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TRANSCENDÊNCIA DO MUNDO

Ferreira da Silva (2010:158-159) – sujeito-objeto

A Natureza do Simbolismo

“A Natureza do Simbolismo”, Revista Brasileira de Filosofia, São Paulo, v. 12, fasc. 48, out./dez. 1962, p. 427-431.

FERREIRA DA SILVA Ferreira da Silva
Vicente Ferreira da Silva
VICENTE FERREIRA DA SILVA (1916-1963)

Citações retiradas da obra de Vicente Ferreira da Silva
, Vicente. Transcendência do Mundo. São Paulo: É Realizações, 2010, p. 158-159

É certo que na relação básica em que o homem ocidental se colocou face às coisas, a relação sujeito-objeto (sendo ele sempre um sujeito diante de ou contra um objeto), a própria transcendência do sujeito reduziu o mundo à pura res extensa. A negatividade do sujeito, o não-ser-objeto (negar de si a objetividade) como superação e como ir-além do objeto, que no fundo redunda em sua constituição, pois o objeto se constitui ao ser transcendido pelo Ichheit, pela [158] Euidade, nos remete às nascentes do status do objeto no mundo ocidental. A transcendência do sujeito não é aqui amor que expande e amplia o sentido e a operação do amado, não é respeito e obséquio à Vida em todos os seus aspectos, mas é justamente materialização e instrumentalização das aparências, redução da aparência aos esquemas espaciais e geométricos, num universo de realidades inermes. A consciência do homem ocidental que condiciona uma experiência do mundo e do divino é uma luta sem tréguas contra o Bilwelt, contra o mundo das Imagens: é a afirmação do Espírito, do Eu subjetivo-humano, como pura operação invisível e interior, como subjetividade infinita, contra as aparências cósmico-divinas. Se o amor é uma ilimitada franquia ao modo-de-ser do amado, uma pleonexia de seu ser, o ódio, pelo contrário, é uma vontade de extinção e paralisação do objeto do desagrado. A fixação e paralisação do mundo, a sua redução confinante ao puro ser-objeto, é o ódio ao mundo, o rancor às hierofanias cósmico-divinas que surgem do fundo das religiões bíblicas e que condicionaram o modo-de-ser conscienciológico do homem ocidental. A ordem espiritual, representando uma força de superação do mundo, uma ordem sobrenatural, e constituindo em última instância uma indisponibilidade, uma aversão, um ressentimento contra as presenças divinas que não assumissem o tipo teândrico de origem bíblica. Pois, foi justamente o gravame subjetivo de matiz invisível-espiritual que, em sua incidência sobre o mundo das Imagens, que em sua temível erosão ou melhor oclusão da alma-do-mundo e do homem, constituiu o nosso mundo vazio de presenças. Entretanto, como é fácil constatar, essa forma determinante da nossa cultura, esse dinamismo da práxis sujeitiforme não é uma genuína incidência ou epifania do divino, não é um mundo da grandeza e do excelso, mas sim o puro não-ser-mais do Mundo das Imagens. O cogito, enquanto subjetividade representa justamente um transcender como verdadeira vis at ergo, como suscitação de um ocorrer que ocorre como ocorrer do nada. Eis por que Nietzsche Nietzsche
Friedrich Nietzsche
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
tinha razão ao definir o avanço da história ocidental como o preamar do niilismo, isto é, do Nihil, do Nada.


Ver online : Vicente Ferreira da Silva (excertos de sua obra por termos relevantes)