Mas voltemos às “questões” (Fragen) — em vez de “temas” — da meditação heideggeriana.
1) Tudo o que somos não está condicionado de alto a baixo por esse “acontecimento inaparente”, ou seja, que permanece no subentendido do inaparente (unscheinbare Ereignis): a manifestação do ἐόν grego como aquilo que “no passado, assim como agora e para sempre, é entregue (cai) como o essencial à meditação dos homens, a fim de incessantemente provocá-los à busca e mantê-los na dificuldade do problema” (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
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Beaufret (1998:27-29) – ἐόν ἔμμεναι, das Seiende-Sein, ser-ente
3 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro -
Malpas (1999:7-10) – experienciar o lugar
2 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro[…] Dentro das tradições fenomenológica e hermenêutica, a ideia da inseparabilidade das pessoas dos lugares que habitam é um tema especialmente importante no trabalho de Martin Heidegger. Embora Ser e Tempo, de Heidegger, forneça uma análise um tanto problemática do papel da espacialidade e, portanto, também do lugar na estrutura da existência humana (ou propriamente do Dasein), ainda assim a concepção fundamental de Heidegger da existência humana como “ser-no-mundo” implica a (…)
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Malpas (2012:1-4) – topologia filosófica
2 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroA ideia de lugar — de topos — perpassa o pensamento de Martin Heidegger quase desde o início. Embora nem sempre seja tematizada diretamente — às vezes aparentemente obscurecida, até mesmo deslocada, por outros conceitos — e expressa por meio de muitos termos diferentes (Ort, Ortschaft, Stätte, Gegend, Dasein, Lichtung, Ereignis), é impossível pensar com Heidegger a menos que nos sintonizemos com a própria sintonia de Heidegger com o lugar. Isso é algo que pode ser observado não apenas no (…)
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Malpas (2006:67-68, 77-78) – ser-em
2 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroSer e Tempo [SZ] contém muitos elementos da análise preliminar que já encontramos em seu pensamento anterior. Ele começa com a questão do ser, mas rapidamente passa a demonstrar a maneira pela qual essa questão já está implicada com a questão do ser daquele modo de ser que é o ser-aí e com o caráter de seu ser como ser-no-mundo. De uma perspectiva topológica, é notável, no entanto, que a análise substantiva da divisão I de Ser e Tempo comece com o problema de como entender a noção de (…)
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Malpas (2006:40-42) – situação
2 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroEm um ensaio agora famoso, escrito para o aniversário de oitenta anos de Heidegger, Hannah Arendt chama a atenção para o modo como, em seu ensino no início da década de 1920, Heidegger ofereceu uma concepção revitalizada da filosofia e da prática filosófica, que enfatizava a ideia da filosofia como conectada aos problemas da “vida”. Isso não implicava a promessa de alguma forma de “Lebensphilosophie”, mas sim a articulação de uma ideia de filosofia, bem como de um modo de filosofar, que via (…)
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Schürmann (1996:12-14) – nossa adição fantasmática
2 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro“Ali, aquela montanha! Ali, aquela nuvem! O que há de “real” nisso? Subtraiam apenas o fantasma e toda a adição humana, seus sóbrios! Se ao menos vocês pudessem!” [F. Nietzsche, Gaia Ciência, II-57]
Subtrair o fantasma para que apenas essa montanha, essa nuvem, permaneça, parece que não podemos. Nas análises que se seguem, tomo Nietzsche literalmente: com o fantasma, o “real” desaparece para nós. Então, o que está em jogo na “adição” fantasmática e em qualquer subtração sóbria? Poderia ser (…) -
Beistegui (2003:15-17) – existência
2 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroO homem é homem, portanto, na medida em que se encontra ek-staticamente no meio das coisas. Mas na medida em que o homem está no mundo ek-staticamente, ou seja, de tal forma que sua posição é em si mesma uma clareira, a configuração de um mundo, ele está aberto a mais do que apenas as coisas que o cercam e o afetam: ao mundo como tal e como um todo, ao Aberto ou à verdade do ser. É essa mesma conexão com a verdade como desvelamento, esse modo específico de estar no mundo, que caracteriza a (…)
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Beistegui (2003:13-15) – constituição do humano, nada de humano
2 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroDe forma um tanto provocativa, gostaria de sugerir que o pensamento de Heidegger estava preocupado com o destino do ser humano desde o início. E, no entanto, de forma alguma e em nenhum momento o pensamento de Heidegger pode ser confundido com uma antropologia direta, mesmo que, começando com o próprio Husserl, tenha havido uma longa história de (má) interpretação antropológica do pensamento inicial de Heidegger. O que torna impossível essa leitura diretamente antropológica de Heidegger é a (…)
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Polt (2013:58-60) – seer-ser [Seyn-Sein]
1º de outubro de 2024, por Cardoso de CastroNas Contribuições [GA65], então, Heidegger tenta saltar diretamente para a questão de como ser é dado. É nesse contexto que usa a grafia Seyn. O “be-ing” [seer] de Emad e Maly é uma contrapartida adequada a essa grafia levemente antiquada. Seyn é foneticamente idêntico a Sein, portanto, indica uma distinção que não pode ser ouvida, uma alteridade sutil, mas importantíssima. Talvez seja nesse sentido que ser e seer são “o mesmo e, ainda assim, fundamentalmente diferentes” (GA65:171). A grafia (…)
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Polt (2013:31-33) – primazia do pertencimento
1º de outubro de 2024, por Cardoso de CastroUsarei a palavra pertencimento para sugerir uma série de fenômenos relacionados que, em última análise, de acordo com Heidegger, resultam do acontecimento da apropriação [Ereignis]. Podemos indicar esses fenômenos por meio de um contraste com o pensamento teórico tradicional.
A teoria busca o universal, o que é idêntico nas múltiplas particularidades. Ao ver os particulares sub specie aeterni, nós os descontextualizamos e supostamente identificamos seus aspectos que são independentes de (…)