P. Ricœur, Finitude et Culpabilité, I, L’homme faillible, Aubier, 1960, pp. 55-57.
O que é a coisa? É a unidade já realizada num vis-à-vis da palavra e do ponto de vista; é a síntese tal como é operada a partir do exterior. Esta síntese, na medida em que está num vis-à-vis, tem um nome: objetividade.
A objetividade não é outra coisa senão a unidade indivisível de uma aparência e de uma dicibilidade; a coisa mostra-se e pode ser dita; Uma aparência que não pudesse de modo algum ser dita, (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Um transcendental: a coisa, em substância
7 de abril, por Cardoso de Castro -
Reconquistar o cogito
7 de abril, por Cardoso de CastroP. Ricœur, Philosophie de la volonté, Aubier, 1950, pp. 12-15.
1. Esta reconquista pode muito bem basear-se no Cogito de Descartes, mas Descartes agrava a dificuldade ao relacionar a alma e o corpo com duas linhas de inteligibilidade heterogéneas, ao remeter a alma para a reflexão e o corpo para a geometria: institui assim um dualismo do entendimento que nos condena a pensar o homem como um ser partido. No entanto, adverte-nos que “as coisas que pertencem à união da alma e do corpo… são (…) -
Moral e metafísica
7 de abril, por Cardoso de CastroP. Ricœur, Finitude et Culpabilité, I, L’homme faillible, pp. 127-129.
A trilogia das paixões da posse (Habsucht), do domínio (Herrschsucht) e da honra (Ehrsucht) é, desde o início, uma trilogia das paixões humanas; desde o início, requer situações típicas de um ambiente cultural e da história humana.
Os tratados tomistas e cartesianos [sobre as paixões] evitaram o moralismo, reduzindo a afetividade humana às suas raízes animais. São Tomás e Descartes puderam assim desenvolver uma (…) -
Fenomenologia e psicologia fenomenológica
7 de abril, por Cardoso de CastroJ.-P. Sartre, Esquisse d’une théorie des émotions, Hermann, 1939, p. 3-6.
“A psicologia é uma disciplina que se pretende positiva, ou seja, que retira os seus recursos exclusivamente da experiência. Já não estamos certamente no tempo dos associacionistas, e os psicólogos contemporâneos não são avessos à interrogação e à interpretação. Mas eles querem estar diante do seu objeto da mesma forma que um físico está diante do seu. O conceito de experiência tem de ser limitado na psicologia (…) -
Valor do método descritivo em fenomenologia
7 de abril, por Cardoso de CastroA. de Waelhens, La Philosophie de Martin Heidegger, Louvain (Inst. Sup. de PhiL), 1942, nas páginas indicadas no texto.
Pergunta-se como uma filosofia que deseja praticar um método descritivo adquire o direito de decidir, antes de qualquer descrição, que o fundamento dos fenômenos permanece, à primeira vista, geralmente oculto. Da mesma forma, não se vê como se justifica, do ponto de vista fenomenológico puro, a distinção entre o que é fundamental e o que não é. Qual é o critério — (…) -
Intuição eidética e antropologia
7 de abril, por Cardoso de CastroE. Husserl, Idées directrices pour une Phénoménologie, I. I. § 3, Trad. P. Ricœur (Gallimard, 1950), p. 19-24.
Primeiramente, a palavra "essência" designava aquilo que, no íntimo mais profundo de um indivíduo, se apresenta como seu "Quid" (sein Was). Ora, esse Quid pode sempre ser "posto em ideia". A intuição empírica (erfahrende) ou intuição do indivíduo pode ser convertida em visão da essência (Wesens-Schauung) [em ideação] – essa possibilidade devendo ela mesma ser entendida não como (…) -
O projeto de Aristóteles
7 de abril, por Cardoso de CastroP. Ricœur, Platon et Aristote, Centre de Documentation Universitaire (Sorbonne), p. 145-147.
É necessário mostrar primeiro como se articulam as duas leituras da Metafísica: a leitura de Werner Jaeger, que busca redescobrir a ordem da descoberta, a ordem cronológica das teses de uma Urmetaphysik platônica, e a ordem da exposição, aquela que Aristóteles queria para seu leitor ao dar esse arranjo final aos escritos de um período e mentalidade significativamente diferentes.
Segundo a (…) -
O homem e os valores
7 de abril, por Cardoso de CastroJ.-P. Sartre, L’Être et le Néant, Gallimard, 1943, p. 720 ss.
A ontologia não pode formular de per si prescrições morais. Consagra-se unicamente àquilo que é, e não é possível derivar imperativos de seus indicativos. Deixa entrever, todavia, o que seria uma ética que assumisse suas responsabilidades em face de uma realidade humana em situação. Com efeito, revelou-nos a origem e a natureza do valor; vimos que o valor é a falta em relação à qual o Para-si determina a si mesmo em seu ser como (…) -
Possibilis omnium
7 de abril, por Cardoso de CastroJ.-P. Sartre, Les Mots, Gallimard, 1964, p. 38-39.
A biblioteca continha basicamente os grandes clássicos da França e da Alemanha. Havia também gramáticas, alguns romances famosos… Um universo modesto. Mas o Grande Larousse me servia de tudo: eu pegava um volume ao acaso, atrás da escrivaninha, na penúltima prateleira - A-Bello, Bello-Ch ou Ci-D, Mele-Po ou Pr-Z (essas combinações de sílabas haviam se tornado nomes próprios que designavam regiões do saber universal: existiam o território (…) -
A liberdade e o poder do grupo
7 de abril, por Cardoso de CastroJean-Paul Sartre, Critique de la Raison dialectique, Gallimard, 1960, p. 456-457.
A ligação imediata entre liberdade e restrição deu origem a uma nova realidade, um produto sintético do grupo como tal… esta realidade, neste momento abstraída da nossa experiência do grupo, é simplesmente o poder difuso de jurisdição. Ainda temos que concordar: e só uso a palavra difusa para contrastá-la com órgãos especializados; na verdade, o indivíduo comum recebe, por meio de seu juramento, poder legal (…)