(Zambrano1937)
A inteligência está ligada a resíduos de crenças descompostas do passado, a limitações impostas pela falta de coragem para romper laços sociais e, o mais decisivo: à falta de uma intuição modelo, à ausência de uma realidade que exerça pressão. Mas essa ausência de intuição, essa falta de sentir a realidade, transforma-se no fascismo, em uma evasão da intuição e da realidade, em uma fuga sistemática e encoberta da realidade. No entanto, como a realidade continua existindo, é (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Evasão da intuição e da realidade
25 de março, por Cardoso de Castro -
Édipo
25 de março, por Cardoso de Castro(Zambrano1958)
Há um protagonista trágico entre todos, um homem, Édipo, em quem se concentra a desventura da condição humana; pois é culpado sendo inocente; comete o pior dos delitos ao tentar fugir dele, porque não sabe quem é. […] Ele havia decifrado o enigma proposto pela Esfinge. Ironicamente, a resposta era "o homem". Mas, depois de ter acertado, não sabia o que era o homem, nem quem ele era, esse homem, Édipo. -
Nietzsche sobre o mito
25 de março, por Cardoso de Castro(Blumenberg1979)
Na visão de Nietzsche sobre o mito, o ponto decisivo é que superar ou, pelo menos, lidar com o estrato subjacente de terror e sofrimento é tanto necessário, para que se possa existir de fato, quanto não deve nunca ser definitivo, para que o homem ainda seja capaz de sentir o poder da vida. -
Ouvinte e falante se experienciam
25 de março, por Cardoso de Castro<!—StartFragment →
(Husserl, “Investigações Lógicas II” 41, I.i.7.11–22, A34–35)
O ouvinte percebe ["nimmt wahr", literalmente: "toma (como) verdadeiro"] que o falante expressa certas experiências psíquicas [ou interiores], e, nesse sentido, ele também percebe ["nimmt (…) wahr"] essas experiências; mas ele próprio não as vivencia, não possui uma percepção "interna", mas sim uma percepção "externa" ["Wahrnehmung"]. Esta é a grande diferença entre a apreensão efetiva de um ser em (…) -
Kierkegaard
25 de março, por Cardoso de Castro(CamusMS)
O que é sensível em Lev Chestov o será talvez ainda mais em Kierkegaard. Certamente, não é fácil assimilar num autor tão esquivo a enunciados claros. Mas, apesar dos escritos aparentemente opostos, por cima dos pseudônimos, dos jogos e dos sorrisos, sente-se aparecer em toda a extensão dessa obra como que o pressentimento (ao mesmo tempo que a assimilação) de uma verdade que acaba explodindo nos últimos trabalhos: também ele, Kierkegaard, dá o salto. O cristianismo com que tanto (…) -
Surgia a Linguagem…
24 de março, por Cardoso de Castro(Beaini1989:13-15)
Quando na pré-história a força da imaginação criadora do Homem relacionou um determinado evento a um deus, espírito, totem ou animal que se tornou o centro de uma celebração ritual, teve acesso ao símbolo. Surgia a Linguagem, evoluindo do grito aos sons e ao canto, como Metáfora: abertura, expressão da vida que aos poucos se posiciona em um Mundo, descoberto primeiramente a partir de uma pluralidade de sentidos análogos, os quais, posteriormente, desembocam na (…) -
Relâmpago - Fogo - Sol
24 de março, por Cardoso de Castro(Beaini1989:11-13)
Heráclito de Éfeso, no fragmento 41, escreve: “Só uma coisa é sabia: conhecer o pensamento que governa tudo através de tudo”. Este pensamento é o Logos dirigente, princípio de inteligibilidade do Cosmos que, enquanto reino de pertença e participação do todo em tudo, identifica-se com o “relâmpago”, o “fogo” e o “Sol” — enquanto neles se desdobra.
O brilho do relâmpago, do fogo e do Sol — luzes de um acender que impera na Noite e no Dia — abrem o espaço no qual deixam (…) -
Ser “dá-se”, ao invés de “é”
24 de março, por Cardoso de Castro(Beaini1981:21-24)
“Tudo o que é, todo ente, tem um ser. Pode-se assim falar do ser do homem, do animal, da planta, do mineral. Todos são; todos são entes. O que os faz ser entes não é, contudo, ele mesmo, um ente, mas o Ser. O que permite a todos os entes ser e ter um ser, seu ser é pois o Ser. (…) Sem ele, não poderíamos ter experiência de nenhum ente e, contudo, não é frequente que o tenhamos tematicamente em vista. O homem está disperso no ente ao ponto de aí perder-se e é por isto que (…) -
Ser, Homem, Linguagem
24 de março, por Cardoso de Castro(Beaini1981:17)
Ο pensamento de Martin Heidegger é essencialmente busca do sentido do ser. Nele, a Linguagem emerge como um problema de vital importância. Isto é, o sentido do ser está arraigado à Linguagem e não pode ser encontrado se estiver dela desvinculado. O autor em questão coloca, assim, a Linguagem no nível mesmo do ser.
Mais ainda: a Linguagem é o ponto de união entre o ser que se manifesta, ou, como coloca Heidegger, se des-vela, e o homem, que, caracterizando-se por seu (…) -
“Dis-posição” ao Ser
24 de março, por Cardoso de Castro(Beaini1981)
Mas é também, para Heidegger, no pensamento do Ser que o homem “alcança a sua palavra”. Outro círculo se anuncia: ser homem, isto é, realizar-se como “Dasein” desvelador, aceder à verdade, pensar o Ser e alcançar a palavra são movimentos entrelaçados. Percorramos este círculo. Sabe-se que o Ser não se “mostra” como tal, simplesmente porque não “é”; o Ser é antes a possibilidade inexaurível do ser isto ou aquilo, a saber, do “é” dos entes particulares; ele próprio indemarcável, (…)