieto, parar e deter-se, ou seja, na calma. Goethe Goethe JOHANN WOLFGANG VON GOETHE (1749-1832) diz em um belo verso: ‘o violino para, o dançarino demora’. De fato, demorar, perdurar, perdurar perpetuamente, é o antigo sentido da palavra ‘ser’” (GA10 GA10
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Fundamento1956 Der Satz vom Grund (1955–1956), ed. Petra Jaeger, 1997. :186). Além disso, o ser de Heidegger, que recua para o velamento, não captura a imanência do ser-assim que domina o pensamento do Extremo Oriente. O ser-assim é mais plano e cotidiano do que o “ser” de Heidegger.

Ontem, hoje, é como é. No céu, o sol nasce e a lua se põe. Diante da janela, ergue-se a montanha e flui o rio profundo [1].

Em O princípio do fundamento, Heidegger cita Angelus Silesius Angelus Silesius ’’Angelus Silesius," um pseudônimo para Johannes Sheffler (1624-77), é um contemporâneo de Leibniz. Com efeito, H indica um texto nas cartas de Leibniz na qual Leibniz se refere à poesia de Silesius como "bela" mas, "extraordinarimanete assustadora, cheia de difíceis metáforas e quase inclinada para o ateísmo (Dutens, VI, 56; SG, 68-9). Scheffler é também mencionado favoravelmente nas Palestras sobre Estética de Hegel (Werke, Glockner, XII, 493). (Caputo) : “um coração que em seu fundo tem a calma de Deus, como Ele quer,/ É tocado de bom grado por Ele: é Seu toque de alaúde” (GA10 GA10
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Fundamento1956 Der Satz vom Grund (1955–1956), ed. Petra Jaeger, 1997. :118). Sem Deus, sem o músico divino, o coração fica sem música. Em outro lugar, Heidegger dá uma torção idiossincrática à frase de Leibniz Leibniz LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm (1646-1716). Leibniz centraliza sua reflexão sobre o "tema" que H tem por central em toda filosofia desde Platão e Aristóteles: a questão do ser. (LDMH) Cum Deus calculat fit mundus (quando Deus calcula, faz-se o mundo): “enquanto Deus toca, faz-se o mundo” (GA10 GA10
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Fundamento1956 Der Satz vom Grund (1955–1956), ed. Petra Jaeger, 1997. :167). Deus toca. A música tocada por Ele é o mundo. No fim das contas, não há tanta diferença assim entre o Deus que calcula e o que toca. Mesmo o músico divino tem muito fazer, muita subjetividade. Ele não é ausente. O alaúde de Zhuang Zhou não é um alaúde de Deus. Ele tem uma propriedade particular. Ele só ressoa quando o músico se retira, quando ninguém está presente. Sem nenhum músico, sem a virtuosidade de um sujeito divino ou humano, sem nunca ser tocado por ninguém, ele emite sons de beleza inaudita e fragrâncias encantadoras de ausência. (ByungA ByungA Ausência : sobre a cultura e a filosofia do extremo oriente / Byung-Chul Han ; tradução de Rafael Zambonelli. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2024. )