Como uma primeira aproximação, propomos o termo “instituição simbólica” para substituir “cultura”, porque “cultura” sempre foi classicamente oposta à “natureza”, e porque as chamadas culturas arcaicas — isto é, culturas não marcadas pela instituição da filosofia — não pensaram ou elaboraram essa oposição como tal. Para nós, o que é “natureza” está completamente integrado ao campo da “cultura”, sendo a “natureza”, a physis, desde os fisiologistas jônicos, uma instituição filosófica e, mais (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Richir (1996:14-15) – instituição simbólica
15 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro -
Schürmann (1996/2003:454-456) – o si mesmo
15 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroO si responde à pergunta kantiana “Quem?” e o faz em voz média. Conhecemos o objeto sensível por meio da efetivação da unidade sintética das intuições e restringimos nossas inclinações por meio da efetivação de uma síntese imperativa dos instintos. Quem é assim eficaz? Não é o “si” conhecido por meio da experiência interna que se anuncia na voz direta. Esse “si” permanece um objeto, categorizado como substância e determinado empiricamente de acordo com seus estados transitórios. A cultura do (…)
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Schürmann (1996/2003:453-454) – sujeito transcendental de Kant
15 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroNo século XX, imaginamos que alcançamos uma ciência da mente ao demonstrar que a mente funciona como um computador; o século XIX investiu sua esperança de uma ciência da mente impecável na analogia com a máquina a vapor (como se sonha com um modelo termodinâmico e hidráulico do inconsciente); o século XVIII investiu essa esperança na analogia com um edifício. A ciência instrui, porque abriga; ela o faz de acordo com uma ordem. Mas qual? A única ordem edificante será aquela que a razão (…)
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Schürmann (1996/2003:447-448) – exposição à liberdade legislativa
15 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro[…] O terror dos antigos tinha a ver com a sorte que o destino poderia nos reservar; o dos medievais tinha a ver com o julgamento que poderia nos atingir no final dos tempos. O terror da liberdade tem sua fonte apenas em si mesmo. Ele não diz respeito a nada além da experiência de emancipação, ou seja, nossa autonomia legislativa.
Como é sabido, fazer a lei é gratificante para aquele que a faz. Por outro lado, a legislação pode ser severa quando é aplicada a você, às suas custas. O fato de (…) -
Figal (2007:150-152) – a composição estrutural da apresentação
14 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroA interpretação, a compreensão e o caráter daquilo que se encontra contraposto se co-pertencem. E somente o elemento próprio às coisas contrapostas que precisa ser interpretado; é só por meio da interpretação que ele se descerra como aquilo que ele é porque somente o conhecimento apresentador preserva a exterioridade de sua coisa. Ele conta com ela e a expõe; nisto reside a sua distinção em relação à abordagem ligada ao objeto. E se uma apresentação é compreendida, a diferença entre (…)
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Figal (2007:69-72) – transposição em Nietzsche
13 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro[…] algo também poderia ser de tal modo transformado no interior da transposição, que não poderíamos mais reconhecê-lo como aquilo que ele é. O único ponto de apoio para o fato de termos neste caso algo em comum com uma transposição seria o próprio processo de transposição. Sob esta pressuposição, Nietzsche generalizou o conceito de transposição e procurou compreender todo conhecimento e, para além do conhecimento, toda pretensa relação objetiva como uma transposição ou, como se diz em (…)
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Figal (2007:67-69) – apropriação e transposição
13 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroDe início, voltemos uma vez mais à apropriação: o lápis que se encontra sobre aquela mesa e que alguém segura para anotar um pensamento é apropriado — não no sentido de tomarmos posse dele, mas no sentido de que o usamos para fazer algo. Ele é reconhecido de uma maneira determinada: como algo para escrever. Este “algo como algo” — Heidegger o denomina em sua análise do utensílio o “como hermenêutico” — indica uma compreensão que, em verdade, é uma mediação, mas não uma transposição. Em (…)
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Marques Cabral (2014:268-280) – hierofania
13 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroO homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra como algo absolutamente diferente do profano. A fim de indicarmos o ato de manifestação do sagrado, propusemos o termo hierofania. Este termo é cômodo, pois não implica nenhuma precisão suplementar: exprime apenas o que está implicando no seu conteúdo etimológico, a saber, que algo de sagrado se nos revela. Poder-se-ia dizer que a história das religiões — desde as mais primitivas às mais elaboradas — é constituída por (…)
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Marques Cabral (2014:39-41) – a fé é um modo de existência do ser-aí humano
12 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro[…] ainda na primeira fase do seu pensamento, no escrito “Fenomenologia e teologia” [GA9], de 1927, Heidegger relaciona-se positivamente com a teologia cristã, mesmo que ainda preserve as características metodológicas ateias anteriormente citadas. O que importa é sobretudo caracterizar o modo de articulação da relação positiva entre teologia e fenomenologia. Assumindo primeiramente um viés desconstrutivo, em consonância com seu projeto destrutivo já firmado e tematizado em Ser e tempo, [ SZ (…)
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Marques Cabral (2014:37-39) – tematização do sagrado na obra de Heidegger
12 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroNão menos problemática é a tematização do sagrado na obra de Heidegger. Nas suas Interpretações fenomenológicas de Aristóteles [GA61], escrito de 1923, que antecipa diversos aspectos da analítica existencial de Ser e tempo, Heidegger afirma que “a filosofia é fundamentalmente ateia e compreende o que é”. [GA61:18] Essa afirmação não é aleatória, ela foi dita na primeira parte do texto, intitulada “Quadro da situação hermenêutica”, que delimita a proposta do escrito e caracteriza seu método. (…)