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GA24:104-105 – ser inato [Eingeborenheit]
quarta-feira 20 de novembro de 2024
Ainda podemos exprimir a consonância [Einstimmigkeit] do direcionamento desse caminho [Wegrichtung] em meio às interpretações filosóficas de ser e realidade efetiva [Wirklichkeit] por meio de uma outra formulação do problema. Ser, realidade efetiva e existência [Existenz] estão entre os conceitos mais gerais que o eu por assim dizer traz consigo. Por isso, costumou-se denominar e ainda se denominam esses conceitos “ideias inatas” [eingeborene Ideen], ideae innatae. Elas acham-se por natureza no ser-aí humano. Com base em sua constituição ontológica [Seinsverfassung], esse ser-aí traz consigo um ver [Sehen], ιδειν, uma compreensão de ser [Verstehen von Sein], realidade efetiva [Wirklichkeit], existência [Existenz]. Leibniz
Leibniz
LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm (1646-1716). Leibniz centraliza sua reflexão sobre o "tema" que H tem por central em toda filosofia desde Platão e Aristóteles: a questão do ser. (LDMH)
diz [113] em muitas passagens, ainda que de maneira muito mais tosca e plurissignificativa do que Kant
Kant
Emmanuel Kant (Immanuel en allemand), 1724-1804, é um dos autores de predileção de H., um daqueles do qual mais falou.
, que só apreendemos na reflexão sobre nós mesmos o que seriam ser, substância [Substanz], identidade [Identität], duração [Dauer], transformação [Veränderung], causa [Ursache] e efeito [Wirkung]. A doutrina do ser inato das ideias impera inteiramente de maneira mais ou menos clara sobre toda a filosofia. Contudo, ela é mais um desvio e um afastamento do problema do que uma solução. As pessoas se recolhem de maneira simples demais em um ente e nas propriedades desse ente, o ser inato [Eingeborenheit], uma propriedade que não se esclarece mais ulteriormente. O ser inato não deve ser entendido aqui, por mais obscuramente que ele seja concebido, no sentido fisiológico-biológico, mas deve ser dito com ele o fato de que ser e existência são compreendidos antes do que o ente. Mas isso não significa que ser, existência e realidade efetiva seriam aquilo que o indivíduo particular primeiramente apreende em seu desenvolvimento biológico – que as crianças primeiro compreenderiam o que é existência. Ao contrário, essa expressão plurissignificativa “ser inato” indica apenas o anterior, o antecedente, o a priori, que se identifica desde Descartes
Descartes
H. consagrou dois cursos e quatro seminários a Descartes. A desconstrução da metafísica heideggeriana conduz um diálogo intenso com Descartes.
até Hegel
Hegel
Georg Wilhelm Friedrich Hegel
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831)
com o subjetivo. Só podemos arrancar desse beco sem saída o problema do esclarecimento de ser ou colocar esse problema pela primeira vez propriamente como problema, se perguntarmos: O que significa esse ser-inato, como é que ele é possível com base na constituição ontológica do ser-aí – como precisamos circunscrevê-lo? O ser-inato não é nenhum fato fisiológico-biológico, mas seu sentido reside na direção de que ser, existência, é anterior ao ente. Ele precisa ser concebido no sentido filosófico-ontológico. Por isso, também não se pode achar que esses conceitos e princípios seriam inatos, porque todos os homens reconhecem a validade dessas proposições. A concordância dos homens quanto à validade do princípio de não contradição é simplesmente um sinal do ser-inato, mas não o seu fundamento. O retorno à concordância e ao assentimento geral ainda não é nenhuma fundamentação filosófica dos axiomas lógicos ou ontológicos. Nós veremos em meio à consideração da segunda tese, a tese de que a todo ente pertence um quid e um modo de ser, o fato de que [114] se abre lá o mesmo horizonte, isto é, a tentativa de esclarecer os conceitos de ser a partir do retomo ao ser-aí do homem. Com certeza, também se mostrará que esse retorno, precisamente no que concerne a esse problema na ontologia antiga e medieval, não é tão expressamente formulado quanto em Kant
Kant
Emmanuel Kant (Immanuel en allemand), 1724-1804, é um dos autores de predileção de H., um daqueles do qual mais falou.
. Faticamente, porém, ele se acha presente diante de nós.
[HEIDEGGER, Martin. Os problemas fundamentais da fenomenologia. Tr. Marco Antônio Casanova
Casanova
Marco Antonio Casanova
Marco Casanova
CASANOVA, Marco Antonio. Filósofo e tradutor para português das obras de Heidegger.
. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 112-114]
Ver online : Die Grundprobleme der Phänomenologie [GA24]