(Scheler11973)
A meu ver, seria um grande erro sustentar que qualquer das versões pós-kantianas de ética não formal tenha refutado a doutrina kantiana. De fato, estou tão convencido disso que acredito que todas essas versões que tomam os valores não formais de “vida,” “bem-estar,” etc., como ponto de partida para argumentos éticos, só podem servir como exemplos do tipo de pressuposição cuja rejeição definitiva é precisamente o único mérito da filosofia prática de Kant. Pois, com poucas (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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A ideia de uma ética formal em si
2 de abril, por Cardoso de Castro -
Liberdade (Levinas)
2 de abril, por Cardoso de Castro(Levinas1988)
O primado da ontologia heideggeriana não assenta sobre o truísmo: «para conhecer o ente, é preciso ter compreendido o ser do ente». Afirmar a prioridade do ser em relação ao ente é já pronunciar-se sobre a essência da filosofia, subordinar a relação com alguém que é um ente (a relação ética) a uma relação com o ser do ente que, impessoal como é, permite o sequestro, a dominação do ente (a uma relação de saber), subordina a justiça à liberdade. Se a liberdade denota a maneira (…) -
O ser é inseparável da compreensão do ser
2 de abril, por Cardoso de Castro(Levinas1988)
A mediação fenomenológica serve-se de uma outra via em que o «imperialismo ontológico» é ainda mais visível. É o ser do ente que é o medium da verdade. A verdade que concerne ao ente supõe a abertura prévia do ser. Dizer que a verdade do ente tem a ver com a abertura do ser é dizer, em todo o caso, que a sua inteligibilidade não está ligada à nossa coincidência com ele, mas à nossa não-coincidência. O ente compreende-se na medida em que o pensamento o transcende, para o medir (…) -
O pensamento opera no "eu posso" do corpo
2 de abril, por Cardoso de Castro(Levinas1988)
A desconfiança em relação ao verbalismo desemboca no primado incontestável do pensamento racional relativamente a todas as operações antes da expressão, que inserem um pensamento numa linguagem como num sistema de signos ou o ligam a uma linguagem que preside à escolha dos signos. As pesquisas modernas da filosofia da linguagem tornaram familiar a ideia de uma solidariedade profunda entre o pensamento e a palavra. Merleau-Ponty, entre outros e melhor que outros, mostrou que o (…) -
A epifania do rosto
2 de abril, por Cardoso de Castro(Levinas1988)
Recordem-se os pontos relativos à significação. O facto primeiro da significação produz-se no rosto. Não que o rosto receba uma significação [239] em relação a qualquer coisa. O rosto significa por si próprio, a sua significação precede a Sinngebung, um comportamento significativo surge já à sua luz, espalha a luz onde se vê a luz. Não temos de o explicar porque, a partir dele, toda a explicação se inicia. Por outras palavras, a sociedade com Outrem, que marca o fim do (…) -
A essência do discurso é ética
2 de abril, por Cardoso de Castro(Levinas1988)
O discurso condiciona o pensamento, porque o primeiro inteligível não é um conceito, mas uma inteligência cuja exterioridade inviolável o rosto enuncia, ao proferir o «tu não cometerás assassínio». A essência do discurso é ética. Ao enunciar esta tese, rejeita-se o idealismo. -
A linguagem condiciona o pensamento
2 de abril, por Cardoso de Castro(Levinas1988)
A linguagem condiciona assim o funcionamento do pensamento racional: dá-lhe um começo no ser, uma primeira identidade de significação no rosto de quem fala, isto é, que se apresenta desfazendo sem cessar o equívoco da sua própria imagem, dos seus signos verbais. A linguagem condiciona o pensamento: não a linguagem na sua materialidade física, mas como uma atitude do Mesmo em relação a outrem, irredutível à representação de outrem, irredutível a uma consciência de…, pois se (…) -
A razão não pode falar a outra razão
2 de abril, por Cardoso de Castro(Levinas1988)
Se o face a face fundamenta a linguagem, se o rosto traz a primeira significação, implanta a própria significação no ser — a linguagem não apenas serve a razão, mas é a razão. A razão, no sentido de uma legalidade impessoal, não permite dar conta do discurso, porque absorve a pluralidade dos interlocutores. A razão, única como é, não pode falar a uma outra razão. Uma razão imanente a uma consciência individual pode, sem dúvida, conceber-se de uma maneira naturalista como (…) -
O rosto é uma presença viva
2 de abril, por Cardoso de Castro(Levinas1988)
A manifestação do καθ’ αυτό (ser do outro), em que o ser nos diz respeito sem se furtar e sem se trair, consiste para ele, não em ser desvelado, não em descobrir-se ao olhar que o tomaria por tema de interpretação e que teria uma posição absoluta dominando o objecto. A manifestação καθ ’αυτό consiste para o ser em dizer-se a nós, independentemente de toda a posição que teríamos tomado a seu respeito, em exprimir-se. Assim, contrariamente a todas as condições da visibilidade (…) -
A linguagem só diz a si mesma
2 de abril, por Cardoso de Castro(MP1945)
O gesto linguístico, como todos os outros, desenha ele mesmo o seu sentido. Primeiramente essa ideia surpreende, mas somos obrigados a chegar a ela se queremos compreender a origem da linguagem, problema sempre urgente embora psicólogos e linguistas concordem em recusá-lo em nome do saber positivo. Primeiramente parece impossível dar às palavras, assim como aos gestos, uma significação imanente, porque o gesto se limita a indicar uma certa relação entre o homem e o mundo sensível, (…)