Quanto à tragédia, sugiro Notas do Subsolo de Dostoiévski ou, para traduzir o título russo (Zapiski iz podpol’ya) de forma mais literal, Anotações de Sob o Assoalho. O edifício sob cujo assoalho as anotações se originam é o da ciência ou da tecnologia, chamado aqui de “palácio de cristal”. Dentro do palácio, tudo é cristalino, ou seja, racional, calculável, previsível. Mas sob o assoalho — na experiência cotidiana — as coisas são obscuras, caóticas, aleatórias, irracionais. O autor das (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Rojcewicz (2006) – Uma metáfora do pensamento calculativo
4 de março, por Cardoso de Castro -
sujeito-objeto (STMS)
4 de março, por Cardoso de CastroObjekt, Gegenstand, Subjekt. VIDE Objetivierung, Vergegenständlichung
Na própria presença (Dasein) e para ela, esta constituição de ser é, desde sempre e de alguma maneira, reconhecida. No entanto, para ser também conhecida, o conhecer explícito nessa tarefa toma a si mesmo, enquanto conhecimento do mundo, como relação exemplar entre “alma” e mundo. Por isso, conhecer o mundo (noein), dizer e discutir o “mundo” (logos) funcionam como modo primário de ser-no-mundo, embora este último não (…) -
synthèse (ETJA)
4 de março, por Cardoso de CastroSynthesis, Synthese
Et c’est seulement parce que la fonction du logos en tant qu’apophansis tient à ce qu’il fait voir quelque chose en le mettant en lumière, ce n’est qu’en raison de cela que le logos peut avoir pour structure la forme de la synthesis (synthèse). En l’occurrence, ce que dit la synthèse, ce n’est pas le fait d’associer et de nouer entre elles des représentations (Vorstellung), ce n’est pas le fait de bricoler (Hantieren) avec des événements psychiques, toutes associations (…) -
Kierkegaard (CA:Caput III) – O possível corresponde com o porvir
1º de fevereiro, por Cardoso de CastroO possível corresponde perfeitamente com o porvir. Para a liberdade, o possível é o porvir; para o tempo, o porvir é o possível. Na vida individual, a angústia corresponde a ambos. Um exato e correto uso linguístico vincula, portanto, ambos: angústia e porvir. Costuma-se dizer, é verdade, que a gente se angustia pelo passado, e isso parece opor-se ao que foi dito. Observando-se, todavia, mais demoradamente, mostra-se que quando se diz isso de algum modo se vislumbra o porvir. O passado, pelo (…)
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Nietzsche (GC:341) – O maior dos pesos
1º de fevereiro, por Cardoso de Castro341. O maior dos pesos. — E se um dia, ou uma noite, um demônio lhe aparecesse furtivamente em sua mais desolada solidão e dissesse: “Esta vida, como você a está vivendo e já viveu, você terá de viver mais uma vez e por incontáveis vezes; e nada haverá de novo nela, mas cada dor e cada prazer e cada suspiro e pensamento, e tudo o que é inefavelmente grande e pequeno em sua vida, terão de lhe suceder novamente, tudo na mesma sequência e ordem — e assim também essa aranha e esse luar entre as (…)
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Deleuze (2005:112) – Sartre
1º de fevereiro, por Cardoso de CastroFalamos de Sartre como se ele pertencesse a uma época acabada. Mas ai! Nós é que estamos já acabados na ordem moral e no conformismo atual. Pelo menos Sartre nos permite uma vaga espera dos momentos futuros, de retomadas nas quais o pensamento se reformará e refará suas totalidades, como potência ao mesmo tempo coletiva e privada. E por isso que Sartre continua sendo nosso mestre. O último livro de Sartre, A crítica da razão dialética, é um dos livros mais belos e mais importantes surgidos (…)
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Deleuze (2005:109-110) – Tudo passava por Sartre…
1º de fevereiro, por Cardoso de CastroGerações sem “mestres” são uma tristeza. Nossos mestres não são apenas os professores públicos, ainda que tenhamos uma grande necessidade de professores. No momento em que atingimos a idade adulta, nossos mestres são aqueles que nos tocam com uma novidade radical, aqueles que sabem inventar uma técnica artística ou literária e encontrar as maneiras de pensar que correspondem à nossa modernidade, quer dizer, tanto às nossas dificuldades como aos nossos entusiasmos difusos. Sabemos que existe (…)
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Autoconsciência [self-awareness] (Nishida)
17 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroHeisig2001
O uso do termo "autoconsciência" (self-awareness) para apontar algo distinto do que a filosofia ocidental chama de "autoconsciência" (self-consciousness) só gradualmente ganhou força nos escritos de Nishida. Pode-se dizer que foi uma função da mudança de foco da experiência em geral para a busca do que ele chamou de "um ponto de vista do eu" — uma forma de desabsolutizar a subjetividade ordinária do ego. Essa mudança não estava de forma alguma completa quando ele terminou (…) -
O Absoluto como vontade (Nishida)
17 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroHeisig2001
Mesmo antes de Uma Investigação sobre o Bem ser concluído, Nishida já havia se interessado pelos neokantianos, começando pelos pensadores de Freiburg, Windelband e Rickert. Inicialmente, ele via neles — e também em Husserl — aliados na tentativa de "discutir a questão dos valores teóricos exclusivamente do ponto de vista da experiência pura". Na verdade, isso não passava de um palpite educado de sua parte sobre essa grande corrente da filosofia europeia contemporânea, e acabou (…) -
As conferências de William James sobre a experiência religiosa (Wahl)
17 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroWahl1932
Foi na altura das suas Gifford Lectures que a influência de Myers se fez sentir mais vividamente sobre ele. Até esse momento, a sua crença nos fenómenos psíquicos e a sua crença nos fenómenos religiosos tinham-se desenvolvido, mas até certo ponto independentemente uma da outra. Agora eles se uniram. A importância da ideia do subliminar, com a qual Myers se esforçou por traduzir muitas coisas que estão para além do intelecto, mostra-se-lhe cada vez mais claramente. A religião (…)