Página inicial > Glossário > Subjektität
Subjektität
quarta-feira 5 de julho de 2023
Subjektität, subjectness, subiectity, subjetidade
Falar da subjetidade (não subjetividade [nicht Subjektivität]) do ser humano [Menschenwesens] como do fundamento para a objetividade [Objektivität] de todo e qualquer sujeito (tudo o que se presenta) parece, sob todos os pontos de vista, paradoxal e artificial. A razão desta aparência reside no fato de apenas termos começado a perguntar por que e de que modo se torna necessário, no seio da metafísica moderna, um pensamento que represente Zaratustra como figura [Gestalt]. A própria explicação, tantas vezes repetida, de que o pensamento de Nietzsche
Nietzsche
Friedrich Nietzsche
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
descambou de modo fatal para a esfera da poesia, é apenas uma renúncia ao questionamento pensante. Entretanto, é preciso reconduzir nosso pensamento até a dedução transcendental das categorias de Kant
Kant
Emmanuel Kant (Immanuel en allemand), 1724-1804, é um dos autores de predileção de H., um daqueles do qual mais falou.
para compreendermos que a visualização da figura [Gestalt] como a fonte da doação de sentido [Quelle der Sinngebung] envolve a legitimação do ser do ente. Seria uma explicação [Erklärung] demasiado grosseira se se quisesse dizer, neste caso, que, em um mundo secularizado, o homem, enquanto causa do ser do ente, passaria a ocupar o lugar de Deus. O fato de que certamente está em jogo o ser humano não permite dúvida alguma. Mas o ser (essência [Wesen] em sentido verbal) do homem, “o ser-aí do homem” [das Dasein im Menschen] (veja-se Kant
Kant
Emmanuel Kant (Immanuel en allemand), 1724-1804, é um dos autores de predileção de H., um daqueles do qual mais falou.
e o problema da metafísica, 1- ed., 1929, § 43) não é nada de humano [nichts Menschliches]. Para que a ideia do ser humano possa atingir o nível daquilo que repousa no fundamento de tudo o que se presenta enquanto a presença que, primeiramente, proporciona uma “representação” no ente e, assim, o “legitima” enquanto ente, deve o homem, em primeiro lugar, ser representado no sentido de fundamento determinante. Ora, mas determinante para quê? Para a consolidação [Sicherung] do ente em seu ser. Em que sentido se manifesta o “ser” quando se trata da consolidação do ente? No sentido do constatável, ou seja, representável [408], em toda parte e a cada momento. Compreendendo desta maneira o ser, Descartes
Descartes
H. consagrou dois cursos e quatro seminários a Descartes. A desconstrução da metafísica heideggeriana conduz um diálogo intenso com Descartes.
encontrou a subjetividade do subiectum no ego cogito do homem finito. O aparecimento da figura metafísica do homem, enquanto fonte da doação de sentido, é a última consequência da instauração do ser humano como sujeito determinante. Em consequência disto, transforma-se a forma interior da metafísica, que repousa no que se pode designar como transcendência. Essa tem, no interior da metafísica, por razões essenciais, uma multiplicidade de significados. Onde esta multivocidade não é levada em consideração alastra-se uma insanável confusão que pode ser considerada como a característica da representação metafísica ainda hoje corrente. [GA9GS:407-408]
VIDE: Subjektität
Deve-se a Heidegger um dos fundamentos da arqueologia do sujeito: a distinção entre sub-jetidade (Subjektität) e sub-jetividade (Subjektivität), exposta em um texto de 1941, que foi publicado vinte anos mais tarde como apêndice do segundo volume do livro sobre Nietzsche
Nietzsche
Friedrich Nietzsche
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
— A Metafísica como História do Ser [Cf. M. Heidegger, Die Metaphysik als Geschichte des Seins in Nietzsche
Nietzsche
Friedrich Nietzsche
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
, t. ii, pp. 399-458 [ga 6.2] = “La métaphysique comme histoire de l’être”, em Nietzsche
