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Flusser – A Filosofia da Caixa Preta

terça-feira 18 de março de 2025, por Cardoso de Castro

Índice

1. A imagem

2. A imagem técnica

3. O aparelho

4. O gesto de fotografar

5. A fotografia

6. A distribuição da fotografia

7. A recepção da fotografia

8. O universo fotográfico

9. A urgência de uma filosofia da fotografia


O presente ensaio é resumo de algumas conferências e aulas que pronunciei sobretudo na França e na Alemanha. A pedido da European Photography, Göttingen, foram reunidas neste pequeno livro publicado em alemão em 1983. A reação do público (não apenas dos fotógrafos, mas sobretudo do interessado em filosofia) foi dividida, porém intensa. Em consequência à polêmica criada, escrevi outro ensaio “Ins Universum der technischen Bilder” (Adentrando ao universo das imagens técnicas [1]), publicado em 85, onde procuro ampliar e aprofundar as reflexões aqui apresentadas.

Estas partem da hipótese segundo a qual seria possível observar duas revoluções fundamentais na estrutura cultural, tal como se apresenta, de sua origem até hoje. A primeira, que ocorreu aproximadamente em meados do segundo milênio a.C., pode ser captada sob o rótulo “invenção da escrita linear” e inaugura a História propriamente dita; a segunda, que ocorre atualmente, pode ser captada sob o rótulo “invenção das imagens técnicas” e inaugura um modo de ser ainda dificilmente definível. A hipótese admite que outras revoluções podem ter ocorrido em um passado mais remoto, mas sugere que elas nos escapam.

Para que se preserve seu caráter hipotético, o ensaio não citará trabalhos precedentes sobre temas vizinhos, nem conterá bibliografia. Espera-se assim criar atmosfera de abertura para campo virgem. Não obstante, incorporará um breve glossário de termos explícitos e implícitos no argumento, no intuito de clarear o pensamento e provocar contra-argumentos. As definições no glossário não se querem teses para defesas, mas hipóteses para debates.

A intenção que move este ensaio é contribuir para um diálogo filosófico sobre o aparelho em função do qual vive a atualidade, tomando por pretexto o tema fotografia. Submeto-o, pois, à apreciação do público brasileiro. Faça-o com esperança e com receio. Esperança, porque, ao contrário dos demais públicos que me leem, sinto saber para quem estou falando; receio, por desconfiar da possibilidade de não encontrar reação crítica. Este prefácio se quer, pois, aceno aos amigos do outro lado do Atlântico e aos críticos da imprensa. Que me leiam e não me poupem.

Percebo que editar este ensaio no contexto brasileiro é empresa aventurosa. Quero agradecer aos que nela mergulharam, sobretudo Maria Lília Leão, por sua coragem e amizade. Que sua iniciativa contribua para o diálogo brasileiro.

V. F.

São Paulo, outubro de 1985.


[1O universo das imagens técnicas: elogio da superficialidade, Annablume, 2008. (N. Ed.)