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Atlan: basear a ética na biologia?
sexta-feira 27 de dezembro de 2019
ATLAN, Henri. Entre o cristal e a fumaça: ensaio sobre a organização do ser vivo. Tr. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992, p. 235
Evidentemente, a questão será, não basear uma ética em novas teorias biológicas, mas utilizar essas teorias no que elas têm de ambíguo e contraditório para colocar o problema da ética em termos de vida e de morte, que, por sua vez, também são ambíguos e contraditórios; em outras palavras, não se trata de utilizar a teoria científica como um novo dogma de onde extraímos receitas morais, mas como uma fonte de novas interrogações que talvez permitam colocar melhor a questão da ética e, com isso, reencontrar interrogações que talvez atormentassem os antigos.
Mas, como falar em novas concepções sobre a vida e a morte, quando havíamos lembrado que já não se interroga a vida nos laboratórios, que só nos interessamos pela lógica da organização dos sistemas vivos? Ocorre que a lógica que descobrimos aí é uma lógica da contradição, onde desaparecem as antigas ideias muito nítidas sobre a vida e a morte, e onde aparece uma espécie de cooperação, aparentemente paradoxal, entre o que supúnhamos serem processos de vida, desenvolvimento e crescimento, de um lado, e o que julgávamos serem processos de morte, envelhecimento e desorganização, de outro. Bichat disse, certa vez: "A vida é o conjunto das funções que resistem à morte. Atualmente, tenderíamos mais a dizer que "a vida é o conjunto das funções capazes de utilizar a morte".
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