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Ab(Grund) (Caron)

domingo 18 de maio de 2025, por Cardoso de Castro

Caron2005  

A questão do caráter fundamental do eu ou do “ente” em relação ao ser “é essencialmente distinta da questão do ser de um simplesmente-dado” (SZ  :181). O objetivo é manifestar, no eu = eu, a estrutura fundamental-ontológica do próprio eu, ou seja, do ser-aberto-a (algo, alguém ou a si mesmo). Mas a possibilidade de uma estrutura aberta e de um processo aberto de estruturação escapa constantemente, e por uma boa razão, à ontologia tradicional, que se deixa levar apenas pela medida do ente presente. Para Heidegger, o pensamento filosófico tradicional é vítima de “uma tendência metodicamente desenfreada de fazer com que tudo e qualquer coisa provenha de um ‘fundamento original’ simples” (SZ  :131). A falha não consiste em fazer tudo provir de um fundo (Heidegger reconhece a exigência de unidade de todo ato de pensamento e fala ele mesmo do (Ab)Grund de onde procedem todas as coisas), mas em conferir a esse fundo um modo inadequado de identidade, uma simplicidade simplista, onde, pelo contrário, é necessário libertar para o pensamento o desdobramento essencial da Mesmidade capaz, em seu ser, de fazer surgir não apenas algo como o idem, mas também algo como o ipse e, sobretudo, capaz de fazer surgir simplesmente — a Mesmidade assim irredutível a todo idem ou a todo ipse e, no entanto, tornando-os possíveis. O único método possível é deixar se desdobrar esse fundo não ontológico que deixa ser algo como uma subjetividade.