Longe de apelar para intuições brutas e reificadoras, a concepção de Heidegger da cognição como um modo fundado de ser-em equivale ao reconhecimento de que nossa orientação prática no mundo é uma condição da própria interpretabilidade de nossa própria cognição como cognição. Pois todas as teorias da cognição inevitavelmente pressupõem e se baseiam em alguma compreensão, ainda que tácita, de nosso ser-em, que elas nunca podem, por sua vez, esgotar. Mais uma vez, não se trata de insistir que (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Carman (2003:126-128) – cognição, interior-exterior
24 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro -
Carman (2003:106-108) – os conceitos de subjetivo, objetivo, interno e externo
24 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroConsidere, por exemplo, o contexto da prática social cotidiana que Heidegger toma como ponto de partida em seu relato da “mundanidade” (Weltlichkeit) cotidiana do Dasein em Ser e Tempo.. Nosso mundo prático cotidiano e sua inteligibilidade mundana são algo subjetivo ou objetivo? Ele é interno ou externo a nós e ao nosso ponto de vista? Tomemos como exemplo o valor econômico. Claramente, ele não é uma propriedade física objetiva de nada nem meramente uma função das atitudes subjetivas (…)
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Luiz Bicca (1999:13-19) – mundo
24 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroEssas totalidades que enquadram e arranjam previamente as coisas para as compreensões primárias impelem o pensamento em direção à totalidade das totalidades, vêm a ser, ao mundo. Heidegger fornece-nos definições concisas de mundo, concebidas do ponto de vista da existência humana: “Mundo é… aquilo que é anterior, no sentido rigoroso da palavra — anterior: aquilo que anteriormente, antes já da concepção (Erfassen) deste ou daquele ente em cada Dasein existente, está desvelado e [13] (…)
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Marques Cabral (2017) – A presença de Heidegger em Bultmann
23 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroA presença de Heidegger em Bultmann não se dá pela simples reprodução, por parte de Bultmann, de conceitos e problemas heideggerianos. Deve-se observar que dificilmente encontraremos textos de Bultmann onde há alguma reconstrução filosófica dos conceitos e sobretudo contextos hermenêuticos heideggerianos. Podemos até dizer que muitas vezes Bultmann operacionaliza conceitos de Heidegger, ainda que destacados do seu projeto ontológico maior, como a ontologia fundamental, no caso de Ser e (…)
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Chester O’Gorman (2019) – Demitologização segundo Bultmann
23 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroDe acordo com Bultmann, a demitologização é uma forma de interpretar as escrituras. Isso não significa eliminar os elementos mitológicos. Trata-se de fornecer uma interpretação existencialista da mitologia. Se a mitologia é definida como uma maneira de discutir a existência humana em termos e categorias de pensamento que objetivam a experiência humana na forma de entidades transcendentes ou sobrenaturais, então sua interpretação existencialista simplesmente pretende abandonar a pretensão de (…)
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Xabier Pikaza (2014) – Encontro de Bultmann com Heidegger
23 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroBultmann quiere entender y dejarse transformar, no limitándose a repetir escuchar como espectador lo que dice la Biblia. Para eso, lógicamente, necesita conocer al hombre y debe encontrar una antropología, que responda a la experiencia básica del cristianismo (o, mejor dicho, que derive del mismo cristianismo).
No puede aceptar ya la visión helenista (platónica), que divide al hombre en cuerpo y alma, en una línea desarrollada por la escolástica medieval. Tampoco le sirve el moralismo (…) -
Borges-Duarte (2012) – O Pai devorador de seus filhos
23 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroNa análise existencial de raiz heideggeriana, de que os Seminários de Zollikon dão enquadramento explícito, o tempo do mundo é o tempo onticamente experimentado e vivido. Tal como Heidegger o caracteriza nesses Seminários, tem as três dimensões do tempo ex-stático do Dasein (em sentido próprio ou impróprio) e a tendência para a degradação ou queda, como na exposição de Ser e Tempo, mas enriquecidas agora no exercício fáctico do viver concreto de cada um, no seio do seu mundo circundante. (…)
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Werner Marx (1971:211-215) – essência do ser e essência do homem
22 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroNa apresentação dos traços básicos do Ser e da essência, a determinação da essência do homem foi adiada até o momento. Isso pode ter dado a impressão errônea de que, para Heidegger, existe primeiro um “Ser e uma essência em si” e, em segundo lugar, uma “essência do homem” que se opõe ao Ser de forma dogmática e pré-crítica, como se fosse uma questão de duas entidades separadas uma da outra. Heidegger se esforça, entretanto, para apreender o pertencimento do Ser e da essência com a essência (…)
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Backman (2015:114-117) – os três sentidos de "ser"
22 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroAs ambiguidades inerentes à articulação de Heidegger da diferença ontológica sinalizam uma ambiguidade fundamental em seu uso da palavra “ser” (Sein). Essa ambiguidade não é o resultado de mero descuido terminológico. Em vez disso, trai o caráter “transitório” do discurso de Heidegger, a tensão não resolvida entre as abordagens metafísica e pós-metafísica do ser, com as quais luta constantemente. Para entender a diferença ontológica, devemos nos antecipar e distinguir três aspectos distintos (…)
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Gelven (2003:38) – ser e o real
21 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroA problemática metafísica, que é a única das três possibilidades que exige transformação, pergunta de duas maneiras: o real ou o ser. Como é possível sugerir, como faz Kant, que dizer que algo existe é dizer que é o objeto da experiência possível, é claro que precisamos considerar a possibilidade de outro termo que tenha maior extensão. A sugestão do próprio Kant é realidade, que ele distingue de aparência. Mais recentemente, no entanto, Heidegger, aduzido de forma esboçada por Nietzsche, (…)