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Rorty (1999) – raciocínio humano

(Rorty1999 Rorty1999 RORTY, R. Ensaios sobre Heidegger e outros. M.A. Casanova. São Paulo: Relume Dumará, 1999 / RORTY, Richard. Ensaios sobre Heidegger e Outros. Lisboa: Instituto Piaget, sem data )

Heidegger preocupa-se em negar que exista um tópico de interrogação a-histórica chamado «raciocínio humano», ou «a estrutura da racionalidade» ou «a natureza da linguagem», que tenha sido objecto de interrogação filosófica em todas as épocas. Mesmo nos anos 1920, antes da «Kehre», Heidegger contradizia a crítica de Husserl Husserl
Edmund Husserl
EDMUND HUSSERL (1859-1938)
ao historicismo [1] dizendo coisas como:

A construção em filosofia é necessariamente destruição, isto é, uma des-construção (Abbau) dos conceitos tradicionais levados a cabo num recurso histórico à tradição. […] Porque a destruição pertence à construção, o conhecimento filosófico é essencialmente ao mesmo tempo, de certa maneira, conhecimento histórico [2].

Nos anos 1940, Heidegger concluiría que em Sein und Zeit GA2
Sein und Zeit
SZ
SuZ
S.u.Z.
Être et temps
Ser e Tempo
Being and Time
Ser y Tiempo
EtreTemps
STMS
STFC
BTMR
STJR
BTJS
ETFV
STJG
ETJA
ETEM
Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
não tinha ainda sido historicista o suficiente para conseguir esta destruição. Ao referir-se a esse livro inicial Heidegger diz: «Esta destruição, tal como a “fenomenologia” e todas as questões hermenêutico-transcendentais, ainda não foi pensada em termos da história do Ser.» [3] Heidegger identificava o «raciocínio humano», a «racionalidade» e o «senso comum sólido», tal como estes termos são utilizados pelos filósofos, com o inconsciente, uneigentlich, inquestionável uso de uma linguagem herdada. A filosofia não é simplesmente a utilização dessa tradição — não é simplesmente a distribuição de valores de verdade sobre uma variedade de frases que estão já «presentes» na linguagem — pois «toda a interrogação filosófica essencial é necessariamente intemporal. […] A filosofia é essencialmente intemporal pois é uma daquelas coisas raras que nunca poderá encontrar um eco imediato no presente» [4].


[1In, ex., Philosophie als strenge Wissenschaft.

[2Heidegger, The Basic Problems of Phenomenology, trad. Hofstadter (Bloomington: Indiana University Press, 1982), 23. O original encontra-se em Grundprobleme der Phänomenologie (Francoforte: Klostermann, 1975), 31.

[3Aber diese Destruktion ist wie die «Phänomenologie» und alles hermeneutisch-transzendentale Fragen noch nicht seinsgeschichtlich gedacht; Heidegger, Nietzsche II, p. 415. Agradeço a Hubert Dreyfus pelo facto de me ter chamado a atenção para esta passagem. A tradução inglesa é a partir de Heidegger, The End of Philosophy, ed. e trad. Joan Stambaugh (Nova Iorque: Harper and Row, 1973), 15.

[4Heidegger, Einführung in die Metaphysik (Tübingen: Niemeyer, 1953), 6. A tradução inglesa encontra-se em Introduction to Metaphysics, trad. Manheim (New Haven: Yale University Press, 1959), 8.