Vou limitar-me a sublinhar três pontos que me parecem ser os mais significativos.
1) O primeiro é a especificidade desta essência original em relação a todas as concepções da linguagem que nos são familiares. Tudo se passa como se Heidegger, regressava neste ponto, aquém de uma das conquistas mais decisivas do pensamento ocidental: a teoria do significado, que pensa simultaneamente na separação e no laço entre a palavra enquanto signo e aquilo que significa. Teoria verdadeiramente (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
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Zarader (2000:58-61) – a linguagem
30 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro -
Zarader (2000:86-88) – o pensamento
30 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroA segunda parte da aula O que chamamos pensar? [GA8] — que pode aqui ser considerada como texto de referência — segue um movimento de conjunto especialmente revelador. Desde a primeira aula, estamos confrontados com a «clivagem»: apresentando os múltiplos sentidos da sua interrogação, Heidegger distingue logo entre a determinação do pensamento que tem, desde sempre, força de lei («como é que aquilo que é aqui nomeado pensamento está circunscrito na doutrina tradicional do pensamento?») e a (…)
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Zarader (2000:221-223) – pensamento e linguagem
30 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroNo caso do pensamento, a situação inverte-se. De facto, Heidegger parte bem, num primeiro tempo, do pensamento (visto metafisicamente como lógico) ao logos inicial; e desvia-se de facto, num segundo tempo (nem que fosse apresentado como provisório) da meditação do logos para se deixar conduzir no sítio original do [221] pensamento através do Gedanc alemão. Mas a relação entre aquilo que é dito no Gedanc e aquilo que está reservado no logos permanece indecidido: Heidegger não afirma em parte (…)
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Zarader (2000:195-197) – kairos
30 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroVoltemos então as duas aulas [GA60] de Fribourg sobre as quais detemos informações suficientemente conscientes. Quais são os conceitos do Novo Testamento que interessam então Heidegger, e no que se torna esse interesse na obra posterior?
A maior parte da aula de 1920 é consagrada a meditar duas epístolas de São Paulo: a Primeira aos Tessalónicos e a Segunda aos Coríntios. Da primeira (cujos capítulos 4, 13-18 e 5, 1-11 comenta), Heidegger retém essencialmente o conceito de kairos. (…) -
Zarader (2000:175-177) – "ser" em Levinas
30 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroOra é precisamente Heidegger que Lévinas coloca o mais longe possível do seu próprio pensamento e dos ensinamentos bíblicos. [175] A leitura que propõe é singular. Bem longe de distinguir entre a tradição ontológica e a crítica radical que Heidegger apresenta, ele considera pelo contrário a sua obra como o local onde se junta e agrava toda esta tradição. Heidegger «não destrói, ele resume toda uma corrente da filosofia ocidental», mas mesmo assim é insuficiente, e lemos algumas páginas mais (…)
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Zarader (2000:131-134) – Erörterung
30 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroO Erörterung apresenta várias características paralelas às do Ort. Já notámos na anterioridade do local, em relação a tudo aquilo que concede: o local e a origem, o aquilo a partir de onde. De facto, o primeiro traço da situação, será que ela se orienta para a condição de possibilidade. Essa linguagem — marcada pelo léxico do transcendental — é o do Princípio da Razão. Apresentando «o princípio», Heidegger escreve: «Devemos considerá-lo a bem dizer, no sentido oposto: não no sentido das suas (…)
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Zarader (2000:129-131) – Erklärung - Erläuterung - Erörterung
29 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroPrimeiro a definição. É balizada por três vocábulos chave, que só encontram a sua ressonância no alemão: die (a explicação), die (a elucidação ou o esclarecimento), die (a situação).
A explicação é o modo de pensamento dominado pelo princípio da razão, modo de pensamento que encontra o seu pleno desenvolvimento na ciência moderna, mas que já reina secretamente na metafísica. Na medida em que está como onto-teo-logia, funde o sendo no seu ser, e o ser num sendo supremo, é toda a procura (…) -
Sheehan (2015:16-20) – Ser em si e por si mesmo
29 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroA investigação meta-metafísica de Heidegger, por outro lado, retoma o ponto em que a metafísica parou. Ela transforma o resultado da no objeto material da , pegando a própria realidade das coisas (qualquer que seja sua forma histórica: εἶδος, ἐνέργεια, etc.) e colocando-a sob o microscópio como objeto de uma questão radicalmente nova. E quanto a essa realidade em si, esse οὐσία que as coisas “têm”? Essa é a questão não sobre ὄν ᾗ ὄν, mas sobre οὐσία ᾗ οὐσία, Sein als Sein, e especificamente (…)
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Sheehan (2015:20-23) – ser si-mesmo [Sein selbst, Selbstsein]
29 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroEm seu trabalho posterior, especialmente de 1960 até sua morte em 1976, Heidegger se expressou um pouco mais claramente. Ele declarou que a indicação meramente formal “das Sein selbst” acaba sendo die , a clareira aberta, que ele designou como o de todo o seu trabalho. A clareira é o “espaço” sempre já aberto que torna o ser das coisas (fenomenologicamente: a inteligibilidade das coisas) possível e necessário. Heidegger a chama de “a região aberta da compreensão” e “o reino da revelação ou (…)
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Sheehan (2015:65-66) – surgimento em disponibilidade significativa
29 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro[…] A releitura de Aristóteles por Heidegger começa com a percepção fenomenológica de que a realidade das coisas implica sua abertura e disponibilidade e, com isso, sua relação com o homem (cf. οὐσία como “posses estáveis”). Sondando por trás de οὐσία, Heidegger encontra uma dimensão cinética para essa disponibilidade, o surgimento (ϕύσις) de uma coisa a partir da ocultação e indisponibilidade para a presença estável (ἀεί) (εἶδος) em uma conjunção implícita com a inteligência humana (cf. τὸ (…)