Nietzsche
Friedrich Nietzsche
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
, 1.11, 1971, pp. 319-365.]. Subjektität designa a determinação metafísica fundamental do ser em sua história, da história metafísica do ser, da história do ser como metafísica (“Das Sein ist in seiner Geschichte als Metaphysik durchgängig Subjektität” [GA6
GA6
GA6T1
GA6T2
GA6-1
GA6-2
GA6PT
GA6T1PT
GA6T2PT
GA6ES
GA6T1ES
GA6T2ES
GA6T1EN
GA6T2EN
GA6T1FR
GA6T2FR
N I
N II
GA6.1 = NIETZSCHE I e GA6.2 = NIETZSCHE II
.2, p. 411]). Ao introduzir a palavra “sub-jetidade”, Heidegger quer fazer entender que: [149]
1. o ser é metafisicamente determinado pelo subiectum latino, isto é, mais originalmente pelo ὑποκείμενον grego, não pelo “eu” ou a “egoidade” [GA 6.2, pp. 410-411: “Der Name Subjektität soll betonen, daß das Seinzwar vom subiectum her, aber nicht notwendig durch ein Ichbestimmt ist. Überdies enthält der Titel zugleich eine Verweisung in das ὑποκείμενον und damit in den Beginn der Metaphysik, aber auch die Vordeutung in den Fortgang der neuzeitlichen Metaphysik, die in der Tat die ‘Ichheit’ und vor allem die Selbstheit des Geistes als Wesenszug der wahren Wirklichkeit in Anspruch nimmt”. Essa tese é solidária a uma interpretação do ἐνέργεία como Wirklichkeit, cujo estatuto epocal é fixado na frase célebre (GA6
GA6
GA6T1
GA6T2
GA6-1
GA6-2
GA6PT
GA6T1PT
GA6T2PT
GA6ES
GA6T1ES
GA6T2ES
GA6T1EN
GA6T2EN
GA6T1FR
GA6T2FR
N I
N II
GA6.1 = NIETZSCHE I e GA6.2 = NIETZSCHE II
.2, p. 376, trad. cit., pp. 331-332, modificada) atribuindo à “mutação do ἐνέργεια em actualitas (realidade eficiente)” a promoção do “real efetivo” à condição de único “ente autêntico” – tese e frase que, certamente, podem ser discutidas por si mesmas. É o que faremos no volume III.], o que significa que
2. a “subjetividade” da metafísica moderna é um “modo de subjetidade” [GA6
GA6
GA6T1
GA6T2
GA6-1
GA6-2
GA6PT
GA6T1PT
GA6T2PT
GA6ES
GA6T1ES
GA6T2ES
GA6T1EN
GA6T2EN
GA6T1FR
GA6T2FR
N I
N II
GA6.1 = NIETZSCHE I e GA6.2 = NIETZSCHE II
.2, p. 411: “Versteht man unter Subjektivität dieses, daß das Wesen der Wirklichkeit in Wahrheit – d.h. für die Selbstgewißheit des Selbstbewußtseins — mens sive animus, ratio, Vernunft, Geist, ist, dann erscheint die “Subjektivität” als eine Weise der Subjektität”.], e que
3. a passagem da “subjetidade” à “subjetividade”, que assinala a entrada na modernidade, “se deixa pensar a partir de Descartes
Descartes
H. consagrou dois cursos e quatro seminários a Descartes. A desconstrução da metafísica heideggeriana conduz um diálogo intenso com Descartes.
, como o momento em que o ego, que se tornou O “sujeito insigne”, adquire o estatuto do ente “mais verdadeiro” [GA6
GA6
GA6T1
GA6T2
GA6-1
GA6-2
GA6PT
GA6T1PT
GA6T2PT
GA6ES
GA6T1ES
GA6T2ES
GA6T1EN
GA6T2EN
GA6T1FR
GA6T2FR
N I
N II
GA6.1 = NIETZSCHE I e GA6.2 = NIETZSCHE II
.2, p. 411: “Wo aber die Subjektität zur Subjektivität wird, da hat das seit Descartes
Descartes
H. consagrou dois cursos e quatro seminários a Descartes. A desconstrução da metafísica heideggeriana conduz um diálogo intenso com Descartes.
ausgezeichnete subiectum, das ego, einem mehrsinnigen Vorrang. Das ego is einmal das wahrste Seiende, das in seiner Gewißheit zugänglichste”.].
A distinção Subjektität-Subjektivität não foi formulada de chofre. Ela veio aclarar um conjunto de análises empreendidas desde Sein und Zeit
GA2
Sein und Zeit
SZ
SuZ
S.u.Z.
Être et temps
Ser e Tempo
Being and Time
Ser y Tiempo
EtreTemps
STMS
STFC
BTMR
STJR
BTJS
ETFV
STJG
ETJA
ETEM
Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
e de maneira mais insistente, na mesma [150] época, nos Problemas Fundamentais da Fenomenologia. Essas análises, a meu ver, deixam-se agrupar sob um título único, o de atributivismo, que proponho introduzir como principal ferramenta histórica metafilosófica da arqueologia do sujeito. [LiberaAS:149-151]