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Santos O Que é Simbolica
domingo 20 de março de 2022
Todos os grandes fundadores de religião foram amados, compreendidos, porque falaram em símbolos, eterna linguagem criadora.
Usamos símbolos por deficiência, mas também por proficiência.
Com símbolos, expressamos o que não poderíamos fazer de outro modo, porque, com ele, transmitimos o intransmissível, como procede o nosso inconsciente, que, por não sabermos, nem querermos ouvi-lo, segreda-nos seus ímpetos, seus desejos e seus temores, através de símbolos. E usa-os ainda para burlar a nossa censura, as inibições que impomos, e o que temeríamos sequer desejar.
E toda a natureza, em sua linguagem muda, expressa se através de símbolos, que o artista sente e vive, que o filósofo interpreta, e o cientista traduz nas grandes leis que regem os fatos do acontecer cósmico.
E o símbolo surge na arte, na linguagem das linhas, dos volumes e das cores, das tonalidades, dos sons, das harmonias, do significado analógico dos termos e dos juízos, das intenções que nem sempre despontam.
E vêmo-lo nos templos e nas liturgias de todas as religiões, nos gestos de pavor e de ânsia dos túmulos e templos, como vêmo-lo no vôo esguio dos pássaros.
Falam-nos em símbolos a religião e a filosofia, a arte e a ciência, as coisas brutas e os seres vivos, os astros e os átomos, toda a gama universal do acontecer. Tudo indica, tudo aponta, tudo se refere a algo, que escapa aos nossos olhos, mas que nem sempre escapa aos nossos corações.
O símbolo é a linguagem universal do acontecer cósmico. E como poderíamos evitar que se formasse uma Simbólica?
Mas, que é Simbólica? É o estudo da gênese, desenvolvimento, vida e morte dos símbolos.
Justifica-se a Simbólica como disciplina filosófica, pois podemos considerar todas as coisas, no seu aparecer, na forma como se apresentam, como um apontar para algo ao qual elas se referem.
Nesse caso, o símbolo seria o modo de significar do ente, que sempre se refere a algo.
Símbolo é, portanto, uma subcategoria dos seres finitos, que apresentaria características similares à de valor. Seria uma das categorias intensistas, que não se devem confundir com as categorias extensistas da filosofia clássica.
Estas referem-se preferentemente aos modos extensistas de ser, enquanto as outras, como o símbolo, o valor, a tensão, etc., referem-se aos modos intensistas. SimbolicaN001 - Nota
São, para nós, categorias intensistas as seguintes:
- Símbolo - objeto da "Simbólica";
- Valor - objeto de "Axiologia";
- Tensão - objeto da "Teoria Geral das Tensões";
- Ethos - objeto da ".Ética" (o dever-ser, o sollen)
- Esthetos - objeto da "Estética".
- Haecceitas - Objeto da Henótica, disciplina que estuda a unicidade da unidade individual.
A justificação desta afirmativa surgirá no decorrer das nossas obras que estudam tais objetos.
É A SIMBÓLICA UMA SIMBOLOGIA?
Simbologia seria a ciência do símbolo. Poderíamos considerar a Simbólica com as características de uma verdadeira ciência.
Os escolásticos consideravam que, para caracterizar-se uma disciplina como ciência, deveria esta ter um triplo objeto material, formal-terminativo, e formal-motivo.
Como objeto material, temos todas as coisas finitas, reais ou ideais.
Como objeto formal-terminativo, que é a formalidade ou perfeição, que é considerada ou estudada pela ciência, temos a que tende à referência simbólica, ao simbolizado; em suma, a significabilidade dos seres finitos, reais-reais ou reais-ideais.
O objeto formal-motivo, que é o instrumento, pelo qual uma ciência considera o seu objeto formal, é, neste caso, o símbolo, o referente, enquanto tal.
As coisas, reais ou ideais, pertencem a várias ciências, mas por haver nelas significações a um terceiro (o simbolizado), apresentam um aspecto específico, que não é propriamente do âmbito das outras ciências.
A simbólica, portanto, terá de usar um método, que lhe seja peculiar.
O método de interpretar os significados dos símbolos só pode ser o dialético, que chamaremos de método dialético-simbólico, e que se funda, sobretudo, na analogia, como ainda veremos.
Neste caso, a simbólica é uma simbologia, e como disciplina filosófica procura a significabilidade dos símbolos referindo-se aos simbolizados, bem como o seu nexo e razão de ser.
A definição do símbolo, que veremos mais adiante, nos permitirá ampliar o âmbito do conceito da Simbologia como ciência filosófica, cujo objeto formal-terminativo é a significabilidade de todas as coisas, tanto no sentido de significante como de significado (simbolizabilidade).