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Nietzsche (VP:254): estimação moral

quinta-feira 12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro

A questão da origem de nossas estimações e tábuas de valores (Gütertafeln) não coincide, de maneira alguma, com a sua crítica, como tão frequentemente se acreditou: se bem que o entendimento de uma pudenda origo [[Em latim no original: “origem infame”, “origem vergonhosa”. (N.T.)] qualquer para o sentimento traz consigo uma depreciação da coisa assim surgida e contra ela prepara uma disposição e uma atitude críticas.

De que valem as nossas estimações e tábuas de valores elas mesmas? O que vem à luz em sua dominação? Para quem? Com referência a quê? — Resposta: para a vida. Mas o que é vida? Aqui, portanto, necessita-se de uma nova e mais determinada apreensão do conceito “vida”. Minha fórmula para isso soa da seguinte maneira: vida é vontade de poder.

O que significa o estimar ele mesmo? Remonta a um outro mundo, a um mundo metafísico, como ainda Kant   acreditava (o qual antecede o grande movimento histórico),[[Referência ao movimento historicista alemão, que surgiu na esteira de Kant  , com autores como Ranke e Droysen, entre outros. Nietzsche   também pode estar se referindo a Hegel   e ao próprio idealismo alemão. (N.T.)] ou o rejeita? Em suma: onde ele “nasceu”? Ou ele não “nasceu”? — Resposta: o estimar moralmente é uma interpretação (Auslegung), uma maneira de interpretar (eine Art zu interpretieren). A interpretação, ela mesma, é um sintoma de um determinado estado fisiológico, tanto quanto de um determinado nível espiritual de juízos dominantes: Quem interpreta? — Nossos afetos (Affekte).

(NIETZSCHE  , Friedrich. A Vontade de Poder. Tr. Marcos Sinésio Pereira Fernandes e Francisco José Dias de Moraes. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, p. 152)