58. O que se pode prometer. — Pode-se prometer atos, mas não sentimentos; pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou sempre odiá-lo ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas ele pode prometer aqueles atos que normalmente são consequência do amor, do ódio, da fidelidade, mas também podem nascer de outros motivos: pois caminhos e motivos diversos conduzem a um ato. A promessa de sempre amar alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Nietzsche (HDH:58) – promessas
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro -
Nietzsche (VP:477) – “Pensar” não acontece absolutamente
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Fernandes & Moraes"]
Mantenho a fenomenalidade também do mundo interior: tudo o que se nos torna conscientes é, completamente, primeiro preparado, simplificado, esquematizado, interpretado — o processo real (wirklich) da “percepção” interna, a unidade causal entre pensamentos, sentimentos, desejos, como aquela entre sujeito e objeto, é completamente oculta para nós — e talvez seja uma pura ilusão. Esse “mundo interior aparente” é tratado com procedimentos e formas (…) -
Nietzsche (VP:483) – por meio do pensar é posto o eu
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Fernandes & Moraes"]
— por meio do pensar é posto o eu; mas até agora se acreditou, como o povo, que no “eu penso” jaz algo de imediatamente certo e que esse “eu” seria a causa dada do pensar, e por analogia com ela todos nós entenderíamos as outras relações causais. Por mais que essa ficção agora possa ser costumeira e indispensável — isso, somente, não prova nada contra o seu caráter fictício: uma crença pode ser condição da vida e, apesar disso, ser falsa. (201) (…) -
Nietzsche (VP:485) – sujeito -> substância
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Fernandes & Moraes"]
O conceito-substância é uma consequência do conceito sujeito: não o inverso! Se abandonarmos a alma, “O sujeito”, então falta a pressuposição para uma “substância” em geral. Obtêm-se graus do que é, perde-se o que é.
Crítica da “realidade” [“Wirklichkeit”]: a que conduz o “mais ou menos realidade (Wirklichkeit) ”, a gradação do ser em que acreditamos?
Nosso grau de sentimento de vida e de poder (lógica e contexto do vivido) dá-nos a medida do (…) -
Nietzsche: La distinction entre l’ésotérique et l’exotérique
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroLa distinction entre l’ésotérique et l’exotérique, autrefois adopté par les philosophes hindous, grecs, perses et mulsumans, partout où l’on croyait à une hiérarchie et non à une égalité de fait ou de droit, cette distinction ne repose pas autant qu’on le croit sur le fait que le philosophe exotérique reste à l’extérieur et doit tout voir, évaluer, mesurer et juger du dehors et non du dedans ; l’essentiel, c’est qu’il voit les choses d’en bas ; le philosophe ésotérique les voit d’en haut. F. (…)
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Nietzsche (VP:531) – julgar e predicados
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroO julgar (Urtheilen) é a nossa crença (Glaube) mais antiga, nosso mais habitual considerar verdadeiro ou não verdadeiro, um afirmar ou negar, uma certeza de que algo é assim e não de outra maneira, uma crença de ter, aqui, realmente “conhecido” — o que em todo julgar é tido como verdadeiro?
O que são predicados? — Não tomamos as alterações em nós como tais, mas sim como um “em-si” (An-sich) que nos é estranho, que só “percebemos” (wahrnehmen): e não as estabelecemos como um acontecer (…) -
Nietzsche (CI:VI,8) – invenção da finalidade
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroQual pode ser a nossa doutrina? — Que ninguém dá ao ser humano suas características, nem Deus, nem a sociedade, nem seus pais e ancestrais, nem ele próprio (— o contra-senso dessa última ideia rejeitada foi ensinado, como “liberdade inteligível”, por Kant, e talvez já por Platão). Ninguém é responsável pelo fato de existir, por ser assim ou assado, por se achar nessas circunstâncias, nesse ambiente. A fatalidade do seu ser não pode ser destrinchada da fatalidade de tudo o que foi e será. Ele (…)
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Nietzsche (VP:481) – não há fatos, só interpretações
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Fernandes & Moraes"]
Contra o positivismo, que fica no fenômeno “só há fatos”, eu diria: não, justamente não há fatos, só interpretações (Interpretationen). Não podemos verificar nenhum fato “em si”: talvez seja um absurdo querer uma tal coisa.
“Tudo é subjetivo”, dizeis: mas já isso é interpretação (Auslegung). O “sujeito” não é nada de dado, mas sim algo a mais inventado, posto por trás. – É afinal necessário pôr o intérprete por trás da interpretação? Isso já é (…) -
Nietzsche (VP:489) – O fenômeno do corpo é o fenômeno mais rico
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Fernandes & Moraes"]
Tudo o que entra na consciência como “unidade” é já imensamente complicado: temos sempre somente uma aparência de unidade.
O fenômeno do corpo é o fenômeno mais rico, mais claro, mais compreensível: deve ser posto metodicamente em primazia, sem que descubramos algo sobre seu significado último.
[tabby title="Kaufmann"]
Everything that enters consciousness as “unity” is already tremendously complex: we always have only a semblance of unity.
The (…) -
Nietzsche (VP:659) – corpo - nossa posse mais própria
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Fernandes & Moraes"]
Seguindo o fio condutor do corpo. — Posto que “a alma” foi um pensamento atraente e misterioso, do qual os filósofos, com razão, só se separaram a contragosto — talvez aquilo pelo que eles, a partir de então, a trocaram seja ainda mais atraente, ainda mais misterioso. O corpo humano, no qual tanto o passado mais longínquo quanto o mais próximo de todo o devir orgânico torna-se de novo vivo e corporal, por meio do qual, sobre o qual e para além do qual (…)