Vale a pena notar, no final desta análise da questão do ser em Platão, uma evolução na interpretação heideggeriana do pensamento platônico. Esta evolução, a que teremos de voltar, é, de fato, particularmente notória em relação à posição do problema do ser em Platão. Mas é também visível noutros lugares, e em particular através da interpretação da ideia platônica do Bem, da ἰδέα τοῦ ἀγαθοῦ, cuja transcendência é assimilada inicialmente por Heidegger à do Dasein, depois àquela, metafísica, da (…)
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Hermenêutica
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Boutot (1987:40-43) – Platão e Aristóteles falham na questão do ser
27 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro -
Weidler (2018) – Sobre Scheler
26 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro[…] é uma observação comum que Heidegger manteve uma atitude positiva em relação a Scheler, especialmente depois da morte prematura de Scheler em 1928, que ensombrou o famoso encontro entre Heidegger e Ernst Cassirer em Davos no ano seguinte. De facto, examinar a presença póstuma de Scheler como um ponto de referência implícito durante esse encontro é uma boa forma de entrar nesta complexa constelação do entre-guerras. No entanto, o que é habitualmente ignorado na maior parte dos comentários (…)
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Fédier (2012:34-36) – as três questões de Kant
24 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroKant reúne a filosofia em torno de três questões: Was kann ich wissen? O que é que me é possível conhecer ?
Traduzida desta forma, esta questão não é outra senão a do limite do conhecimento, onde começa aquilo que me é impossível conhecer. Ora, o que me é impossível conhecer é tudo o que não tem o estatuto de objeto cognoscível. Esta primeira questão abre o campo para a primeira Crítica (Crítica da Razão Pura), na qual se estabelece que só pode haver conhecimento daquilo que se apresenta (…) -
Jean-Louis Chrétien (2014) – lembrança só é possível a partir do esquecimento
24 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro[…] Levinas retoma a ideia platônica de um tempo perdido que nunca será encontrado enquanto tal, e que só ele nos envia e nos destina, só ele nos dá o ser por vir. Este imemorial do envio, onde o que nos envia nos precede, é uma perda que funda o dom. Este esquecimento antes do esquecimento é profundamente diferente do esquecimento de si mesmo tal como Heidegger o medita, embora este último tenha também um carácter inicial. Tanto em Ser e Tempo como na sua conferência sobre os Problemas (…)
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Eric Nelson (2024) – Heidegger e o Taoismo
24 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro[…] [Tomemos] a adequação e inadequação da análise da coisa e da natureza em Ser e Tempo. Concordo com a autocrítica posterior de Heidegger, segundo a qual esta obra seminal, brilhante e incompleta é excessivamente transcendental e pragmática, exigindo um passo mais radical em direção ao ser e à coisa, que só emergiu plenamente após a Segunda Guerra Mundial. Heideger mencionou, mas mal articulou, um “terceiro” “poder da natureza” mais primordial em Ser e Tempo (GA2: 70, 211) e “a natureza (…)
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Dastur (2018) – Heidegger e o pensamento não grego
24 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroConsiderando que Husserl não hesitou, na carta que escreveu em março de 1935 a Lucien Lévy-Bruhl, depois de ter lido A Mitologia Primitiva, livro que este acabara de publicar, em sublinhar o facto de os primitivos serem “sem história” (geschichtslos) e sem qualquer relação com o tempo, pelo que vivem em sociedades “estagnadas” e fechadas sobre si mesmas , Heidegger distingue entre história como realidade (Geschichte ) e história como discurso (Historie ) e sublinha o facto de o fundamento da (…)
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Dastur (2017) – o humano é o guardião a clareira e do Ereignis
24 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroOra, o que caracteriza o Dasein, o que constitui a sua Grundbestimmung (não só a sua determinação fundamental, mas também o seu fundamental ser-em-concordância e destino), é estar aberto ao apelo, à reivindicação, à morada da presença: “Grundbestimmung des Daseins: Offen für den Anspruch der Anwesenheit” (GA89:ZS, 217). Uma tal abertura, Offenheit, caracteriza este domínio onde não prevalece nenhuma prova, o domínio de uma liberdade que deve ser entendida como “ser-livre e ser-aberto a uma (…)
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Dastur (2017) – distinção entre motivação e causalidade
24 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroUm dos pontos em que Heidegger insiste nos seminários [GA89] diz respeito à distinção entre motivação e causalidade, retomando assim um tema fundamental da fenomenologia husserliana. Se a causalidade é atuante (bewirkende) e constrangedora (zwingende), a motivação é, pelo contrário, determinante (bestimmende) e livre (freie) (GA89:ZS, 22). O que caracteriza o motivo, diz Heidegger, é que “me move” (mich bewegt), que “se dirige aos entes humanos” (dem Menschen anspricht), ou melhor, “tenta” (…)
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Dastur (2017) – método fenomenológico para psicoterapia
23 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroNuma entrevista a Boss de setembro de 1968 (isto é, do período em que Boss estava a elaborar o livro que acabamos de citar , com a ajuda de Heidegger), Heidegger afirma que “o método de investigação apropriado ao Dasein não é em si mesmo fenomenológico, mas depende e é guiado pela fenomenologia no sentido da hermenêutica do Dasein.” A descrição de fenômenos ônticos, tais como comportamentos patológicos factuais, só é possível à luz dos fenômenos ontológicos — isto é, os existenciais do (…)
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Sloterdijk (2000) – Linguagem, segundo Heidegger
22 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroSe há um fundamento filosófico para se falar da dignidade do ser humano, então é porque justamente o homem é chamado pelo próprio ser e — como Heidegger enquanto filósofo pastoral gosta de dizer — escolhido para sua guarda. Por isso os homens possuem a linguagem; mas a finalidade precípua dessa posse, segundo Heidegger, não é apenas entender-se e domesticar-se mutuamente nesses entendimentos.
A linguagem é antes a casa do ser; ao morar nela o homem existe [ek-sistiert], à medida que (…)