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Husserl – O sentido da história e a filosofia moderna
segunda-feira 18 de novembro de 2024
Se refletimos nos efeitos da evolução das ideias filosóficas sobre toda a humanidade (aquela que não se ocupa ela mesma dos problemas filosóficos), devemos dizer: só a compreensão interna do vai e vem da filosofia moderna, de Descartes Descartes H. consagrou dois cursos e quatro seminários a Descartes. A desconstrução da metafísica heideggeriana conduz um diálogo intenso com Descartes. aos nossos dias, uniforme apesar de todas as suas contradições, torna possível uma compreensão do nosso próprio tempo. As verdadeiras lutas do nosso tempo e as únicas que têm um sentido são as lutas entre um humanismo que já ruiu e um humanismo ainda apoiado sobre o seu fundamento, mas que luta para conservar esse fundamento ou para pôr um novo. As lutas espirituais propriamente ditas do humanismo europeu enquanto tal desenrolam-se como lutas entre filosofias, a saber entre as filosofias cépticas — que são, antes, «não filosofias», que da filosofia guardaram o nome mas não a missão — e as filosofias verdadeiras e ainda vivas. Ora, a sua vitalidade reside precisamente em elas combaterem pelo seu sentido verdadeiro e autêntico e, por isso mesmo, pelo sentido de um humanismo autêntico. Conduzir a razão latente à compreensão das suas possibilidades e, assim, mostrar claramente que a possibilidade de uma metafísica é uma possibilidade verdadeira, eis o único caminho para introduzir uma metafísica ou uma filosofia universal na via laboriosa da realização.
Só por este meio se pode decidir se o fim inato do humanismo europeu desde o nascimento da filosofia grega, fim que consiste em o humanismo querer ser um humanismo pela razão filosófica e não acreditar poder ser um humanismo senão assim — neste movimento infinito da razão latente para a razão evidente e no esforço infinito de se dar normas graças precisamente a esta verdade e a esta autenticidade à escala humana — se este fim, digo, é uma pura quimera, ou um simples fato histórico, uma aquisição fortuita de uma humanidade fortuita no meio de outras humanidades e de outras historicidades. Ou então se no humanismo grego não aflorou pela primeira vez o que está contido essencialmente, enquanto enteléquia, no humanismo. Enquanto tal, o Humanismo tomado em sentido absoluto consiste essencialmente em «ser homem» nas humanidades religadas pelos elos de geração e de sociedade; e se o homem é um ser razoável (animal racional), é-o somente na medida em que toda a sua humanidade é humanidade racional — orientada de um modo latente para a razão ou orientada manifestamente para essa enteléquia tornada consciente de si mesma, tornada clara para si mesma e que dirige agora conscientemente e segundo a necessidade do seu ser a evolução da humanidade.
[A Crise das Ciências Europeias, trad. E. Gerrer, Les Études Philosophiques, n.° 2, 1949, pp. 139-140]
Ver online : Edmund Husserl