Mas há uma questão mais fundamental: qual é a fonte do próprio ser? Os entes nos são dados graças ao ser, mas o próprio ser também nos é dado. Ele está disponível para nós, pois podemos reconhecê-lo e tentar descrevê-lo. Como temos acesso a ele? Chegamos agora a uma problemática mais distintamente heideggeriana. Argumentarei que o Seyn de Heidegger é mais bem interpretado como a dação do ser, ou seja, como o acontecimento no qual os entes como tais e como um todo são capacitados a fazer a (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Polt (2013:28-31) – qual é a fonte do próprio ser?
1º de outubro de 2024, por Cardoso de Castro -
Polt (2013:14, 17-18) – Esoterismo das Contribuições [GA65]
1º de outubro de 2024, por Cardoso de CastroQuando nos voltamos para as Contribuições [GA65] em si, não importa o quanto conheçamos as palestras [de Heidegger], descobrimos que o estilo do livro reforça seu esoterismo — tanto que, embora o texto tenha sido publicado, seu significado dificilmente pode ser considerado público. Considere o segundo parágrafo do §I. Ele nos adverte desde o início de que o texto “ainda não é capaz de juntar [fügen] a livre junctura [Fuge] da verdade de seer do próprio seer”; seu centro de gravidade ainda (…)
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Polt (2013:11-12) – Sachlichkeit - devoção às Sachen, as coisas em si
1º de outubro de 2024, por Cardoso de CastroHeidegger afirma que a busca de seu único “caminho” filosófico exige uma mudança de pontos de vista (GA65:84). Se a filosofia é uma doutrina — um sistema de asserções — então essa asserção é um paradoxo: uma mudança nas asserções é uma mudança na filosofia. Mas Heidegger sempre insiste que a verdade não é uma questão de asserções. As asserções se baseiam em um desvelamento mais primordial, uma abertura para os entes e o ser. Um texto ponderado deve permitir que suas asserções surjam sempre (…)
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Polt (2013:5-9) – Contribuições à Filosofia [GA65]
1º de outubro de 2024, por Cardoso de CastroO tema central em meu confronto com as Contribuições [GA65] é a emergência. As Contribuições arriscam o pensamento de que o ser se torna próprio no Not — emergência, urgência, exigência. Encontros genuínos com os entes (das Seiende) — a terra em que habitamos, as ferramentas que usamos, a arte que criamos, as comunidades nas quais tentamos atingir nossos objetivos — exigem um momento raro e urgente em que nos apropriamos e somos apropriados pela significância dos entes como um todo. (…)
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Mitchell (2015:Intro) – Geviert
1º de outubro de 2024, por Cardoso de Castro[…] As discussões de Heidegger sobre a terra a consideram a própria “matéria” da existência. O que essa matéria é, no entanto, não é nada que normalmente associamos à terra. Ela não é sólida nem fundamentada. Em vez disso, a terra nomeia o sensorial. De acordo com os insights anteriores de “A origem da obra de arte”, a terra nomeia um tipo de aparecimento sensorial não quantificável. Não se trata de uma base substancial que fundamentaria todas as coisas. Ao invés, o que é da terra não tem (…)
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Vallega-Neu (2018:5-6) – Verdade do ser como Ereignis
30 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroPensar a verdade do ser a partir de si mesmo, como aquilo a partir do qual nós também chegamos a nós mesmos, exigiria que não o objetivássemos de forma alguma, mas que tentássemos articular como o ser ocorre no exato momento em que ocorre. Esse tipo de pensamento é totalmente infundado, pois não tem nada em que se agarrar. Ele requer um Loswurf, um soltar-se, como diz Heidegger em um antigo Black Notebook (GA94; Ü II, 108-110). Nesse desprendimento, Heidegger começa a experimentar e a pensar (…)
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Vallega-Neu (2018:2-4) – Impasses no projeto de Ser e Tempo
30 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroHeidegger foi levado a conceber a necessidade de um pensamento (fora) do evento — procedente de uma revelação originária do próprio ser — devido aos impasses que encontrou no projeto de Ser e Tempo. Aqui, a tentativa já era de pensar o ser fora do tempo, ou seja, de ressituar a pergunta metafísica “O que é…?” no “é”, de modo que o ser seja entendido temporalmente. A questão não é mais pensar em essências atemporais, mas sim questionar o “é”, o seer [be-ing] das coisas. A filosofia deveria (…)
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Zimmerman (1982:203-204) – o jogo cósmico de revelação/velação
30 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroPelo fato de o jogo cósmico de revelação/velação ter se tornado cada vez mais oculto para a humanidade, houve diferenças importantes nos mundos antigo, medieval e moderno. Heidegger está dizendo em sua linguagem ontológica o que outras pessoas vêm dizendo há muito tempo: o homem moderno tornou-se arrogante e egocêntrico; portanto, se esqueceu de que tem certas obrigações para com o universo que lhe deu origem. Para Platão, “Ser” significava presença permanente: ideia, eidos, o reino imutável (…)
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Zimmerman (1982:200-202) – niilismo
30 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroEmbora geralmente insista que a humanidade foi destinada a se tornar o Sujeito auto-assertivo, Heidegger ocasionalmente fala como se a vontade humana tivesse desempenhado um papel na criação da era atual. No entanto, critica o humanismo que acredita que a razão capacita o homem a determinar seu próprio destino e permite que tome o lugar de Deus, não apenas como objeto de adoração (Feuerbach), mas também como fonte de valor (Marx, Nietzsche). Do ponto de vista do homem ocidental, a luta para (…)
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Zimmerman (1982:238-240) – jogo cósmico
30 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroMais uma vez, Heidegger recorre a Heráclito para dizer que o jogo cósmico (logos, Ereignis) inclui o tempo-mundo que torna possível a temporalidade humana. Ele explica:
Heráclito nomeia aquilo que se dirige a ele como logos, como a mesmidade do Ser e do fundamento: aeon. A palavra é difícil de traduzir. Diz-se: tempo-mundo. É o mundo que mundifica e temporaliza. Pois, como cosmos, ele traz a estruturação do Ser a um brilho clarificador. De acordo com o que é dito nas palavras logos, (…)