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Nietzsche (VP:531) – julgar e predicados

quinta-feira 12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro

O julgar (Urtheilen) é a nossa crença (Glaube) mais antiga, nosso mais habitual considerar verdadeiro ou não verdadeiro, um afirmar ou negar, uma certeza de que algo é assim e não de outra maneira, uma crença de ter, aqui, realmente “conhecido” — o que em todo julgar é tido como verdadeiro?

O que são predicados? — Não tomamos as alterações em nós como tais, mas sim como um “em-si” (An-sich) que nos é estranho, que só “percebemos” (wahrnehmen): e não as estabelecemos como um acontecer (Geschehen), mas sim como um ser (Sein), como “propriedade” (Eigenschaft) — e inventamos, de acréscimo, uma essência na qual elas se prendem, isto é, postulamos o efeito como efetivante (Wirkung als Wirkendes) e o efetivante como o que é (Seiende). Mas também ainda, nessa formulação, o conceito “efeito” é arbitrário: pois daquelas alterações que acontecem em nós e das quais acreditamos firmemente não sermos nós mesmos as causas concluímos que elas têm de ser efeitos: segundo a conclusão: “em cada alteração toma parte um autor”. — Mas essa conclusão é já mitologia: ela separa o efetivante e o efetivar. Se digo “o relâmpago brilha”, então estabeleci o brilhar, por um lado, como atividade e, por outro, como sujeito: portanto, supus um ser para o acontecer que não é um e o mesmo em relação ao acontecer, mas antes permanece, é, e não “se torna”. — Postular o acontecer como efetivar: e o efeito como ser: esse é o duplo erro, ou interpretação, do qual nos fazemos culpados. (NIETZSCHE  , Friedrich. A Vontade de Poder. Tr. Marcos Sinésio Pereira Fernandes e Francisco José Dias de Moraes. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, § 531)