A mensagem filosófica e política de sua réplica direcionada a Eichmann (e aos juízes) é a de que devemos ter clareza de que ninguém tem o direito de escolher com quem coabitar a Terra ou o mundo (Arendt mistura o sentido dessa distinção heideggeriana o tempo todo, sugerindo que não existe Terra sem seus habitantes). A coabitação com outros que não escolhemos é, de fato, uma característica permanente da condição humana. Exercer o direito de decidir com quem coabitar a Terra é recorrer a uma (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Butler (2017) – coabitar a Terra ou o mundo
11 de março, por Cardoso de Castro -
Butler (2017) – ser-com (Mitsein)
11 de março, por Cardoso de CastroCometeríamos um erro se imaginássemos um grupo de indivíduos se reunindo como uma coleção de atores individuais. Esses indivíduos só serão humanos se e quando a ação coletiva e conjunta se tornar possível. Na verdade, ser um humano é uma função, uma característica do agir em termos de igualdade com outros seres humanos. Aqui podemos ouvir os ecos do mitsein de Heidegger, mas também a fraca ressonância de uma coletividade de esquerda da qual Scholem desconfiava na caricatura que fez da (…)
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Butler (2022) – Antígona
11 de março, por Cardoso de CastroHeidegger traz uma longa reflexão sobre a tradução que Hölderlin faz de Antígona (1803), bem como sobre suas “Observações sobre Antígona”, com respeito às várias maneiras pelas quais Hölderlin apresenta a “excepcionalidade” da personagem. A proximidade da morte enfatizada nas “Observações sobre Antígona” corresponde em grande medida à leitura que Heidegger faz de Antígona como alguém cujo exílio estabelece sua relação essencial com um sentido de ser que está além da vida humana. Essa (…)
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Butler (2011) – temporalidade e momento
11 de março, por Cardoso de CastroA noção de temporalidade não deve ser interpretada como uma simples sucessão de "momentos" distintos, todos igualmente distantes uns dos outros. Esse mapeamento espacializado do tempo substitui um certo modelo matemático pelo tipo de duração que resiste a tais metáforas espacializantes. Esforços para descrever ou nomear esse intervalo temporal tendem a envolver mapeamentos espaciais, como argumentaram filósofos de Bergson a Heidegger. Portanto, é importante enfatizar o efeito de sedimentação (…)
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Allemann (1987:270-271) – poesia - poiesis
11 de março, por Cardoso de Castro(BA1987)
A regressão que Heidegger realiza na conferência sobre a técnica abre uma perspectiva nessa direção [do fundamento]. Essa regressão reconduz o conceito de causa (causa) ao pensamento grego. Tudo o que está ligado a um "fundamento", a uma "causa", no sentido de causa e causalidade, parece, sem ambiguidade, fazer parte do domínio da técnica e das ciências naturais, enquanto a poesia se caracteriza, para a representação metafísica, precisamente por estar livre das leis da (…) -
Allemann (1987:280-281) – tempo, metáfora do tecedura
11 de março, por Cardoso de Castro(BA1987)
A direção e a perspectiva em que uma análise temporal do domínio da poesia teria de se encaminhar nos são indicadas de forma alusiva pelas observações de Heidegger sobre uma máxima de Rivarol ((Em: Ernst Jünger, Rivarol, Frankfurt-s.-M., 1956, 196-98.)). Esta máxima fala do tecelão que tece seu tecido, mas invertendo de maneira notável a concepção comum do "fluxo do tempo". Essa inversão é encontrada em outras máximas do mesmo autor. Rivarol diz: "O movimento entre dois repousos é (…) -
Marion (2012) – excesso, demasia (surcroît)
11 de março, por Cardoso de Castro(MarionSurcroit)
Aqui se trata do excesso — do excesso da intuição sobre o conceito, do fenômeno saturado e de sua doação fora do comum —, e, além disso, mais uma vez .
Do excesso, primeiro. Os fenômenos aparecem sempre de acordo com a calma adequação neles da intuição com uma ou várias significações, ou seguindo um déficit medido desta sobre aquela? Ou, pelo contrário, alguns deles — os paradoxos — não aparecem precisamente graças (ou apesar de) um excesso irredutível da intuição sobre (…) -
Marion (2012) – evidência e verdade do dado
11 de março, por Cardoso de Castro(Marion2012)
[…] Evidence — justement, elle se signale de manière exemplaire au célèbre § 39 de la VIe Recherche logique, sous le titre « Evidence et vérité ». Il s’y agit de rien de moins que de définir la vérité. Or, tout en assumant le double héritage de la métaphysique depuis les médiévaux jusqu’à Kant (la vérité comme Uebereinstimmung, comme adequatio rei et intellectus) et de Descartes en particulier (la vérité comme évidence, donc comme perception de l ’ego), Husserl franchit un pas (…) -
Marion (1998) – o dar-se do fenômeno
10 de março, por Cardoso de Castro(MarionDado)
Podemos agora compreender como invocar um princípio na fenomenologia não contradiz, no entanto, o direito do fenômeno de se mostrar por si mesmo; de fato, a doação estabelece como princípio precisamente que nada precede o fenômeno, exceto sua própria aparição a partir de si mesmo; o que equivale a afirmar que o fenômeno advém sem outro princípio além de si mesmo. Em suma, o princípio, enquanto princípio da doação, deixa a primazia ao fenômeno – não se trata, portanto, tanto de (…) -
Marion (1998) – sou dado a mim mesmo
10 de março, por Cardoso de CastroHeidegger, «Was heisst “gegeben”, “Gegebenheit” – dieses Zauberwort der Phänomenologie und der “Stein des Anstosses” bei den anderen», Grundprobleme der Phänomenologie, WS 1919-1920, GA 58, p. 5. – Aqui, parece-nos, Heidegger indica que, assim como o «escândalo» do racionalismo vulgar, a «magia» de um encantamento supostamente místico também não oferece uma atitude apropriada ao que a doação exigiria. Ele acrescenta, para que não se subestime a dificuldade da doação, que ainda precisa ser (…)