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Allemann (1987:280-281) – tempo, metáfora do tecedura

terça-feira 11 de março de 2025, por Cardoso de Castro

(BA1987)

A direção e a perspectiva em que uma análise temporal do domínio da poesia teria de se encaminhar nos são indicadas de forma alusiva pelas observações de Heidegger sobre uma máxima de Rivarol ((Em: Ernst Jünger, Rivarol, Frankfurt-s.-M., 1956, 196-98.)). Esta máxima fala do tecelão que tece seu tecido, mas invertendo de maneira notável a concepção comum do "fluxo do tempo". Essa inversão é encontrada em outras máximas do mesmo autor. Rivarol diz: "O movimento entre dois repousos é a imagem do presente entre o passado e o futuro. O tecelão que faz sua tela sempre faz o que não é". Rivarol concebe, portanto, o passado e o futuro como estando em repouso. Não é o tempo que se move ("flui"), mas nós, enquanto agentes no presente (o tecelão), que realizamos um movimento de vai e vem entre o passado e o futuro. No entanto, observa Heidegger, essa concepção do tempo não vai além do horizonte aristotélico da compreensão do tempo a partir do movimento. Por outro lado, é preciso notar a estranha formulação de Rivarol: "O tecelão… sempre faz o que não é", o que equivale a dizer que sua [281] ocupação, ao fabricar a tela, é o não-ser. A pro-dução em si (no sentido amplo de ποίησις) não é, no sentido do ser presente, mas aparece sob a forma de um vai e vem "entre dois repousos", que são as dimensões da proveniência e do futuro. Observemos que, assim, Rivarol abre de certa forma uma perspectiva sobre o problema do ritmo poético, que não pode ser concebido adequadamente nem como estático (no sentido comum de um ser que subsiste), nem como dinâmico (a partir do princípio da mobilidade). O vai e vem, que é "a imagem do presente", aponta para o combate entre o desvelamento e o retraimento do ser, no qual a obra de arte aparece e resplandece com sua presença superior.