A PROBLEMÁTICA DA “diferença ontológica”, ou da diferença entre o ser e o ente, sempre caracterizou o discurso filosófico. Ela, entretanto, foi tematizada recentemente por Heidegger em suas aulas intituladas Os problemas fundamentais da fenomenologia e Conceitos fundamentais, e aprofundada nas duas conferências que ele reuniu sob o título Identidade e diferença .
Descrita de um modo totalmente genérico , essa problemática considera que os entes (tudo aquilo que se apresenta em nossa (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
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Boutot (1987:40-43) – Platão e Aristóteles falham na questão do ser
27 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroVale a pena notar, no final desta análise da questão do ser em Platão, uma evolução na interpretação heideggeriana do pensamento platônico. Esta evolução, a que teremos de voltar, é, de fato, particularmente notória em relação à posição do problema do ser em Platão. Mas é também visível noutros lugares, e em particular através da interpretação da ideia platônica do Bem, da ἰδέα τοῦ ἀγαθοῦ, cuja transcendência é assimilada inicialmente por Heidegger à do Dasein, depois àquela, metafísica, da (…)
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Weidler (2018) – Sobre Scheler
26 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro[…] é uma observação comum que Heidegger manteve uma atitude positiva em relação a Scheler, especialmente depois da morte prematura de Scheler em 1928, que ensombrou o famoso encontro entre Heidegger e Ernst Cassirer em Davos no ano seguinte. De facto, examinar a presença póstuma de Scheler como um ponto de referência implícito durante esse encontro é uma boa forma de entrar nesta complexa constelação do entre-guerras. No entanto, o que é habitualmente ignorado na maior parte dos comentários (…)
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Grondin (2010:37-39) – compreensão prática
26 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroEssa compreensão epistemológica da compreensão como uma compreensão intelectual foi certamente abalada, se não minada, por Martin Heidegger, a quem Gadamer segue a esse respeito. No que pode ser chamado de uma noção mais "prática" de compreensão, Heidegger argumentou em Ser e Tempo (1927) que a compreensão designa menos um processo cognitivo (e, portanto, metodológico) do que um know-how, uma habilidade, uma capacidade, uma possibilidade de nossa existência. Ele segue o exemplo da linguagem (…)
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Fédier (2012:34-36) – as três questões de Kant
24 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroKant reúne a filosofia em torno de três questões: Was kann ich wissen? O que é que me é possível conhecer ?
Traduzida desta forma, esta questão não é outra senão a do limite do conhecimento, onde começa aquilo que me é impossível conhecer. Ora, o que me é impossível conhecer é tudo o que não tem o estatuto de objeto cognoscível. Esta primeira questão abre o campo para a primeira Crítica (Crítica da Razão Pura), na qual se estabelece que só pode haver conhecimento daquilo que se apresenta (…) -
Jean-Louis Chrétien (2014) – lembrança só é possível a partir do esquecimento
24 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro[…] Levinas retoma a ideia platônica de um tempo perdido que nunca será encontrado enquanto tal, e que só ele nos envia e nos destina, só ele nos dá o ser por vir. Este imemorial do envio, onde o que nos envia nos precede, é uma perda que funda o dom. Este esquecimento antes do esquecimento é profundamente diferente do esquecimento de si mesmo tal como Heidegger o medita, embora este último tenha também um carácter inicial. Tanto em Ser e Tempo como na sua conferência sobre os Problemas (…)
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Eric Nelson (2024) – Heidegger e o Taoismo
24 de novembro de 2024, por Cardoso de Castro[…] [Tomemos] a adequação e inadequação da análise da coisa e da natureza em Ser e Tempo. Concordo com a autocrítica posterior de Heidegger, segundo a qual esta obra seminal, brilhante e incompleta é excessivamente transcendental e pragmática, exigindo um passo mais radical em direção ao ser e à coisa, que só emergiu plenamente após a Segunda Guerra Mundial. Heideger mencionou, mas mal articulou, um “terceiro” “poder da natureza” mais primordial em Ser e Tempo (GA2: 70, 211) e “a natureza (…)
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Dastur (2018) – Heidegger e o pensamento não grego
24 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroConsiderando que Husserl não hesitou, na carta que escreveu em março de 1935 a Lucien Lévy-Bruhl, depois de ter lido A Mitologia Primitiva, livro que este acabara de publicar, em sublinhar o facto de os primitivos serem “sem história” (geschichtslos) e sem qualquer relação com o tempo, pelo que vivem em sociedades “estagnadas” e fechadas sobre si mesmas , Heidegger distingue entre história como realidade (Geschichte ) e história como discurso (Historie ) e sublinha o facto de o fundamento da (…)
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Dastur (2017) – o humano é o guardião a clareira e do Ereignis
24 de novembro de 2024, por Cardoso de CastroOra, o que caracteriza o Dasein, o que constitui a sua Grundbestimmung (não só a sua determinação fundamental, mas também o seu fundamental ser-em-concordância e destino), é estar aberto ao apelo, à reivindicação, à morada da presença: “Grundbestimmung des Daseins: Offen für den Anspruch der Anwesenheit” (GA89:ZS, 217). Uma tal abertura, Offenheit, caracteriza este domínio onde não prevalece nenhuma prova, o domínio de uma liberdade que deve ser entendida como “ser-livre e ser-aberto a uma (…)