Schalow (FSPA) – Stimmung

Uma das principais formas pelas quais nos encontramos já situados no mundo são os estados de ânimo (moods, Stimmung), vinculados a um conjunto específico de circunstâncias. Os estados de ânimo não se limitam a condições subjetivas ou mesmo a emoções, mas são um modo fundamental de revelação pelo qual o eu se torna consciente do seu "ser", do seu lugar no mundo. Essa maneira de desvelamento precede o chamado caráter "afetivo" dos estados de ânimo, incluindo o desconforto que possam nos causar. De fato, certos estados como a angústia (Angst) podem ser intrinsecamente perturbadores, mas são formas fundamentais de afinação (Stimmung), que incutem a consciência do próprio fato de existir. Como afirma Medard Boss:

A angústia, sendo a "disposição fundamental mais característica da existência humana" (Heidegger), é a principal barreira do modo de existência mundano-isolado, com seus limites no tempo e espaço e suas restrições por objetivos mais estreitos.

Dada a imprevisibilidade e inevitabilidade dos estados de ânimo, podemos falar do eu como "lançado" no mundo. Devido a esse lançamento (Geworfenheit), também estamos encarnados na carne e, assim, inseridos em circunstâncias que não criamos. Stolorow faz uma observação importante sobre a conexão entre afetos e a abertura afetiva do ser-no-mundo:

"O termo de Heidegger para o fundamento existencial da afetividade (sentimentos e estados de ânimo) é Befindlichkeit. Literalmente, a palavra poderia ser traduzida como ’como-se-encontra-a-si-mesmo-idade’… A Befindlichkeit revela nosso já ter sido entregues à situacionalidade em que nos encontramos."

Já situados no mundo, somos assediados por uma gama de estados de ânimo e sentimentos, nos descobrindo vulneráveis de tal forma que, como seres encarnados, enfrentamos necessidades, desejos e vontades que nos ocupam cotidianamente. A busca do eu por seus desejos pode ser "equilibrada" e ordenada, seguindo protocolos diários e padrões de normalidade. Quando os desejos se tornam rebeldes e incontroláveis, a ponto de o eu "cair presa" deles, um caos pode irromper na tranquilidade do cotidiano. Um clima ou atmosfera favorável pode surgir, no qual os vícios se instalam e até proliferam.

Ter estados de ânimo pertence fundamentalmente ao cuidado (Sorge), ao que significa ser humano. Em outras palavras, os seres humanos nascem "humorados", no sentido de que estão sempre predispostos — ou até à mercê — de estados de ânimo específicos ao longo da vida. Mas os estados de ânimo não são meramente "condições subjetivas" da mente ou afetos mentais. Em vez disso, eles tingem nossas experiências como um todo, determinando como tudo o que encontramos no mundo nos aparece. Os estados de ânimo são o modo do eu de estar-afinado, moldando o "como" do seu comportamento diante das coisas, dos outros e até de sua própria identidade. Por exemplo, pode-se acordar de "mau humor", o que prejudica o dia inteiro. Os estados de ânimo refletem e revelam a totalidade da situação do eu, desvelando assim todo o espectro do ser-no-mundo.

Como Heidegger afirma nos Seminários de Zollikon (GA89  ), ao abordar a origem existencial do estresse:

"Assim entendido, esse estar sobrecarregado — o estresse — pertence à constituição existencial do ser humano. Na terminologia de Ser e Tempo   (§38), é um existencial e pertence ao contexto do fenômeno interpretado ali pelo termo ’queda’ [Verfallen]."

Nesse contexto, também devemos reconhecer a prevalência da depressão, tanto como expressão de nossa capacidade de "cair presa" quanto como fator psicológico que exacerba a dependência — especialmente de substâncias como o álcool, que por si só agrava os sintomas, mascarando-se como remédio. Na depressão, o eu se recolhe em um passado que diminui o desafio e o apelo das possibilidades futuras; o mal-estar é tanto uma fuga para a zona de conforto do status quo quanto uma temporalização na qual a resignação ao passado mina a promessa do futuro.