5. POR. A preposição por (gr. di’autou) põe o Verbo em relação, não mais com o Absoluto divino, mas com a criação. Assume, em relação ao mundo, uma função de causa eficiente, segundo a terminologia escolástica. Ainda importa especificar bastante esta causalidade. Poder-se-ia inclinar, se não se está muito afetado pelo respeito à ortodoxia, para uma causalidade dita instrumental. O Verbo seria assim, para se servir de uma imagem que não é sem relação à tradição cristã, ao invés do «dedo» do (…)
Página inicial > Hermenêutica
Hermenêutica
-
Stanislas Breton (1996:10-11) – Verbo (Logos) com preposição «Por» (di’ autou)
20 de março de 2022, por Cardoso de Castro -
Agamben (IH:27) – experiência e conhecimento
18 de março de 2022, por Cardoso de Castro[tabby title="Burigo (excerto)"]
É nesta separação de experiência e ciência que devemos ver o sentido — nada abstruso, mas extremamente concreto — das disputas que dividiram os intérpretes do aristotelismo da antiguidade tardia e medieval a propósito da unicidade e da separação do intelecto e sua comunicação com os sujeitos da experiência. Inteligência (noûs) e alma (psyche) não são, de fato, para o pensamento antigo (e — pelo menos até São Tomás — também para o pensamento medieval), a (…) -
Agamben (UC:221-222) – vida
8 de fevereiro de 2022, por Cardoso de CastroUma genealogia do conceito de zoe deve começar pela constatação - de nenhum modo óbvia, inicialmente - de que na cultura ocidental “vida” não é uma noção médico-científica, mas um conceito filosófico-político. Os 57 tratados do Corpus hippocraticum, que reúnem os textos mais antigos da medicina grega, compostos entre os últimos decênios do século V e os primeiros do século IV a. C., ocupam, na edição Littré, dez volumes in quarto; mas um exame de Index hippocraticum mostra que o termo zoe (…)
-
Agamben (E:198-202) – Eros – herói – demônio
29 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroNão é fácil precisar em que momento o “demônio aéreo” de Epinómis, de Calcídio e de Pselo acaba identificado com o “herói” ressuscitado pelos antigos cultos populares. Segundo uma tradição que Diogenes Laércio faz remontar a Pitágoras, certamente os [198] heróis já apresentam todos os traços da demonicidade aérea: eles habitam no ar e agem sobre os homens inspirando-lhes sinais premonitórios da doença e da saúde . A identificação com o demônio aéreo é testemunhada por uma etimologia cuja (…)
-
Agamben (E:142-151) – Averróis e a noção de phantasia
27 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroNão nos surpreende, portanto, que um “tema” psicológico análogo — também nesse caso com algumas variações significativas — apareça na obra do pensador que mediou, talvez, mais do que qualquer outro, a leitura de Aristóteles para o século XIII e no qual, com razão, Dante vislumbrou o comentador por excelência do texto aristotélico: “Averroís, ehe l’ gran comento feo” [“Averróis, que fez o grande comentário”]. Na sua paráfrase do De senso et sensibilibus, ele resume o processo que vai da (…)
-
Agamben (E:138-142) – Avicena e a noção de phantasia
27 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroEm nosso exame da fantasmologia medieval, partimos de Avicena, não por ter sido o primeiro a nos oferecer uma formulação clara, mas porque a sua meticulosa classificação do “sentimento interior” exerceu influência tão profunda no que foi definido como “a revolução espiritual do século XIII”, a ponto de ainda ser possível vislumbrar suas pegadas em pleno humanismo. Além disso, em Avicena que, assim como Averróis, é também, e talvez [138] sobretudo, um médico (cujo Canone foi mantido como (…)
-
Agamben (1995:Intro) – bios e zoe
2 de dezembro de 2021, por Cardoso de Castro[tabby title="Henrique Burigo"]
Os gregos não possuíam um termo único para exprimir o que nós queremos dizer com a palavra vida. Serviam-se de dois termos, semântica e morfologicamente distintos, ainda que reportáveis a um étimo comum: zoe, que exprimia o simples fato de viver comum a todos os seres vivos (animais, homens ou deuses) e bios, que indicava a forma ou maneira de viver própria de um indivíduo ou de um grupo. Quando Platão, no Filebo, menciona três gêneros de vida e Aristóteles, (…) -
Agamben (HS:9-10) – bios e zoe
2 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroOs gregos não possuíam um termo único para exprimir o que nós queremos dizer com a palavra vida. Serviam-se de dois termos, semântica e morfologicamente distintos, ainda que reportáveis a um étimo comum: zoe, que exprimia o simples fato de viver comum a todos os seres vivos (animais, homens ou deuses) e bios, que indicava a forma ou maneira de viver própria de um indivíduo ou de um grupo. Quando Platão, no Filebo, menciona três gêneros de vida e Aristóteles, na Ethica nicomachea, distingue a (…)
-
Flusser (2004:49-51) – intelecto e dúvida
15 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroCertos exercícios do Ioga ultrapassam, em radicalidade, as meditações cartesianas. Revelam vivencialmente, não que penso, mas que tenho pensamentos. Posso, nesses exercícios, eliminar os pensamentos, mas continuarei sendo. Com efeito, o método cartesiano prova a existência de pensamentos, não do eu que pensa. Há uma fé humanista no “eu” que se infiltra, sub-repticiamente, no argumento cartesiano, sem jamais ser duvidada. Os exercícios do Ioga interessam, neste contexto, apenas enquanto (…)
-
Vilhauer (G1975:26-29) – método cartesiano de conhecimento
22 de fevereiro de 2021, por Cardoso de CastroVILHAUER, Monica. Gadamer’s ethics of play : hermeneutics and the other. London: Lexington Books, 2010, p. 26-29
Tradução
O MODELO CARTESIANO
Dualismo mente / corpo
O modelo cartesiano começa com um dualismo entre mente e corpo, que também se manifesta como uma dicotomia mente / mundo, sujeito / objeto, dentro / fora ou Eu / Isto. Nesta dicotomia, presume-se que o "eu", o sujeito humano ou mente, está fundamentalmente separado e se opõe a "isto", os objetos estranhos ou coisas do (…)