A ontologia fundamental é, portanto, estabelecida por uma redução do acontecimento, rebaixado à categoria de um mero fato intramundano, ao destaque do sentido insignificante do possível que o próprio Dasein é ao existir. Essa redução, além disso, não deveria ser uma surpresa. Como poderia ser de outra forma se o Dasein, em virtude de sua constituição ontológica, retém as prerrogativas conferidas ao sujeito moderno desde Descartes — se, em virtude de sua compreensão do ser, que, como (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Romano (1999:30-31) – ontologia fundamental, acontecimento e morte
21 de setembro de 2024, por Cardoso de Castro -
Romano (1999:159-161) – sofrimento da separação
21 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroTalvez ninguém tenha descrito o sofrimento da separação de forma mais profunda do que Proust. Mas, como um grande escritor, ele não percebeu o significado dos acontecimentos: pois, pensando como um empirista, Proust acreditava que a experiência, por sua mera repetição, não apenas cria hábitos em nós, mas também nos ensina algo sobre o futuro: "O tempo passa e, pouco a pouco, tudo o que se diz ser mentira se torna verdade; eu havia experimentado isso demais com Gilberte; a indiferença que eu (…)
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Romano (1999:156-158) – o luto
21 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroO luto é a experiência absoluta da separação, não de uma separação contingente e reversível, de uma separação remediável na qual o espaço é o "meio", mas de uma separação que é em si mesma absoluta, irreversível, irremediável, que ocorre no tempo e dele tira sua marca: o absoluto da separação é temporal, porque a temporalidade é a única "dimensão" na qual a separação absoluta é possível. No luto, vivenciamos essa separação: o falecido é aquele que "nos deixou", não para ir "para outro (…)
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Romano (1999:25-28) – Ereignis
17 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroMas esse duplo desdobramento do ser e do ente como sobrevir descobridor e surgir encobridor, esse movimento da diferença que é a própria diferença em movimento, a diferenciação dos dois, tem, a partir de então, a consequência de que não é apenas o ser que, como uma passagem "em direção" ao ente, é pensado como um evento; é o ente que é compreendido e determinado segundo o gesto do diferenciar-se do ser. Não é apenas o ser, então, mas o próprio ente que, pensado a partir da "mobilidade" mais (…)
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Romano (1999:19-21) – diferença ontológica
17 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroFoi Levinas quem primeiro chamou a atenção para o que ele considera ser a principal inovação de Sein und Zeit, o fato de que o ser recebe um significado verbal e transitivo, o de uma maneira de ser ou um modo de ser: "Penso", escreve ele, "que a nova ’emoção’ filosófica trazida pela filosofia de Heidegger consiste em distinguir entre ser e ente, e em transportar para o ser a relação, o movimento, a eficácia que até então residia no existente. O existencialismo [com o qual Levinas quer dizer (…)
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Martin Buber
9 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroFILOSOFIA — TRADIÇÃO JUDAICA — MARTIN BUBER
WIKIPEDIA: Português; Español; Français; English
Se quiséssemos inserir Buber dentro de uma corrente do pensamento filosófico talvez pudéssemos optar pela Filosofia da Vida ("Lebensphilosophie"). Neste ponto é marcante a influência de seu mestre Dilthey. Do mesmo modo, muitas das afirmações, passagens ou conceitos utilizados por Buber permitem aproximá-lo de um certo "intuicionismo". Porém, estas duas correntes não poderiam ser tomadas aqui no (…) -
Buzzi (Itinerário) – Encontro e Consciência
9 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroO ENCONTRO é a experiência dos caminhos da existência. Buscamos estar nesses caminhos no poder de um saber o que fazer, como e por que fazer. Estamos neles com algum conhecimento de nós e dos outros, com alguma ciência e sentido das coisas e dos acontecimentos.
Esse conhecimento de ciência e sentido é a nossa consciência. É o eu ou o nós. Já é o encontro com a gratuidade de todos os caminhos, o nada da consciência.
Quando em tudo que vemos e tocamos, sabemos e ousamos, ouvirmos, na fala (…) -
Chestov – eros e gnosis
8 de setembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="tradução"]
Se Eros é a fonte do conhecimento supremo, é nos lampejos, nas iluminações repentinas que certamente devemos depositar nossa confiança. Assim faziam os antigos, enquanto os modernos, apoiando-se nas ciências exatas, exigem, eles, a unidade do conhecimento. A teoria das ideias de Platão não é senão uma teoria de nome. Ela não é senão muito fracamente ligada a estes objetivos finais e os mitos são mais caros a ela do que "conclusões racionais", e, no entanto, é para (…) -
Léon Chestov - Les sources de la connaissance
8 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroSi Éros est la source de la connaissance suprême, c’est aux éclairs, aux illuminations soudaines que nous devons certainement accorder notre confiance. Ainsi faisaient les anciens, tandis que les modernes s’appuyant sur les sciences exactes exigent, eux, l’unité de la connaissance. La théorie des idées chez Platon n’est une théorie que de nom. Elle n’est que très faiblement liée à ces buts derniers et les mythes lui sont plus chers que les « conclusions rationnelles », et pourtant c’est pour (…)
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Alma e Corpo, coextensivos (Zubiri)
2 de setembro de 2024, por Cardoso de CastroZubiri1982a
Aristóteles pensava que se tratava de uma unidade substancial: a alma, ψυχή, é o ato substancial de uma matéria-prima indeterminada. De modo que todas as propriedades que o homem possui, não só as mais elevadas, mas mesmo as mais básicas, como peso, propriedades químicas, etc., seriam devidas à “alma”. Seria aquele que “anima” o corpo, ou melhor, aquele que faz da matéria-prima um corpo animado. É verdade que há passagens em que Aristóteles parece mitigar esta afirmação; a alma (…)