(Depraz1992)
No entanto, o estado de crise dominante hoje, ligado a esse modo positivo de pensar que separa a pesquisa científica objetiva da busca pelo sentido de nossa vida, nem sempre prevaleceu, segundo Husserl. De onde vem, então, essa "alteração positivista da ideia de ciência" ? Para compreender o sentido da crise atual das ciências europeias, é necessário traçar a gênese do processo que a tornou possível.
Na Idade Média, a unidade era a da razão e da fé, e, embora o pensamento (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
-
Depraz (1992:12-13) – Estado de crise dominante, segundo Husserl
18 de março, por Cardoso de Castro -
Depraz (1992:27-29) – Lebenswelt e Lebens-umwelt
18 de março, por Cardoso de Castro(Depraz1992)
Por que falar de redução ao "mundo da vida"? E, antes de tudo, o que é o "mundo da vida"? É importante evitar desde o início uma assimilação equivocada: o "mundo da vida" não é, pelo menos segundo Husserl, um retorno puro e simples à atitude natural. Na verdade, o "mundo da vida" tem um sentido fenomenológico, ele pressupõe necessariamente a realização da redução fenomenológica. Portanto, esse mundo está longe de ser um mundo contingente e factual. Ele só pode ser um mundo (…) -
Depraz (1992:23-24) – epoche
18 de março, por Cardoso de Castro(Depraz1992)
Sob o termo épochè, que em grego significa "parada, interrupção, suspensão", Husserl pretende indicar o movimento inicial de redução, o primeiro movimento que se insere no prolongamento da atitude sem pressupostos. Trata-se, literalmente, de parar, ou seja, de interromper o fluxo dos pensamentos cotidianos, que são tantas opiniões ou convicções, e de questionar sua pretensão à verdade, de detectar em cada uma delas um preconceito que se ignora.
Em outras palavras, trata-se (…) -
Sentimentos vitais e dinâmica vital
18 de março, por Cardoso de Castro(RMAP:239-242)
A camada do si mesmo vivenciada nos "sentimentos vitais" é mais profunda, nela se anuncia um estado vital próprio: o estado "físico" — que são os modos de "se sentir no corpo", como a fadiga, a frescura, o bem-estar, o mal-estar; e o estado "psíquico" — que são os humores ou "estados de alma", em sua gama contínua, desde a depressão até a euforia, passando pelas nuances infinitas da ansiedade e da confiança, da insegurança e da tranquilidade, da inquietação e da serenidade… (…) -
Ernildo Stein – A recepção crítica da fenomenologia na obra de Heidegger
18 de março, por Cardoso de CastroErnildo Stein, A questão do método na filosofia - um estudo do modelo heideggeriano
1 Na introdução de Ser e Tempo, que trata da exposição da questão do sentido do ser, após mostrar a meta da analítica ontológica do ser-aí e de apresentar a tarefa de uma destruição da historia da antologia, Heidegger desdobra o método de sua investigação.
Desde o início o autor previne contra a tentação que é aproximar da tradição filosófica a análise esboçada. Ainda que a "característica do objeto (…) -
Depraz (1992:25-27) – redução transcendental e constituição
18 de março, por Cardoso de Castro(Depraz1992)
Em que sentido podemos falar de um cumprimento da épochè pela redução transcendental? E, antes de tudo, o que significa "transcendental"?
A conquista da fenomenologia como transcendental é, como dissemos, sua conquista como fenomenologia no sentido forte. O que isso significa? O acesso ao regime transcendental de pensamento implica uma ruptura com um modo de raciocínio dualista que se estabelece na oposição entre uma interioridade da consciência e uma exterioridade do mundo. (…) -
Huneman & Kulich (1998:6-7) – retorno às coisas mesmas
18 de março, por Cardoso de Castro(HKIP)
Nesse espírito, todos os problemas filosóficos podem então ser pensados a partir do exame dos vividos nos quais enfrentamos seu objeto. Assim, a fenomenologia não buscará apreender a essência do tempo de maneira especulativa, por exemplo, em relação à eternidade ("a imagem móvel da eternidade", Platão, Timeu) ou em relação ao conceito ("o tempo é o ser-aí do conceito", Hegel), mas voltará seu olhar para as experiências mais significativas nas quais vivemos algo do tempo: memória, (…) -
Levinas (TI:33) – a ética precede a ontologia
18 de março, por Cardoso de Castro(ELTI)
Não foi por acaso que a relação teórica foi o esquema preferido da relação metafísica. O saber ou a teoria significa, em primeiro lugar, uma relação tal com o ser que o ser cognoscente deixa o ser conhecido manifestar-se, respeitando a sua alteridade e sem o marcar, seja no que for, pela relação de conhecimento. Neste sentido, o desejo metafísico seria a essência da teoria. Mas teoria significa também [29] inteligência — logos do ser — ou seja, uma maneira tal de abordar o ser (…) -
Huneman & Kulich (1998:125-126) – ideia de infinito em Levinas
18 de março, por Cardoso de Castro(HKIP)
O que Lévinas opõe à totalidade é o infinito na medida em que ele transcende qualquer pensamento que o pense, qualquer síntese; é na relação com o outro que o infinito se produz. Ele retoma de Descartes o termo "infinito" (cf. Resposta às Quintas Objeções, AT VII, p. 368): "Parto da ideia cartesiana do infinito, onde o ideatum dessa ideia, ou seja, aquilo que essa ideia visa, é infinitamente maior do que o próprio ato pelo qual se pensa. Há uma desproporção entre o ato e aquilo a (…) -
Barbuy – O que é a filosofia?
18 de março, por Cardoso de Castro(Revista Brasileira de Filosofia, vol. IX, Fase. 1, 1959.)
Variam as acepções da Filosofia e varia também o seu nome. Mas, como quer que a Filosofia seja tomada, ela não se confunde com nenhuma outra ciência, com nenhum outro campo de preocupações. O âmbito em que se move, se distingue, pela sua natureza, de todos os outros. A Philosophia pode ser tomada num sentido estrito, designando uma ciência do Ser ou uma ciência das essências como a definiu Platão. Ou ainda, uma ciência da essência (…)