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Butler (2022) – Antígona
terça-feira 11 de março de 2025, por
Heidegger traz uma longa reflexão sobre a tradução que Hölderlin faz de Antígona (1803), bem como sobre suas “Observações sobre Antígona”, com respeito às várias maneiras pelas quais Hölderlin apresenta a “excepcionalidade” da personagem. A proximidade da morte enfatizada nas “Observações sobre Antígona” corresponde em grande medida à leitura que Heidegger faz de Antígona como alguém cujo exílio estabelece sua relação essencial com um sentido de ser que está além da vida humana. Essa participação no que não é vivo acaba se revelando como análoga à própria condição de vida. Como na leitura proposta por Jacques Lacan , Heidegger também afirma que “[Antígona] nomeia o próprio ser” (p. 118) e que essa proximidade do ser implica um necessário distanciamento dos seres vivos, ainda que esta seja a base de sua própria gênese.
De maneira similar, Heidegger entende a “lei não escrita” à qual Antígona se refere como uma relação com o ser e com a morte:
Antígona reconhece como adequado tudo que lhe é destinado do domínio do que quer que prevaleça além dos deuses superiores (Zeus) e além dos deuses inferiores […] Contudo, isso não se refere nem aos mortos, nem aos laços de sangue com seu irmão. O que determina Antígona é o que primeiro atribui fundamento e necessidade à distinção dos mortos e à prioridade do sangue. Isso, Antígona, e isso também significa o poeta, fica sem um nome. A morte e o ser humano, o ser humano e a vida corporificada (sangue), em cada caso, permanecem juntos. A “morte” e o “sangue” em cada caso nomeiam domínios diferentes e extremos do ser humano.
Em Martin Heidegger, Hölderlin’s hymn “The Ister”. Trad. William McNeill e Julia Davis (Bloomington: Indiana University Press, 1996, p. 117).
(BUTLER , J. A reivindicação de Antígona: O parentesco entre a vida e a morte. Rio de Janeiro, RJ: Editora Civilização Brasileira, 2022)