Agora aparece com clareza a diferença entre as duas formas de "saber", de que acima falamos. Existe uma consciência implícita, não-expressa, não-temática, não-tética, não-reflexiva, que consiste na simples presença a meu existir. Chama-se "consciência-conta", "consciência-prazer", "consciência-amor", "consciência-percepção", "consciência-ação", e assim por diante, sem ser a consciência de contar, de prazer, de amor, de percepção, de ação. Originalmente não há consciência de si, mas a (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
-
Luijpen (1973:88-91) – A consciência pré-reflexiva e o "irrefletido"
19 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro -
Luijpen (1973:49-51) – cientismo
19 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroNo parágrafo anterior mostramos que pode existir um modo de pensar materialista que não diga expressamente ser o homem uma coisa. O cientismo é uma forma camuflada de materialismo: no cientismo o sujeito nada significa, simplesmente. O materialismo, entretanto, evoca o espiritualismo; este vive do insucesso do materialismo, e parte da primazia do sujeito. Quem (com razão, aliás) afirma a prioridade do sujeito, corre, de resto, o risco de deixar degenerar seu parecer, fazendo as coisas (…)
-
Luijpen (1973:44-46) – O "cogito"
19 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroO caminho de um incontrastável ponto de partida para a "ciência admirável", que há de conter a verdade e a certeza, leva Descartes à necessidade da dúvida metódica. Tudo o que, de qualquer modo, pode ser sujeito a dúvidas, será posto entre parênteses, o que não quer dizer que Descartes seja cético ou agnóstico. Para ele só importa a verdade e certeza da "ciência admirável". A fim de encontrá-la, porém, precisa demolir primeiro, até os alicerces, suas "opiniões antigas", pois viu como era (…)
-
Luijpen (1973:34-37) – O materialismo como "destotalização da realidade"
19 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroA tentativa do materialismo de exprimir a realidade do ser do homem malogra, porque aduz só um aspecto da totalidade do ser humano, embora essencial. É, conforme uma expressão de Le Senne, uma espécie de "destotalização da realidade". O materialismo redunda num monismo para o qual na totalidade só existe um tipo de ser, a saber, o das coisas materiais. Até o homem é uma coisa e sua vida um encadeamento de processos.
Em que consiste expressamente essa "destotalização"? Em termos gerais, (…) -
Luijpen (1973:395-397) – Ser para Deus?
19 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroEntre os comentaristas de Heidegger, perdurou por longo tempo a incerteza quanto a saber-se se o filósofo, de acordo com seu sistema, deve ser chamado ateísta ou não. Sartre denomina-o representante do existencialismo ateu, mas não se dá ao trabalho de indicar as razões que o induziram a resolver uma questão que tanto preocupou a muitos comentadores. Porém, as obras de Heidegger posteriores ao Ser e Tempo mostram que Sartre não tem razão.
Neste ponto, Heidegger precisa defender-se contra (…) -
Zimmerman (1990:60-62) – A era do trabalhador
18 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroEmbora, às vezes, Jünger falasse como se a era do trabalhador fosse totalmente dedicada aos meios, em outras ocasiões ele reconhecia que essa era contém seu próprio objetivo: a dominação mundial pela raça mestra dos trabalhadores. No entanto, para atingir esse objetivo, foi necessário um período de instabilidade e niilismo:
Nosso mundo técnico não é uma área de possibilidades ilimitadas; ao contrário, ele possui um caráter embrionário que leva a uma maturidade predeterminada. Assim, nosso (…) -
Zimmerman (1990:57-59) – O conceito de Jünger da Gestalt do Trabalhador
18 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroEm O Trabalhador [Der Arbeiter], Jünger definiu esse novo tipo de humanidade, que foi compelida pela Gestalt do trabalhador a produzir dispositivos tecnológicos cada vez mais poderosos a serviço da dominação planetária. O que Jünger quis dizer com Gestalt não está totalmente claro. Em termos psicológicos, significa uma forma ou um formato que é mais do que a soma dos elementos perceptivos organizados por essa forma. Jünger muitas vezes permite que a palavra seja definida negativamente, por (…)
-
Zimmerman (2001:33-34) – Heidegger e Jünger
18 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroO mais importante desses modernistas reacionários foi Ernst Jünger. A descoberta dos seus escritos foi o terceiro factor que moldou a mudança da minha abordagem histórica e contextual ao conceito de tecnologia moderna de Heidegger. Enguanto Herf aborda brevemente quanto Heidegger é tributário de Jünger e de outros modernistas reacionários, eu analiso em pormenor essa tributação, enquanto ela se me afigura como crucial, tanto no concernente à compreensão da evolução da perspectiva de (…)
-
Don Ihde (1991) – Qualidades, matematização e mundo da vida
18 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroDe acordo com Husserl, o que era “óbvio” para Galileu era uma longa tradição de relação e aplicação da geometria antiga em uma aparência platônica, de modo que o mundo empírico pudesse ser matematizado com certa intuitividade — mas apenas até certo ponto. As medidas e correspondências parciais eram conhecidas desde a antiguidade (e revividas no Renascimento [20]). Assim, sem especificar mais as origens, as proporções entre comprimentos de cordas e sons (harmônicos) e entre formas (…)
-
Don Ihde (1991) – Praxis-percepção, um modelo fenomenológico de interpretação
18 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroO principal progenitor do movimento fenomenológico foi Edmund Husserl, cujas obras publicadas foram publicadas desde o início do século XX até 1936. Um leitor francês dele, especialmente com [17] relação às obras posteriores, foi Maurice Merleau-Ponty, que faleceu em 1961. Ambos voltaram sua atenção para o papel da percepção na ciência e ambos utilizaram uma versão do mundo da vida como uma ideia interpretativa.
A Crise de Husserl foi publicada em 1936, e nela é possível encontrar um (…)