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Dichtung
terça-feira 4 de julho de 2023
Dichtung, poesia, poesía, poesie, poetry
Parece que tudo se dá como se a poesia estivesse referida de maneira mais originária do que todo comportamento e postura humanos à palavra. Se é que a linguagem é pensada como a “poesia originária” da humanidade, essa ligação entre palavra e poesia é inegável. Mas essa opinião talvez seja de qualquer modo equivocada. Em sua palavra, apesar de ela só ser no “elemento” da linguagem, a poesia possui constantemente a “imagem”, o que significa aqui o elemento intuitivo, por meio do qual ela e no qual ela adensa poeticamente seu poetado. No instante do dizer poetizante, a palavra se desprende do poema, na medida em que faz desaparecer a duplicidade dos dois no poetado. A dependência da palavra é essencialmente diversa no pensar do seer; ela é mais inicial, isto é, efetivamente inicial, diferentemente da poesia. (GA71 , tr. Casanova , p. 258)
VIDE: Dichtung
poesia
poésie
poetry
NT: Poetry (Dichtung), 16, 162, 249, 260. See also Art; Literature [BTJS ]
Dichtung, de dichten, "inventar, escrever, compor versos", que, não obstante parecer germânico, provém do latim dictare, "dizer repetidamente, ditar, compor". Esta palavra tem um sentido mais amplo do que Poesie ou "poesia". Aplica-se a qualquer escrita criativa, incluindo romances, não somente versos. O verbo tem um tom de "dispor, ordenar, formar". Heidegger usa Dichtung e dichten em um "sentido amplo" e em um sentido restrito (GA12 , 61/198s). No sentido amplo, dichtung significa "inventar, criar, projetar", sendo porém distinto de "invenção livre" (UK, 60/197). "Da essência inventiva [dichtenden, criativa, projectiva] da arte decorre que, em meio aos entes, a arte ilumina um espaço aberto em cuja abertura tudo fica diferente do que era antes" (GA12 , 59/197). Por isso, toda arte é em essência Dichtung em sentido amplo, e não no sentido de Poesie (Cf. GA39 , 25ss). […] “A própria linguagem é Dichtung no sentido essencial” (GA12 , 61). Isto é, a linguagem “em primeiro lugar traz o ente como um ente ao aberto” por nomeá-lo. Ela é “saga projetiva do dizer [entwerfende Sagen]” e constitui é Dichtung: “o dizer [Sage] do mundo e da terra, […] o dizer do desencobrimento dos entes” (GA12 , 61). Destarte, “Poesie, Dichtung, em sentido restrito, é a Dichtung mais original no sentido essencial [i.e., amplo]. […] Poesie acontece na linguagem porque a linguagem guarda a essência original de Dichtung. Construção [Bauen] e formação [Bilden], pelo contrário, acontecem sempre já e sempre apenas no aberto do dizer e nomear” (GA12 , 61). Poesie, arte em forma de linguagem, é anterior às outras artes — arquitetura (“construção” ), pintura e escultura (“ formação”) — porque elas operam no reino já aberto pela linguagem. Heidegger sugere que a linguagem criativa, a linguagem que nomeia as coisas pela primeira vez, em contraste com a linguagem como um meio de comunicar o que já está descoberto, é Dichtung em sentido restrito, i.e., poesia. [DH :145-146]
A poesia, Dichtung, não é "expressão de experiências emocionais" nem descrição de algo " real". Paira sobre o real na imaginação e só nos apresenta o real, se é que o faz, após a transformação poética. " Quando o sinal dos deuses for, por assim dizer, construído a partir das fundações de um povo pelo poeta, […], o ser será fundado na existência histórica [Dasein] do povo, […]. Poesia — expressão de experiências emocionais? O quão distante está tudo isso! Poesia — prolongamento dos sinais dos deuses — fundação do ser" (GA39 , 33. Cf. GA65 , 400,408,410). [DH ]
Dichtung (poetização): O conceito heideggeriano de metafísica cunha-se em função da pergunta pelo ser. No âmbito de construção deste conceito a metafísica deriva-se de um modo específico de colocação da pergunta pelo ser que acaba por provocar a imediata assunção do ser nesta pergunta como o ente enquanto tal. Metafísica é em outras palavras o saber interessado pela determinação do ser do ente na totalidade: pela fixação do ser enquanto o ente supremo. Exatamente por isto o pensamento no interior da tradição metafísica confunde-se porém com o empenho por empreender uma tal determinação, por explicitar categorialmente a extensão de todo o plano ontológico. Se esta é por um lado a destinação essencial do pensamento no interior da tradição, esta destinação mesma precisa por outro lado alterar-se em meio à passagem para o outro começo. Esta alteração aponta para o sentido do termo "poetização". O pensar não tem mais agora por tarefa a descrição sistemática da transcendência, mas se transforma em poetização do seer. Em ressonância de fundo com o silêncio da retração do seer, ele celebra a superfície do fenômeno e dá voz a esta superfície através do que propriamente silencia. Ele descreve assim originariamente o fazer-se linguagem da dinâmica de realização do real e é através daí poetização. [Casanova ; GA67MAC:180]