Quando nos fazemos prescrições e nos interditamos certas ações a partir do instinto comunitário, então nós vedamos, se há nisso razão, não uma modalidade de “ser”, não uma “mentalidade”, mas antes apenas uma certa direção e aplicação útil desse “ser”, dessa “mentalidade”. Mas então vem, pelo seu lado, o ideólogo da virtude, o moralista, e diz: “Deus vê o coração! Que importa que vos abstenhais de determinadas ações: nem por isso sois melhores!” Resposta: meu nobre senhor virtuoso e de (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Nietzsche (VP:281) – eticidade
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro -
Nietzsche (VP:284) – os desejos e estados louvados
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroOs desejos e estados louvados: — tranquilo, justo, módico, modesto, respeitoso, atencioso, valente, casto, honesto, fiel, crente, franco, confiante, abnegado, compassivo, solícito, consciencioso, simples, suave, justo, generoso, indulgente, obediente, desinteressado, sem inveja, bondoso, trabalhador -
Deve-se distinguir: em que medida semelhantes características são requeridas como meios para uma determinada vontade e para um determinado fim (frequentemente, um “mau” fim) — ou como (…) -
Nietzsche (GC:2) – filosofia como exegese do corpo?
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroQualquer filosofia que coloque a paz mais alta do que a guerra, qualquer ética que conceba negativamente a felicidade, qualquer metafísica, qualquer física que encarem um final, um qualquer estado definitivo, qualquer aspiração, sobretudo estética ou religiosa, possuindo um ao lado, um para-além, um de-fora, um por-cima, autorizam a que se procure saber se não foi a doença que inspirou o seu filósofo. Dissimulam-se inconscientemente as necessidades fisiológicas do homem, sobrecarregam-se com (…)
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Nietzsche (GM:Capítulo 2) – responsabilidade
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Paulo César de Souza"]
1. Criar um animal que pode fazer promessas — não é esta a tarefa paradoxal que a natureza se impôs, com relação ao homem? Não é este o verdadeiro problema do homem?… O fato de que este problema esteja em grande parte resolvido deve parecer ainda mais notável para quem sabe apreciar plenamente a força que atua de modo contrário, a do esquecimento. Esquecer não é uma simples vis inertiae (força inercial), como creem os superficiais, mas uma força (…) -
Nietzsche (VP:484) – é pensado, há pensante
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Fernandes & Moraes"]
“É pensado: consequentemente há pensante”: a isso chega a argumentação de Cartesius (Descartes). Mas isso significa postular nossa crença no conceito de substância já como “verdadeira a priori” — que, quando seja pensado, deva haver alguma coisa “que pense” é, porém, apenas uma formulação de nosso hábito gramatical, que põe para um fazer (Tun) um agente (Täter). Em resumo, aqui já se propõe um postulado lógico-metafísico — e não somente há (…) -
Nietzsche (ABM:17) – sujeito "eu" não conjuga "pensar"
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Márcio Pugliesi"]
Quando se fala da superstição dos lógicos não deixo nunca de insistir num pequeno fato que as pessoas que padecem desse mal não confessam senão através de imposição. É o fato de que um pensamento ocorre apenas quando quer e não quando "eu" quero, de modo que é falsear os fatos dizer que o sujeito "eu" é determinante na conjugação do verbo "pensar". "Algo" pensa, porém não é o mesmo que o antigo e ilustre "eu", para dizê-lo em termos suaves, não é mais que (…) -
Nietzsche (GC 345): problema da moral
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Alfredo Margarido"]
345 — O problema da moral. — A falta de personalidade vinga-se por toda a parte; uma personalidade enfraquecida, frágil, apagada, que se nega e se renega a si própria deixa de valer seja o que for, sobretudo para a filosofia. O “desinteresse” não tem algum valor, nem no céu nem na terra; os grandes problemas exigem todos o grande amor, e só os espíritos vigorosos, nítidos e duros, de raiz sólida, são capazes desse grau de amor. Há uma diferença enorme (…) -
Nietzsche (ABM 186): a ciência da moral
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Pugliesi"]
O sentimento moral é presentemente na Europa tão fino, tardio, múltiplo, irritável, refinado, quanto a "ciência moral" é ainda jovem, principiante, entorpecida e grosseira; um contraste atraente, que por vezes se manifesta na própria pessoa do moralista.
O próprio título "ciência da moral" é relativamente aquilo que quer significar muito presunçoso e contrário ao bom gosto, que prefere expressões mais modestas.
Deveria ter a coragem de confessar aquela coisa (…) -
Nietzsche (VP:254): estimação moral
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroA questão da origem de nossas estimações e tábuas de valores (Gütertafeln) não coincide, de maneira alguma, com a sua crítica, como tão frequentemente se acreditou: se bem que o entendimento de uma pudenda origo [[Em latim no original: “origem infame”, “origem vergonhosa”. (N.T.)] qualquer para o sentimento traz consigo uma depreciação da coisa assim surgida e contra ela prepara uma disposição e uma atitude críticas.
De que valem as nossas estimações e tábuas de valores elas mesmas? O que (…) -
Nietzsche (EH:3) – Inspiração
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Paulo César Lima de Souza"]
3. Alguém, no final do século XIX, tem nítida noção daquilo que os poetas de épocas fortes chamavam inspiração? Se não, eu o descreverei. — Havendo o menor resquício de superstição dentro de si, dificilmente se saberia afastar a ideia de ser mera encarnação, mero porta-voz, mero medium de forças poderosíssimas. A noção de revelação, no sentido de que subitamente, com inefável certeza e sutileza, algo se torna visível, audível, algo que comove e (…)