Mas, mesmo antes de Platão, uma condenação ou ao menos uma suspeita em relação à arte já tinha sido expressa na palavra de um poeta e ao fim do primeiro estásimo da Antígona de Sófocles. Após haver caracterizado o homem, enquanto possui a τέχνη (isto é, no amplo significado que os gregos davam a essa palavra, a capacidade de pro-duzir, de levar uma coisa do não ser ao ser), como aquilo que há de mais inquietante, o coro prossegue dizendo que esse poder pode conduzir tanto à felicidade quanto (…)
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Hermenêutica
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Agamben (2022) – o mais inquietante
8 de março, por Cardoso de Castro -
Agamben (2022) – a habitude
8 de março, por Cardoso de CastroEm 1838, quando Hölderlin ainda morava na torre sobre o Neckar, Félix Ravaisson, que havia seguido em Mônaco os cursos de Schelling, escreve sua tese Sobre a habitude. Em páginas vertiginosas, que deviam suscitar a admiração de Bergson e Heidegger, Ravaisson aproxima a habitude dos segredos últimos da vida. O filósofo de 25 anos descreve com meticulosa atenção as modalidades nas quais, na habitude, a vontade trespassa insensivelmente em inclinação e em instinto, em uma progressiva degradação (…)
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Agamben (2022) – a ausência dos deuses
8 de março, por Cardoso de CastroDe maneira não menos antitrágica Hölderlin pensa e vive a ausência dos deuses, pela qual ele define a condição de seu tempo. Aqueles que se detiveram na ateologia do último Hölderlin, de Blanchot a Heidegger, não cansam de citar tanto a passagem de Brot und Wein na qual o poeta declara, sem reserva, que, na despedida dos deuses, cuja plenitude o homem não é capaz de sustentar, «a errância/ ajuda, como um torpor, e tornam fortes a necessidade e a noite», assim como, sobretudo, a correção dos (…)
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Agamben (2022) – hábito
8 de março, por Cardoso de CastroO que é uma «vida habitante»? Certamente uma vida que se vive segundo hábitos e habitudes.] O verbo alemão wohnen, deriva da raiz indo-europeia *ven, que significa «amar, desejar» e é ligada tanto às palavras alemãs Wahn, «esperança, ilusão», e Wonne, «alegria», como ao latim venus. Isso significa que, na língua alemã, a aquisição de um hábito (Gewohnheit) ou de uma habitude é associada ao prazer e à alegria — e, também, mesmo que os linguistas tendam a dividir os dois termos, à ilusão (…)
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Carla Rodrigues (2020) – Agamben: biopolítica na pandemia
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroTalvez seja mais difícil aceitar as provocações de Agamben quando a biopolítica de combate à covid-19 se apresenta exclusivamente afirmativa, em nome da preservação da vida, apagando a percepção que o autor busca ressaltar: a gestão da forma das vidas a serem preservadas só existe sob controle da liberdade. Infelizmente, essa descrição não é a de uma situação de exceção, mas a explicitação do que nem sempre é tão evidente e escancarou-se com a declaração de pandemia: a política não é feita (…)
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Salanskis (1997b:102-104) – temporalização
29 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroPara ele [Heidegger], o modelo de toda a estranheza , a estranheza da referência, é o do Ser em relação ao ente. O Ser, enquanto acontecimento, dádiva, significado, é “absolutamente outro” que cada ente, embora esteja oculto nele — a nossa relação com o Ser é necessariamente obscurecida pela nossa relação com o ente. A compreensão da estranheza é, pois, antes de mais, essencialmente, a compreensão da “diferença ontológica” entre o Ser e o ente. Mas desta diferença propriamente dita a (…)
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Salanskis (1997b:60-62) – relação hermenêutica
29 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro[…] No discurso formal, a relação seria a moeda ou algo do gênero [do comércio]. Mas não é com a duplicidade que o homem se relaciona como fonte de abastecimento, mas com o requisitador, a requisição, o Bezug afirma a pertença do homem. Isto repete e agrava o que acabamos de ver, que excluía a “economia” formal. Significa que a duplicidade não é verdadeiramente voz , e que a ligação obrigatória à duplicidade nunca pode ser traduzida ou medida no comércio ansioso entre os atores discursivos (…)
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Salanskis (1997b:58-60) – realização hermenêutica
29 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroDo ponto de vista da nossa reflexão sobre Heidegger, a Ciência e o pensamento, duas observações são naturais.
Por um lado, a identificação da origem da hermenêutica como uma prescrição deveria ter aproximado a ideia que Heidegger tinha dela da ciência formal: esta, na altura em que ele escrevia, abraçava cada vez com menos reserva uma modalidade axiomática, segundo a qual toda a elucidação era secundária em relação ao “lançar dos dados” prescritivo inaugural dos axiomas, uma espécie de (…) -
Salanskis (1997b:57-58) – hermenêutica e palavra
29 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroA explicação da recusa a priori de Heidegger do caminho formal da hermenêutica, quer esta recusa seja “consequente”, “justa” ou não, encontra-se mais precisamente na acentuação, pelo segundo Heidegger, da dimensão de pertença ao Ser, na sua descrição posterior daquilo a que chama então a relação hermenêutica.
Para compreender isto, temos à nossa disposição um texto muito útil, “De uma conversa sobre a linguagem…” [GA12:87-140], no qual Heidegger retraça, por assim dizer, a totalidade do (…) -
Salanskis (1997b:51-53) – o círculo hermenêutico segundo o §63 de Ser e Tempo
29 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroAssim, começamos por analisar o § 63 de Sein und Zeit, um texto que o próprio Gadamer admite, em Verdade e Método , ser de certo modo o texto fundador de uma certa ideia de hermenêutica, cujo elemento decisivo é a noção de “círculo hermenêutico”.
Nesta passagem, Heidegger destaca e discute um modo de progresso que lhe é próprio, algo como a sua “metodologia”. A passagem, desta forma, retorna ao que foi “decidido” logo no início de Sein und Zeit, e esclarece o sentido que deveria ser dado à (…)